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CONJUNTURA

- Publicada em 18 de Novembro de 2010 às 00:00

País deve se proteger contra a guerra fiscal


Jornal do Comércio
"A situação externa é bem delicada. É melhor colocar as barbas de molho e tomarmos medidas para nos proteger." A frase dita pelo ex-ministro da Fazenda Delfim Netto sintetiza a avaliação dos economistas que participaram ontem de evento na Fecomercio-SP. O encontro debateu a atuação do Brasil na última reunião do G-20, na Coreia do Sul na semana passada. Os especialistas concluíram que na reunião do G-20 quase nada foi definido. Segundo eles, isso significa que a guerra cambial, liderada por EUA e China, deve se aprofundar no curto prazo.
"A situação externa é bem delicada. É melhor colocar as barbas de molho e tomarmos medidas para nos proteger." A frase dita pelo ex-ministro da Fazenda Delfim Netto sintetiza a avaliação dos economistas que participaram ontem de evento na Fecomercio-SP. O encontro debateu a atuação do Brasil na última reunião do G-20, na Coreia do Sul na semana passada. Os especialistas concluíram que na reunião do G-20 quase nada foi definido. Segundo eles, isso significa que a guerra cambial, liderada por EUA e China, deve se aprofundar no curto prazo.
"É preciso de certo banho de realismo", disse Delfim Netto, ao ressaltar que os problemas econômicos nos EUA são tão sérios que não há perspectiva de que a Casa Branca vá atenuar a política de desvalorização de sua moeda. O enfraquecimento do dólar norte-americano, segundo o presidente do Conselho de Planejamento Estratégico da Fecomercio, Paulo Rabello de Castro, é vital para que a administração Barack Obama tente reduzir o forte desemprego do país com o incremento das exportações. "A partir da crise (de 2008), foram perdidos 10 milhões de empregos norte-americanos", ressaltou Delfim Netto.
"Como os EUA precisam gerar por ano 1,5 milhão de novos postos para atender à população que ingressa no mercado de trabalho, isso significa que a economia daquele país precisa criar 600 mil empregos por mês, o que é o dobro do que era absorvido quando o PIB crescia 3,5%", disse Delfim Netto. Os EUA registraram uma queda do PIB de 2,6% em 2009 e deve apresentar uma expansão de 2,7% neste ano, de acordo com estimativa do banco JP Morgan.
Para o ex-diretor do BC Luiz Augusto Candiota, a reunião do G-20 não produziu nada. Ele destacou que não é possível tratar uma crise de emprego e comercial com uma guerra cambial. "Será uma luta de cada um por si", disse. "Os EUA querem dividir a conta (dos seus problemas) com o resto do mundo." Candiota destacou que o "vento de cauda" a favor que o Brasil captou até meados de 2008, com a forte expansão da economia mundial, certamente não será registrado nos próximos anos.
Segundo o ex-diretor do BC, a forte apreciação das commodities em geral apurada nos últimos meses é um fato que não tem respaldo na produção física destes produtos. Para ele, isto sugere que algo de errado pode surgir em algum momento com o mercado destes ativos. Na avaliação de Paulo Rabello de Castro, em função da dificuldade da retomada da economia mundial, os preços das commodities em geral estão sobrevalorizados entre 25% e 30%
Para o professor da PUC-SP Antonio Correa de Lacerda, como é inevitável o agravamento da guerra cambial internacional, o que pode aumentar as pressões por desindustrialização no País, o governo brasileiro deve adotar medidas para proteger a economia doméstica. "A principal delas é reduzir os juros", comentou. O juro real no Brasil está em 5,95% ao ano, apurado pelo critério ex-ante, enquanto é negativo nos EUA, Japão, zona do Euro e Japão.
Ao mesmo tempo, Lacerda defende que o governo da presidente eleita Dilma Rousseff adote um ajuste fiscal que possa permitir ao Banco Central a redução dos juros a partir do próximo ano. Segundo ele, se o governo diminuísse em R$ 36 bilhões as despesas de juros da dívida pública, que deve chegar a R$ 180 bilhões neste ano, isso poderia cortar o déficit nominal de 2% do PIB para 1% em 2011.

Delfim prevê juro de 2% até 2014

O ex-ministro da Fazenda Delfim Netto acredita que o governo da presidente eleita Dilma Rousseff vai baixar os juros reais para um patamar entre 2% e 3% ao ano até o final do seu mandato em 2014. "É bem provável que isso ocorra antes. Talvez em dois anos, o que seria um prazo que julgo ser mais adequado", profetizou. Segundo ele, é a redução dos juros reais que diminuirá a carga de capitais especulativos no Brasil em busca da alta rentabilidade e baixo risco, oferecidos especialmente pelos títulos públicos federais. "O ministro da Fazenda está certo em esperar para adotar novas medidas no câmbio", ressaltou.
Para Delfim Netto, a medida que será mais eficiente para diminuir apreciação do real ante o dólar é a queda expressiva dos juros reais. Na avaliação de Delfim Netto, se o governo da presidente eleita fortalecer o ajuste fiscal, para um patamar próximo a 3,3% do PIB no próximo ano, sem descontar investimentos do PAC, e ainda baixar os juros reais, o País "terá todas as condições de crescer entre 5% e 6% nos próximos anos." Delfim Netto destacou que muitas pessoas "subestimam em excesso" a capacidade administrativa da presidente eleita. "Dilma é competente e trabalhadora. Uma ordem que ela dá hoje, quatro dias depois estará sendo cobranda."

Mantega não vê necessidade de mais medidas

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, voltou a afirmar que as medidas que o governo adotou para conter a valorização excessiva do real estão fazendo efeito e disse não ver a necessidade de novas alterações no câmbio no momento. "A gente vai continuar avaliando. Mas, a qualquer momento, sabe como é... Também não é bom ficar mexendo toda hora no câmbio, vamos deixar ele se acomodar", afirmou o ministro da Fazenda.
Ele comentou ainda o pequeno recuo do dólar em relação ao real, depois de mais de uma semana de valorização da moeda norte-americana no mercado de câmbio brasileiro. "É uma queda insignificante, que está se mantendo num patamar razoável, é claro que influenciado pelo problema da Irlanda, pelo problema europeu", interpretou Mantega. "De qualquer forma, isso mostra que as medidas que temos tomado são eficazes e o real é uma das moedas que menos têm se valorizado frente ao dólar.
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