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Indústria

- Publicada em 27 de Setembro de 2011 às 00:00

Custos de produção ameaçam a indústria


ALESSANDRO SHINODA/FOLHAPRESS/JC
Jornal do Comércio
O Brasil ainda corre o risco de se desindustrializar, mesmo com a economia apresentando boas condições de reagir a um acirramento da crise econômica mundial, disseram os economistas que participaram da abertura do 8º Fórum de Economia, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. A desindustrialização é o processo pelo qual a produção local é substituída pelos importados, enfraquecendo a indústria nacional e afetando as contas externas.
O Brasil ainda corre o risco de se desindustrializar, mesmo com a economia apresentando boas condições de reagir a um acirramento da crise econômica mundial, disseram os economistas que participaram da abertura do 8º Fórum de Economia, promovido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em São Paulo. A desindustrialização é o processo pelo qual a produção local é substituída pelos importados, enfraquecendo a indústria nacional e afetando as contas externas.
Para Benjamin Steinbruch, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e presidente da Companhia Siderúrgia Nacional (CSN), a indústria brasileira sofre um grande risco de desindustrialização, não por incompetência da indústria, mas porque o País está muito caro. Ele disse que tem sido especialmente difícil para a indústria exportar. "Hoje, nenhum produto brasileiro industrial manufaturado tem condições de ser exportado, não por deficiência da indústria, mas por causa dos juros distorcidos, com carga fiscal absurda, salários irreais e atraso nas mudanças."
Steinbruch elogiou a decisão do BC em reduzir a taxa básica de juros, a Selic, antevendo os efeitos da crise econômica mundial na economia brasileira, decisão que foi tomada no final do mês passado. "Acho que o BC tomou uma atitude corajosa que poderia ter tomado muito antes. A verdade é que o fez, sob críticas, mas deve continuar fazendo", observou o vice-presidente da Fiesp, referindo-se à próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, marcada para outubro.
O empresário considera que o "Brasil nunca esteve tão bem, enquanto os outros (países) nunca estiveram tão mal". Steinbruch avalia que a economia brasileira é apoiada num modelo que prioriza emprego, renda, consumo e desenvolvimento e, atualmente, não se pode prescindir de nenhum desses fatores. "Estamos hoje sob ameaça severa de diminuição de atividade econômica e um eventual começo de diminuição do emprego, que quebraria essa corrente, o que seria muito prejudicial", disse Steinbruch.
Análise semelhante foi feita pelo presidente do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Pedro Luiz Barreiras Passos. Ele destacou que o "Brasil está muito melhor diante do cenário" de crise mundial, com a possível recessão e afundamento da economia norte-americana e com os problemas da União Europeia, e lembrou que a redução dos juros pode ajudar a diminuir os efeitos da crise aqui. "O BC fez uma redução expressiva de juros, antevendo e anunciando o que seria a crise internacional. Foi uma medida bastante acertada que pode ajudar a mitigar os efeitos da crise internacional no País e retomar uma trajetória de queda na taxa", disse.
No entanto, Passos enfatizou que o governo precisa ampliar esforços para melhorar a situação da indústria nacional, que "é crítica" pelo fato de vir perdendo competitividade. Para ele, o governo tem sido sensível ao apoiar indústria, mas ainda é necessário que se adote uma política mais consistente, de mais longo prazo e com melhor orientação de investimentos.
"O setor manufatureiro já não cresce há algum tempo. O problema continua grave (apesar das medidas tomadas pelo governo). Em médio prazo, não vejo como restabelecer a capacidade do produto manufaturado nacional concorrer com o produto produzido no exterior se não tiver, definitivamente, um forte incentivo à inovação, um aumento e um forte impulso à produtividade e uma ação consistente para redução de custos sistêmicos no País.
O Brasil é país muito caro. Precisamos trabalhar fortemente na redução de custos porque, senão, estamos diante de inevitável perda da indústria nacional", observou o presidente do Iedi.
Para o professor de economia da FGV e ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser Pereira, que coordena o fórum, a crise mundial pode afetar o Brasil, mas o país está preparado para enfrentá-la. "Pelo fato de estarmos em uma situação de reservas elevadas e com dívida pública em relação ao PIB baixa, acredito que a economia brasileira não será muito atingida. Deveremos continuar crescendo enquanto a Europa está em uma dificuldade muito grande."
Bresser destacou que esta não é a primeira crise financeira no mundo moderno. De acordo com o ex-ministro, a situação atual teve início com a crise da Bolsa de Nova Iorque, em 1987, e novas crises foram, então, se sucedendo, até 2008, com a quebra do banco de investimentos norte-americano Lehman Brothers. "Evidentemente a crise de 2008 não terminou", disse.

