Celebrando o Dia da Consciência Negra, nesta quinta-feira (20), a Frente Negra Gaúcha (FNG) promove a segunda edição do Festival Zumbi Solidário, na quadra da Banda Saldanha (av. Padre Cacique, 1355). Com estimativa de receber cerca de 2 mil pessoas, o evento acontece a partir das 12h e se estende até as 24h, reunindo nomes da música local, com shows de Thiago Ribeiro & Amigos, Poetas Vivos, Negras em Canto, Pau Brasil e Produto Nacional, além do Baile Black comandado por Gê Powers & DJ Bieta. A festa ainda contará com uma atração nacional: a Banda Black Rio com participação especial de Carlos Dafé. A entrada é gratuita, mas requer a retirada prévia de ingressos pela plataforma Sympla e a doação de 1kg de alimento não perecível.
"Será um momento de comemoração, mas não podemos esquecer o objetivo da data. Foi na base de muita resistência que conseguimos a criação do feriado nacional que marca o Dia da Consciência Negra em 20 de novembro. Aliás, a celebração é pelo segundo ano desse marco no nosso País", afirma a presidente da FNG, Vanessa Mullet. A data que homenageia Zumbi dos Palmares e se contrapõe ao 13 de maio (Dia da Abolição da Escravatura) é um marco com raízes no próprio Rio Grande do Sul. Criado a partir do movimento de estudantes negros que fundaram o Grupo Palmares em 1971, tendo Oliveira Silveira como um de seus líderes, o Dia da Consciência Negra foi oficializado em âmbito nacional em 2011, por meio da Lei nº 12.519, e se tornou feriado nacional em 2023, com a aprovação da Lei nº 14.759.
"Ao promover o Festival, a FNG busca honrar e transmitir esse legado histórico, dando visibilidade às nossas potências, trazendo uma imagem positiva da nossa essência e daquilo que somos capazes de fazer coletivamente, e mostrando que 'tem preto no Sul', que tem cultura, empreendedorismo, artista, organização, competência e que podemos atuar em qualquer área", pontua Vanessa, destacando que a população preta e parda no Brasil é maioria e gira em torno de 21% no Rio Grande do Sul. Ao resumir a mensagem central do festival, ela destaca: "Sim, nós existimos, somos potentes e somos plurais e podemos ocupar todo e qualquer espaço".
A presidente da FNG observa, ainda, que o nome do evento nasceu de uma ação-piloto realizada no ano passado para arrecadar alimentos durante o período das enchentes no Estado. Assim como em 2024, a solidariedade segue sendo um ponto central desta edição, afirma Vanessa. "A meta é arrecadar, no mínimo, 1 tonelada de alimentos, que serão distribuídos a mais de cinco instituições parceiras da FNG, atuantes em diversas comunidades carentes da Capital e Região Metropolitana", sinaliza.
"Nossas comunidades quilombolas e periféricas ainda são muito carentes, e levar essa solidariedade é importante; mas o Festival também pretende se firmar como um marco da representação dos artistas negros no Estado, porque estamos cansados de cumprir cotas", ressalta a dirigente. Segundo ela, a escolha dos artistas que integram a programação do Festival busca reforçar esse compromisso. A curadoria da programação, feita em conjunto com a Carrasco Produções, priorizou nomes cuja arte se manifesta como de resistência, protesto e reflexão.
Ainda conforme Vanessa, a realização do evento – contemplado pelo Pró-Cultura da Sedac/RS através da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (edital nº 32/2024 - Música), com gestão cultural da Carrasco Produções – contribui diretamente para os quatro pilares de atuação da Frente Negra Gaúcha: cultura, saúde, educação e formação política. "Quando levamos cultura, levamos acesso à educação, ao lazer, que é um direito. E por meio da cultura também desenvolvemos novos interesses e possibilidades para nossas comunidades", avalia.
Além dos shows, o Festival Zumbi Solidário contará com uma feira de afroempreendedores e empresários nas áreas de culinária, vestuário, artesanato, bijuterias e joias. "Queremos, com isso, fomentar a economia local e gerar renda para a comunidade. Quanto mais este evento crescer, maior será o impacto na comunidade e também será a geração de emprego, de renda, de benefícios na área de serviços", reforça a presidente da associação civil sem fins lucrativos, criada em 2019 com a finalidade de fomentar a conscientização e a promoção de pessoas negras e do seu potencial, através da formação e da representação política nos diferentes espaços de poder para redução das desigualdades raciais e sociais.
"Ao oferecer um evento de grande porte e com atrações nacionais de forma gratuita, a FNG cumpre sua missão de impulsionar a acessibilidade e a ocupação de espaços", observa Vanessa. "Na sociedade em que vivemos hoje, onde tudo é dinheiro, tudo exige deslocamento, acesso, e tudo é monetizado, poder ofertar cultura e acesso a lazer gratuito é importante, principalmente para a comunidade periférica", emenda. A dirigente da FNG diz que a associação segue em busca de apoiadores, para ampliar a qualidade do evento.