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Davos

- Publicada em 28 de Janeiro de 2011 às 00:00

Stiglitz critica a alta da taxa Selic para combater a inflação


FABRICE COFFRINI/AFP/JC
Jornal do Comércio
Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, acha, como muitos presentes em Davos, que o Brasil vai bem. Mas, em entrevista, ele faz um alerta: o combate à inflação - sobretudo a que está sendo "importada" pelo aumento mundial no preço dos alimentos - não deve ser feita apenas subindo a taxa básica de juros. Isso porque essa elevação vai fazer com que pobres no Brasil, que já vêm sofrendo com a alta dos preços dos alimentos, ainda percam o emprego por causa dos juros. Stiglitz prevê o fim do dólar como moeda de reserva e se mostra mordaz na crítica ao seu país: segundo ele, os EUA têm um modelo falho e inspiram pouca confiança para liderar.
Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, acha, como muitos presentes em Davos, que o Brasil vai bem. Mas, em entrevista, ele faz um alerta: o combate à inflação - sobretudo a que está sendo "importada" pelo aumento mundial no preço dos alimentos - não deve ser feita apenas subindo a taxa básica de juros. Isso porque essa elevação vai fazer com que pobres no Brasil, que já vêm sofrendo com a alta dos preços dos alimentos, ainda percam o emprego por causa dos juros. Stiglitz prevê o fim do dólar como moeda de reserva e se mostra mordaz na crítica ao seu país: segundo ele, os EUA têm um modelo falho e inspiram pouca confiança para liderar.
Há um certo otimismo este ano. Alguns até apostam que a economia mundial voltará ao patamar pré-crise. O senhor concorda?
Joseph Stiglitz - A maioria das previsões é que o crescimento em 2011 será mais fraco que em 2010.
Tem havido problemas com previsões?
Stiglitz - Sempre houve. Parte do problema é que a maioria aqui é desproporcionalmente (representante) de multinacionais. Vivemos num mundo dividido, onde uma parte vai muito bem e outra vai mal. As pessoas estão se sentindo bem porque estavam muito doentes antes.
A economia mundial não está melhor?
Stiglitz -Saiu da UTI e está agora na sala de recuperação.
Há uma mudança global, com emergentes crescendo muito mais que os ricos. Como o senhor vê a evolução disso?
Stiglitz - Para mim, é o que há de mais estimulante. Há um novo equilíbrio do poder geopolítico, que é também fonte de incerteza e inquietação. O G-7 (grupo dos sete países mais ricos) inspirava certo conforto. Sentia-se que, em caso de problema, ele poderia ser resolvido, e os EUA exercitariam sua influência e liderança. Agora, há muito pouca confiança na liderança dos EUA.
A China não quer assumir essa liderança?
Stiglitz - O modelo americano se mostrou falho. A influência política das instituições financeiras ainda é muito grande, e is so reduz a confiança na democracia. Acho que o respeito pelo modelo americano diminuiu.
O fato de Brasil, Índia e China estarem obtendo uma maior parte do bolo não é bom?
Stiglitz - É muito positivo. Vai-se criar um mundo mais estável, mas o sujeito que era o líder - ou o brutamonte, conforme o prisma que se use - não está muito satisfeito (os EUA).
Quem está liderando, então?
Stiglitz - Ninguém. Talvez seja uma boa coisa não ter líder. Mas há ansiedade por causa disso.
Isso terá impacto na economia mundial?
Stiglitz - Indiretamente. Está claro que EUA e China estão numa guerra cambial. Não importa de que lado se esteja, não é um conflito saudável.
Mas China e EUA também não têm interesse em trocar tiros, porque um depende do outro. Isso não é positivo?
Stiglitz - É também um sinal de que não há cooperação. Suas visões do mundo são muito diferentes. Outro exemplo de reação é que o Brasil e outros países adotaram medidas para se proteger (da guerra cambial) e estão criticando fortemente a política monetária americana. Isso não acontecia antes. Agora vocês estão dizendo: vamos comandar nossas economias e não podemos mais contar com vocês (potências) se não levarem em conta as necessidades globais.
A longo prazo, o que isso pode significar para o dólar?
Stiglitz - Isso vai dar ímpeto para o fim do sistema de reservas dependente do dólar.
Nicolas Sarkozy, que preside o G-20 (grupo das maiores economias do planeta), disse esta semana que o dólar continuará predominante...
Stiglitz - Líderes políticos têm essa difícil tarefa: é preciso passar de um sistema de moeda única (dólar) para um novo, mas não se quer instabilidade. Num futuro próximo, o dólar continuará predominante, mas estamos no caminho da transição.
A nova presidente do Brasil herdou uma economia superaquecida. Como o senhor vê o risco de inflação no País?
Stiglitz - As pessoas têm de distinguir as fontes de inflação. Tem inflação importada, por exemplo, devido à alta dos preços de alimentos ou energia. Isso tem de ser levado em consideração, mas não se pode lidar com isso simplesmente através da elevação dos juros. O pobre vai sofrer com o aumento dos preços (dos alimentos). Fazê-lo perder o emprego (como consequência da alta de juros) não vai resolver o problema.
O que fazer com a economia superaquecida?
Stiglitz - É preciso tratar nas áreas onde ela está aquecida.
O governo está taxando o fluxo de capital.
Stiglitz - Isso faz sentido.
Como o senhor vê os emergentes a longo prazo? Na China já se fala em bolha imobiliária...
Stiglitz - Com tanto capital entrando, há risco de bolha. A grande lição da crise é que os mercados não se autocorrijem nem são estáveis. Acho que os emergentes conseguem passar bem por isso, e o Brasil fez um bom trabalho com a estabilização da economia. Mas ainda há desemprego. A questão é como se livrar das áreas superaquecidas e, ao mesmo tempo, expandir a economia onde é necessário. O que vocês devem fazer é pegar o dinheiro (que ganham) com o alto preço das commodities e investir na parte da economia que não está superaquecida e onde há desemprego.

França eleva pressão por regulação de commodities

A França aumentou a pressão por maior regulação no mercado de commodities. Ao liderar o G-20 neste ano, o presidente do país, Nicolas Sarkozy, colocou o tema da disparada dos preços dos alimentos e da energia em posição central da agenda. As primeiras discussões acontecem em 18 e 19 de fevereiro, na reunião de ministros de Finanças e presidente de bancos centrais do G-20, em Paris.
Depois de ter anunciado a agenda na semana passada, Sarkozy voltou ao tema ontem, durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos. Ele disse que a questão não é impedir que países produtores de alimentos, como o Brasil, se beneficiem da alta dos preços. "O que estou dizendo é: ei, tenha cuidado, se há um aumento exponencial dos preços, geralmente há uma queda exponencial dos preços (posteriormente)", afirmou durante discurso.
Ele defende um aperto regulatório no mercado de commodities para conter a especulação com alimentos e energia. "Precisamos de regulação porque isso significa transparência." Sarkozy citou o movimento no mercado de cacau no ano passado como exemplo de situação inaceitável. A tonelada do cacau disparou para a maior cotação desde 1977 em julho de 2010, quando o fundo de hedge Armajaro Holdings comprou quase todo o cacau disponível no mercado europeu.
O tema pode gerar controvérsia com os países produtores que se beneficiam da alta das matérias-primas, até porque a França mantém altos subsídios a seus agricultores. "Vai ser um jogo de forças", acredita o presidente da Embraer, Frederico Curado. "O Brasil tem todo o direito de defender sua posição, não podemos perder esse bom momento."
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