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Contas Externas

- Publicada em 23 de Março de 2010 às 00:00

Banco Central prevê déficit externo recorde em 2010


Wilson Dias/ABR/JC
Jornal do Comércio
Embalada pelo ritmo forte da atividade econômica, a conta-corrente do balanço de pagamentos brasileiro registrou em fevereiro saldo negativo de US$ 3,25 bilhões, valor recorde para o mês. Essa conta registra todas as transações de bens, serviços e rendas do Brasil com o exterior. Para março, com base nos dados disponíveis até ontem, o Banco Central já prevê déficit ainda maior: US$ 4 bilhões. Com a forte piora da conta-corrente nos últimos meses, o BC elevou em 22,5% sua projeção de saldo negativo em 2010, para US$ 49 bilhões. Se confirmado, este será o novo recorde da série, que tem início em 1947.

Embalada pelo ritmo forte da atividade econômica, a conta-corrente do balanço de pagamentos brasileiro registrou em fevereiro saldo negativo de US$ 3,25 bilhões, valor recorde para o mês. Essa conta registra todas as transações de bens, serviços e rendas do Brasil com o exterior. Para março, com base nos dados disponíveis até ontem, o Banco Central já prevê déficit ainda maior: US$ 4 bilhões. Com a forte piora da conta-corrente nos últimos meses, o BC elevou em 22,5% sua projeção de saldo negativo em 2010, para US$ 49 bilhões. Se confirmado, este será o novo recorde da série, que tem início em 1947.

Se a estimativa do BC estiver certa, neste ano o Investimento Estrangeiro Direto (IED), aquele voltado para a produção de bens e serviços, não será suficiente para cobrir o rombo na conta-corrente, o que não ocorre desde 2001. O BC prevê ingressos de US$ 45 bilhões em IED para 2010. Apesar do volume elevado, restarão ainda US$ 4 bilhões para fechar o buraco deixado pela saída de dólares na conta-corrente. O BC acredita que essa deficiência será suprida pela entrada de dólares para aplicações em ações e renda fixa ou por meio de empréstimos tomados por empresas brasileiras no exterior.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, disse não ter nenhuma preocupação com a perspectiva de financiamento do déficit em conta-corrente, já que há fontes suficientes de recursos externos para o Brasil além do IED. "A perspectiva é boa para a economia brasileira e isso atrai mais investimentos em ações e renda fixa", explicou Lopes, lembrando ainda que a busca de empréstimo no exterior por empresas brasileiras é um sinal positivo de que o mercado externo está aberto para companhias nacionais.

Segundo o executivo, além de haver financiamento suficiente para cobrir o déficit em conta-corrente, o Brasil está em uma situação bem menos vulnerável do que no passado porque tem reservas internacionais elevadas (eram US$ 243,7 bilhões no fim da semana passada). Ele lembrou que a média histórica desde os anos 1970 é de déficit externo representando mais de 50% das reservas. Ontem, no entanto, essa relação estava em 20%, mostrando maior solidez da economia.

A piora da projeção é resultado de uma expectativa de menor superávit comercial neste ano, cuja projeção de saldo positivo caiu de US$ 15 bilhões para US$ 10 bilhões. Essa menor contribuição do comércio exterior é esperada porque as importações devem crescer mais rapidamente que o previsto, já que a estimativa de compras de produtos do exterior para o Brasil subiu de US$ 155 bilhões para US$ 163 bilhões. Ao mesmo tempo, a estimativa para as exportações brasileiras em 2010 cresceu em ritmo menor, passando de US$ 170 bilhões para US$ 173 bilhões. Também piorou a projeção de déficit na conta de serviços e rendas, que passou de um resultado negativo de US$ 58,5 bilhões para US$ 62,5 bilhões. Entre os itens que devem contribuir para essa piora, a estimativa de remessas de lucros e dividendos aumentou de US$ 30,2 bilhões para US$ 32 bilhões.