Delfim descarta possibilidade de crise cambial no País

O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto afirmou que não acredita que o Brasil vai passar por uma crise cambial. "Houve um movimento recente relativo à valorização internacional do dólar. O BC fez certo em prover liquidez ao mercado", comentou, depois de participar do 8º Fórum de Economia da Fundação Getúlio Vargas. "Câmbio flutuante é assim: num primeiro momento varia, mas depois se ajusta", destacou.
Para Delfim Netto, contudo, o "câmbio é um problema sério" que somente será resolvido quando a taxa de juro real interna for igual à registrada pela maioria dos países. O ex-ministro afirmou que o governo tem agido de forma correta ao ter reduzido a Selic, pois o Banco Central percebeu que a crise internacional tem efeitos muito sérios sobre o nível de atividade mundial, com impactos deflacionários. "Tombini está muito mais afinado com a realidade monetária do mundo do que todos os analistas financeiros", comentou, referindo-se ao presidente do BC, Alexandre Tombini.
Delfim Netto ironizou analistas que reclamavam da flutuação do câmbio quando a cotação estava em R$ 1,52, mas quando a taxa bateu em R$ 1,95, como ocorreu na semana passada, passaram a clamar pela intervenção "rápida" do BC. O ex-ministro não é favorável à apreciação excessiva do real ante o dólar, mas defende a ação do BC para que o mercado funcione sem fortes oscilações. "A volatilidade vai permanecer por um bom tempo", destacou, ao se referir que a crise dos EUA não vai acabar antes das eleições presidenciais de 2012 e na Europa os problemas também são muito graves.
Delfim Neto afirmou que a taxação de operações cambiais no mercado futuro é um instrumento importante para garantir segurança. Segundo ele, não foi essa medida que provou a desvalorização do real nos últimos dias. A real causa, disse, foi a valorização generalizada do dólar frente às outras moedas, devido às incertezas do cenário externo.
"O governo adquiriu um instrumento, vai conservá-lo e usá-lo quando necessário", disse, em referência à taxação das operações no mercado futuro. "É um novo instrumento que tem implicações importantes para o prover segurança para os mercados", completou o economista e ex-ministro.

BC demorou a agir para deter alta, afirmao presidente da CSN

O vice-presidente da Fiesp e presidente da CSN, Benjamin Steinbruch, disse que o Banco Central demorou a intervir para deter a forte alta do dólar nas últimas semanas. Segundo ele, o BC comprou muitos dólares quando a moeda estava em baixa, na faixa de R$ 1,50, e não pode titubear para vender a divisa quando ela está a R$ 1,90.
"Estou 100% fechado com o Tombini (presidente do Banco Central), mas o BC não pode demorar 48 horas para agir", disse na abertura do 8º Fórum de Economia da FGV. Após seguidas altas do dólar, o BC fez uma operação equivalente a vender dólares no mercado futuro na última quinta-feira, o que diminuiu o movimento de valorização da moeda americana.
Steinbruch afirmou que não considera que o aumento de impostos sobre os mais ricos "seja um modelo que resolva as coisas" no Brasil. A medida tem sido defendida por alguns ricos nos Estados Unidos e na França, como o americano Warren Buffet. Já para Steinbruch, a obrigação dos mais ricos é investir, gerar mais oportunidades, emprego e aumentar a renda das famílias.
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