O Espírito Santo quer invadir o Rio Grande do Sul. Pelo menos as confecções que participam do Vitória Moda Show, encerrada na sexta-feira na capital capixaba. Sejam grifes conhecidas e tradicionais ou novas marcas, as empresas buscam representantes na região Sul, já outras pretendem expandir através de franquia.
Conhecida dos gaúchos, a Cobra D´agua, de Vila Velha (ES), lança agora o modelo de franquia. O objetivo é entrar em mercados onde a marca já é conhecida pelos consumidores. Cidades como Canoas, Caxias do Sul, Torres e Pelotas estão entre os planos da franqueadora. Em Pelotas, as negociações estão na fase final e o empreendedor busca um ponto para instalar a loja. Entre as vantagens, destaca o diretor da Cobra D´agua, Ademar Brumatti Jr., está a não cobrança de royalties neste primeiro ano e a possibilidade de troca de produtos em caso de baixa rotatividade na loja.
Questionado se a desaceleração da economia é preocupante, Brumatti se mostra otimista: pretende fechar 15 contratos até o final do ano. “Há sempre empreendedores em busca de boas oportunidades”, afirma. Mesmo que o primeiro quadrimestre tenha registrado apenas uma leve alta, o mês de julho trouxe resultados bem acima do esperado: crescimento de 22% sobre o mesmo mês de 2011. Assim, a expectativa é fechar 2012 com um faturamento 12% superior ao ano passado. Atualmente, a Cobra D´agua está presente em 12 mil pontos de vendas multimarcas no País. Franquias e multimarcas serão concorrentes? O fundador da empresa, Lucas Izoton, garante que não. “As franquias serão abertas em locais onde possam fortalecer a marca nas multimarcas, não concorrer”, explica Izoton.
Outra confecção que está de olho no mercado gaúcho é a Origens, dos sócios Rafael Mello de Miranda e Igor Sousa. Criada há dois anos, a marca jovem masculina pretende chegar ao mercado gaúcho na próxima coleção, conta Rafael, mas com uma proposta diferenciada. Por seu próprio nome, a Origens se propõe a resgatar valores e princípios de sustentabilidade e valorizar a cultura local. Para isso, montou um banco de dados de cada região onde atua e confecciona roupas que estampam aspectos culturais dessas regiões. Do Espírito Santo, há desenhos do Convento da Penha e da Ilha das Caieiras, por exemplo. Além disso, algumas camisetas são produzidas a partir de garrafas PET ou algodão orgânico e a maior parte do mobiliário da loja é de materiais reciclados. Presente em dez estados do Brasil através de representantes e, com uma loja própria, a Origens deve lançar o sistema de franquia até o final do ano.
Também a Konyk, que atua hoje em 15 estados, principalmente no Sudeste, Norte e Nordeste, quer ganhar espaço no Sul. O objetivo é buscar representantes e, futuramente, instalar lojas através do sistema de franquia, projeto que está em fase final de formatação. A Konyk possui, além de fábrica, 17 lojas exclusivas. Segundo a gerente comercial, Keyna de Sá, o grande diferencial são os preços da marca, que trabalha com moda casual masculina, e atende desde o infantil até o adulto. Para a coleção verão, os estilistas desenvolveram peças em tons pastéis, que traduzem para o universo masculino as tendências das passarelas.
Franquia flexível é a receita do We Club para ganhar mercado
Um sistema comercial de parceria. Assim se define o projeto de franchising da PW Brasil Export S/A, que lança o We Club e detém as marcas Vide Bula, Missbella, Vide Bula Jr. e Zoomarine. Projeto criado para cidades de porte médio do interior, o We Club tem como principal diferencial uma flexibilidade na relação franqueado/franqueador, sem cobrança de royalties e com possibilidade na interrupção do contrato a qualquer tempo. “Tem que ser bom para mim e para ele”, resume o empresário Paulo Vieira.
Pelo contrato, o lojista pode ofertar um mínimo de duas marcas do grupo, e optar pelos produtos que melhor se adaptem a seu perfil de clientes. Além do abastecimento semanal, o franqueado terá desconto diferenciado nas coleções e loja virtual com itens exclusivos.
A mudança no modelo de franquia adotado pelo grupo PW é resultado de uma experiência não muito bem-sucedida. Vieira conta que já trabalhou com o sistema tradicional, que prejudicou ambas as partes pelo engessamento de regras do contrato. Hoje, todas as lojas que operavam no sistema tradicional de franquia foram readquiridas. São 11 lojas, sendo dez no Brasil e uma no Panamá. Mesmo sem estar nos planos iniciais da PW, o Rio Grande do Sul é considerado estratégico. “Temos representantes no Rio Grande do Sul, mas avaliamos que o mercado está muito aquém do potencial”, avalia Vieira, que também é presidente da Câmara Setorial do Vestuário.
Diversidade atende a diferentes perfis e estilos de consumidores
A moda do Espírito Santo é plural. E é justamente essa diversidade que explica parte do sucesso das confecções locais. Além dos jeans, a moda é inspirada na praia, com roupas despojadas. Com estampas e cartela de cores variada, atende a diferentes perfis de consumidores. Segundo o presidente da Câmara Setorial da Indústria do Vestuário, Paulo Vieira, as marcas presentes no Vitória Moda Show traduzem bem a produção do Estado, mesmo que a maioria seja de micro e pequenas empresas.
A Zu.Com, de Vitória, trabalha com estampas exclusivas da artista plástica Taiza Ammar. Nesta coleção, a estilista Duda Astori diz que a inspiração veio da praia de Itaúnas, famosa pelas dunas, e está introduzindo tecidos mais leves e transparentes. “A ideia é uma roupa mais tropical”, conta. Com seis lojas próprias e show room, a Zu.Com trabalha também com multimarcas.
Identidade com criatividade. Esses dois conceitos resumem a proposta da Surreal, de Vitória, que tem na identidade o surrealismo de Salvador Dalí e a transgressão de Elsa Schiaparelli. A marca, que nasceu dentro da Faculdade de Belas Artes da Universidade Federal do Espírito Santo, hoje é das irmãs Vera Lúcia Colodetti, que se formou em artes, e Martha Elizabette Colodetti Albernaz, que é engenheira. Desde a criação, há 25 anos, a Surreal focou suas coleções na moda jovem e rock. A estilista Gabriela Cunha faz pesquisa de moda e traz as tendências para dentro da identidade. Caveiras, imagens de obras do mestre do surrealismo e estampas exclusivas fazem parte da coleção, que também reaproveita tecidos.