A projeção de gastos com juros subiu de US$ 7,2 bilhões para US$ 8,3 bilhões. Ao mesmo tempo, a previsão de saldo negativo gerado pelas viagens internacionais cresceu de US$ 7 bilhões para US$ 7,5 bilhões. Já a estimativa do BC de transferências unilaterais correntes neste ano manteve-se em US$ 3,5 bilhões em ingressos ao País.

Bancos mudam posição no mercado cambial

Os dados do BC mostram que os bancos inverteram sua posição no mercado cambial nas últimas semanas. Em 18 de março, as instituições financeiras estavam vendidas em US$ 3,356 bilhões. No fim de fevereiro, os bancos estavam comprados em US$ 2,070 bilhões.

Parte da mudança da posição cambial pode ser explicada pelo fluxo cambial negativo, que registrou saída líquida de US$ 2,666 bilhões neste mês até a quinta-feira passada. Essa cifra é resultado, principalmente, da saída líquida de US$ 3,186 bilhões da conta financeira, no período, resultado de ingressos de US$ 13,376 bilhões e saídas de US$ 16,562 bilhões. Essa saída foi parcialmente compensada pelo ingresso líquido de US$ 520 milhões do segmento comercial. Nessa conta, o período registrou exportações de US$ 8,321 bilhões e importações de US$ 7,801 bilhões.

Além do fluxo cambial negativo em março, a mudança da posição dos bancos também foi resultado da forte atuação do Banco Central no mercado cambial à vista, onde foram adquiridos US$ 2,273 bilhões no mês até o dia 18. A cifra acumulada em cerca de três semanas é superior ao total adquirido em janeiro e fevereiro, quando as compras somaram US$ 2,058 bilhões.

China começa a investir em produção no País e estreia em lista de IED

A China deixou de ser apenas um fornecedor de mercadorias para começar a ser um investidor no mercado brasileiro. Em fevereiro, o gigante asiático foi a terceira maior fonte de investimento produtivo no Brasil, com US$ 354 milhões. Segundo relatório do Banco Central, essa foi a primeira vez que o capital chinês surgiu como fonte relevante de Investimento Estrangeiro Direto (IED). Até janeiro passado, o país sequer aparecia nesse ranking.

O ingresso dos dólares chineses reflete o fechamento do negócio entre a MMX, braço de mineração do grupo do empresário Eike Batista, e a siderúrgica Wuhan Iron & Steel (Wisco). Pelo negócio concluído em 26 de fevereiro, 21,5% das ações da companhia brasileira foram vendidas para os chineses. Mais que uma mera compra de parte do capital de uma empresa do Brasil, os chineses, ao celebrarem um contrato de 20 anos para compra de minério, dão mais um passo em sua estratégia de garantir suprimentos de matéria-prima para sua indústria exportadora.

Os dados do BC mostram também que a indústria voltou a liderar o investimento produtivo no Brasil, desbancando o setor de serviços. Em fevereiro, o segmento respondeu por US$ 937 milhões em IED, cerca de 32,9% do total que ingressou no País. Em relatório, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) observa que 75,8% do dinheiro destinado ao setor foi usado em um único setor, o de combustíveis. "Assim, o crescimento mais generalizado do investimento industrial, num contexto de aceleração do crescimento, ainda não deslanchou", reconhece o instituto.

O chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, informou também que o Investimento Brasileiro Direto (IBD), aquele realizado por companhias nacionais em outros países, somou US$ 4,18 bilhões em fevereiro, recorde histórico para o mês. No bimestre, a cifra atingiu US$ 5,42 bilhões, outra marca histórica. O forte resultado coincide com a finalização da compra da norte-americana Pilgrim's Pride pela brasileira JBS. Em fato relevante, o frigorífico afirma que o negócio envolveu US$ 800 milhões em dinheiro para a aquisição do controle acionário e o pagamento de US$ 2 bilhões em dívidas para retirar a empresa estrangeira da concordata. Com o bom desempenho recente do IBD, que reflete a volta do processo de internacionalização das empresas brasileiras interrompido pela crise internacional, o BC triplicou a previsão de investimento brasileiro no exterior em 2010, de US$ 5 bilhões para US$ 15 bilhões.

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