Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 11 de Novembro de 2025 às 13:47

Nova peça de Julio Conte propõe mergulho na humanidade de Erico Verissimo

Criado a convite do Multipalco Eva Sopher, novo espetáculo de Julio Conte simula um encontro fictício entre o célebre autor gaúcho e a escritora Clarice Lispector

Criado a convite do Multipalco Eva Sopher, novo espetáculo de Julio Conte simula um encontro fictício entre o célebre autor gaúcho e a escritora Clarice Lispector

Fernando Pires/Divulgação/JC
Compartilhe:
Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
A celebração dos 120 anos de Erico Verissimo será marcada por uma abordagem singular na cena gaúcha, com a estreia do espetáculo A hora de Erico, assinada pelo dramaturgo e diretor Julio Conte. Criada a convite do Multipalco Eva Sopher, para integrar a programação do Festival Legado (realizado, em homenagem ao escritor, pela Fundação Teatro São Pedro em parceria com a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e a Unimed/RS), a peça se distancia de uma biografia linear de Verissimo e propõe um encontro fictício entre ele e a escritora Clarice Lispector. A sessão acontece às 20h desta quarta-feira (12), no Teatro Simões Lopes Neto (Rua Riachuelo, 1089) e os ingressos podem ser adquiridos pela plataforma Sympla – ou a partir das 18h, na bilheteria do Multipalco Eva Sopher –, a preços populares.
A celebração dos 120 anos de Erico Verissimo será marcada por uma abordagem singular na cena gaúcha, com a estreia do espetáculo A hora de Erico, assinada pelo dramaturgo e diretor Julio Conte. Criada a convite do Multipalco Eva Sopher, para integrar a programação do Festival Legado (realizado, em homenagem ao escritor, pela Fundação Teatro São Pedro em parceria com a Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul e a Unimed/RS), a peça se distancia de uma biografia linear de Verissimo e propõe um encontro fictício entre ele e a escritora Clarice Lispector. A sessão acontece às 20h desta quarta-feira (12), no Teatro Simões Lopes Neto (Rua Riachuelo, 1089) e os ingressos podem ser adquiridos pela plataforma Sympla – ou a partir das 18h, na bilheteria do Multipalco Eva Sopher –, a preços populares.
Julio Conte relata que a liberdade total concedida para a criação do texto a partir do convite do Multipalco representou um desafio, especialmente diante da vasta obra de Verissimo. "Inicialmente, fiquei angustiado", confessa o dramaturgo e diretor, ressaltando a responsabilidade da missão. Ele conta que buscou referências que iam além da obra já filmada e adaptada do escritor para poder apresentar algo novo sobre a vida de Verissimo. Nesse processo, encontrou uma pista fundamental nas biografias do autor e no livro Solo de clarineta: a relação do escritor com o pai, Sebastião Verissimo. "Eles tinham uma relação tumultuada; então, como eu queria algo que se concentrasse em aspectos menos explorados da vida de Erico, comecei a trabalhar sobre isso e inseri a figura de Clarice na trama, para mediar um acerto de contas imaginário entre pai e filho, que conduz Erico do céu ao inferno, para enfrentar seus demônios", comenta. "Ela delicadamente, poeticamente, leva Erico até esse encontro com o pai dele, nesse inferno pessoal. Me interessou muito a história do Erico humano", emenda.
Conte destaca que o formato inusitado da dramaturgia também evoca a relação de amizade, admiração e "certa rivalidade" entre a dupla de autores literários, uma vez que cada um possuía um estilo próprio e inovador de escrever, "o que gerava um ambiente de estímulo e desafio intelectual". O diretor gaúcho explica que o título do espetáculo, uma alusão ao romance A hora da estrela, de Clarice Lispector, é a conexão central para o tom da montagem, que explora o diálogo entre essas duas figuras que representam polos distintos da literatura: Erico é mais razão e Clarice é pura intuição. "Escolhi a Clarice porque ela tem uma poesia que dialoga de uma maneira muito transversa com o texto do Erico", sinaliza o dramaturgo.
De acordo com o autor do espetáculo, a função dramática de Clarice é justamente atuar como uma "analista poética", guiando Erico em uma jornada que o força a revisitar memórias, desde a infância até momentos com a esposa e a própria Clarice, sua amiga pessoal. "Assim como Beatriz e Virgílio guiaram Dante na Divina Comédia, nesta peça a Clarice leva Erico, em uma viagem onde ele pode resolver questões pendentes com o pai." A história da peça se constrói em torno de cenas reais da vida de Verissimo, descritas por ele em parte de sua obra. O tema central é a incomunicabilidade, destaca Conte. "Para se ter uma ideia do conflito que ele teve em vida com Sebastião, certa vez ele escreveu uma carta ao pai, que o obrigou a rasgá-la na sua frente. A comunicação não funcionava entre eles."

A hora de Erico tem Marcello Crawshaw (Erico), Karine Paz (Clarice) e Heitor Schmidt (Sebastião) no elenco, e ainda conta com codireção de Marcelo Restori, criação de luz de Veridiana Matias e cenografia de Luiz Marasca. "O Restori assumiu a forma do espetáculo, introduzindo um viés mais físico e expressivo, mais artaudiano (abordagem cênica inspirada nas teorias de Antonin Artaud, especialmente seu conceito de Teatro da Crueldade). Nossas linhas diferentes de dramaturgia se entrelaçam", pontua Conte. "Já a cenografia do Luiz e a luz da Veridiana buscam criar uma atmosfera de muitas nuvens e sombras, que remete à Caverna de Platão e a mitos gregos como Édipo. O cenário simboliza um frenesi de lembranças, refletindo passado, presente e futuro acontecendo ao mesmo tempo", define o dramaturgo e diretor.

Apesar do pouco tempo de ensaio (o processo desde o convite à estreia durou cerca de 40 dias), Conte destaca a dedicação do elenco e o resultado revelador da montagem. "Entrar numa aventura dessas aos 70 anos de idade foi um grande presente de vida. Fazer um trabalho dessa intensidade e dessa importância, e participar disso é poder entrar dentro de um mundo, marcando um lugar na história de uma forma muito boa", concluiu o artista, ao se referir ao convite para a estreia da peça no Festival Legado.


Notícias relacionadas