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Publicada em 16 de Novembro de 2025 às 17:07

Com presidência compartilhada, Bienal projeta presença o ano todo e foco no educativo

A economista Maria Fernanda Santin e arquiteto Márcio Carvalho assumem o comando da Fundação Bienal do Mercosul no modelo inédito de copresidência

A economista Maria Fernanda Santin e arquiteto Márcio Carvalho assumem o comando da Fundação Bienal do Mercosul no modelo inédito de copresidência

EVANDRO OLIVEIRA/JC
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Amanda Flora
Amanda Flora
A nova gestão da Fundação Bienal do Mercosul tomou posse na última semana para um ciclo de três anos — até 2028. Pela primeira vez, a instituição será gerida no modelo de copresidência, pela economista Maria Fernanda Santin e o arquiteto Márcio Carvalho. Os dois, que já atuaram juntos em outros projetos, voltam a fazer parceria com o objetivo principal de consolidar a Bienal como uma plataforma de arte contemporânea de vanguarda na América do Sul, para além do evento bianual. 
A nova gestão da Fundação Bienal do Mercosul tomou posse na última semana para um ciclo de três anos — até 2028. Pela primeira vez, a instituição será gerida no modelo de copresidência, pela economista Maria Fernanda Santin e o arquiteto Márcio Carvalho. Os dois, que já atuaram juntos em outros projetos, voltam a fazer parceria com o objetivo principal de consolidar a Bienal como uma plataforma de arte contemporânea de vanguarda na América do Sul, para além do evento bianual. 
A dupla projeta uma gestão colaborativa e consensual para tornar a Fundação autossustentável e forte a longo prazo. A estratégia é dividir a gestão inicial em três eixos: Identidade Territorial, Agenda Cultural e Educativo Permanente. O Jornal do Comércio conversou com os novos diretores sobre os objetivos e ações da gestão compartilhada, que promete manter a Fundação ativa e visível nos 365 dias do ano. 
Jornal do Comércio — Essa é a primeira vez que a Fundação Bienal do Mercosul terá uma gestão dupla. Por que vocês decidiram dividir a presidência? 
Márcio Carvalho — Tivemos uma experiência muito boa na Associação de Amigos do Museu de Arte Contemporânea. De alguma forma, esse nosso modo de pensar – cada um trazendo sua visão de mundo, suas referências e formações – nutriu a vontade dessa simbiose. Abrimos mão de uma gestão individual em prol de um coletivo formado por duas cabeças pensando como uma. Não é divisão de responsabilidades, é fusão de ideias: toda decisão por consenso. Essa busca pelo consenso começa na presidência, se expande para a diretoria e para os parceiros. Esse é o grande desejo da nossa gestão: governar por consenso, e não por decreto.
JC — E como vocês vão organizar as demandas de trabalho, já que dividem o mesmo posto? Um vai cuidar mais do social, o outro mais da conexão?
Maria Fernanda Santin — Nossa ideia é discutir e tomar a maior parte das decisões de forma compartilhada. Claro que, em algum momento, haverá temas em que eu tenho mais expertise e outros em que o Márcio tem mais domínio. Nesses casos, podemos assumir projetos de forma mais individualizada — mas sempre buscando consenso. Não há disputa, há complementaridade. Já trabalhamos juntos há seis anos, nos conhecemos, sabemos como cada um reage. Isso facilita muito. 
JC — Identidade territorial, fortalecimento do calendário cultural e educativo permanente, estes foram os eixos principais que vocês escolheram. Por que dividir o trabalho a partir desses norteadores?
Santin — Viemos de um processo de muita escuta. Uma das conclusões foi que a Bienal só existia publicamente no momento da grande mostra. Queremos que a Fundação esteja viva os 365 dias do ano — e o educativo continuado é o caminho mais sólido para isso. Durante a grande mostra, formamos um time muito potente de arte-educadores. Quando a Bienal desmonta, perdemos esse conhecimento, perdemos essas pessoas. Com um educativo permanente, conseguimos manter e fortalecer esse capital humano.
JC — E como está o calendário da Bienal? Podes adiantar para o leitor o que a gestão planeja?
Carvalho — A Bienal tradicionalmente ocorre em anos pares, mas, por causa das enchentes, foi deslocada para 2025. Queremos retornar ao ano par e, por unanimidade do Conselho, postergamos a próxima para 2028. Até lá, planejamos o projeto “30 + 30”, em 2027 — seminário e mostra sobre a história e o futuro da Fundação, reunindo gestores, curadores, especialistas. Uma espécie de cápsula do tempo que guiará os próximos 30 anos. Também estamos olhando para parcerias para ações no entremeio do calendário — como Portas para a Arte, Arte no Prato, arte urbana e transversalidade com teatro e música. Por isso criamos a diretoria de transversalidade.
JC — E como vocês veem o papel da Bienal na reconstrução da cultura gaúcha após a tragédia climática de 2024?
Santin — A 13ª Bienal aconteceu logo depois da pandemia e já foi uma grande festa por permitir que as pessoas voltassem a circular. Mas as enchentes, na minha opinião, foram ainda mais graves. Na pandemia você não perdeu seu capital; nas enchentes, sim. Quando as pessoas foram à Bienal, sentiram um respiro, uma possibilidade de leveza. Um movimento artístico que tomou Porto Alegre inteira, com 18 espaços, alguns deles na periferia, levando arte também a quem foi mais afetado. Já a 14ª Bienal teve 850 mil visitações e 25 mil alunos, maioria de escolas públicas, atendidos pelos programas educativos. Ao longo de 30 anos, foram mais de 8 milhões de pessoas. Isso mostra uma sociedade que quer pertencer e circular.
JC — A gestão segue até o fim de 2028. Que marca gostariam de deixar?
Santin — Para mim, o mais importante é deixar uma Fundação forte, autossustentável, com recursos e estrutura para existir plenamente 365 dias por ano.
Carvalho — Nossas escutas nos levaram a uma pergunta central: como a Fundação Bienal do Mercosul pode se fortalecer, enquanto fundação e enquanto mostra, para levar ao maior público possível um senso de identidade latino-americana e mercosulina, a partir de Porto Alegre? Se deixarmos uma Fundação forte, capaz de expressar e fortalecer essa identidade por meio das artes visuais, acho que teremos cumprido um legado importante para as próximas gestões e gerações.
 

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