Cielo (ex-VisaNet) e Redecard se preparam para trabalhar em um ambiente com novos concorrentes de peso. Para enfrentar as empresas que passarão a atuar como credenciadoras, caso da parceria entre Santander e GetNet, as duas líderes do mercado apostam no lançamento de produtos e no relacionamento com bancos emissores para manter a atual base de estabelecimentos credenciados. Em comum, as duas empresas são controladas pelos grandes bancos do País. Bradesco e Banco do Brasil são os dois maiores acionistas da Cielo. Já o Itaú Unibanco detém o controle da Redecard.
Agregar novos serviços e produtos segmentados foi a forma encontrada pelas duas líderes, que juntas têm cerca de 90% do mercado, para evitar reduções nas margens operacionais. "Elas vão tentar se diferenciar e, assim, evitar discutir a questão do preço", avalia o consultor Boanerges Ramos Freire, especialista em serviços financeiros. A expectativa do mercado é de que as novas credenciadoras ofereçam aos estabelecimentos comerciais preços mais competitivos. Boanerges acredita que Cielo e Redecard tendem a não entrar nessa briga e sim investir em valor agregado para manter sua política de preços.
Mesmo com a entrada de novas empresas, a Redecard quer se manter na vanguarda no que se relaciona a lançamento de novos produtos. Durante a divulgação dos resultados do quarto trimestre, o diretor presidente Roberto Medeiros lembrou que a companhia foi a primeira a utilizar o celular como instrumento de pagamento com cartão e a ter plásticos por aproximação (que dispensam a máquina leitora e senha). Acrescentou ainda que novos produtos serão lançados em 2010, mas sem antecipar as novidades.
A Redecard aceita hoje 16 bandeiras diferentes, incluindo Mastercard, Diners e Aura, além de cartões de benefício e private label. Está também fazendo os últimos ajustes para aceitar os plásticos da norte-americana Discover e já negocia com bandeiras asiáticas que não estão presentes no Brasil visando aceitar esses cartões no futuro.
O consultor Boanerges avalia ainda que as duas líderes têm um "conforto relativo", já que as novas empresas levarão um tempo para conquistarem uma base de clientes significativa. Essas companhias contam ainda com os bancos controladores, que no passado foram importantes para o crescimento das bandeiras Visa e Mastercard no Brasil e que em um cenário de maior concorrência deverão fazer a diferença na captação de novos clientes (estabelecimentos comerciais). "O jogo está só começando. A concorrência vai ficar muito intensa", disse.
No modelo de credenciamento da Cielo e da Redecard, o acordo com o estabelecimento comercial pode ser fechado tanto pela equipe comercial dessas empresas ou pelos bancos parceiros. No caso da Cielo, por exemplo, as instituições financeiras respondem por cerca de 75% desse credenciamento, segundo informou o presidente da empresa. Na avaliação do executivo, com novos competidores, a Cielo aposta na distribuição própria e também na capilaridade de Banco do Brasil e Bradesco. "A distribuição e a presença física serão fundamentais nesse novo cenário", disse. Para ele, no futuro os dois bancos tendem a dar preferência à Cielo no momento de credenciar novos estabelecimentos.
Além do diferencial da inovação em produtos e de possuírem grandes bancos no bloco de controle, as duas empresas se beneficiam ainda de fatores conjunturais que favorecerão toda a indústria, tanto os atuais participantes como as novas companhias que devem entrar ao longo do ano. Em relatório, a analista da Link Mariana Taddeo lembra que o efeito da maior competição no mercado deve ocorrer nos próximos trimestres, mas avalia que há espaço para crescer. "Com o crescimento econômico, queda no desemprego e aumento da renda, o consumo deve se manter elevado, que combinado com o maior uso do plástico deve sustentar o crescimento do volume das operações com cartões", disse.