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Publicada em 05 de Novembro de 2025 às 18:14

Festival Palco Indígena transforma Porto Alegre em território cênico ancestral

Palco Indígena ocupa teatros, aldeias e a Redenção com espetáculos, danças e performances de artistas indígenas de todo o País

Palco Indígena ocupa teatros, aldeias e a Redenção com espetáculos, danças e performances de artistas indígenas de todo o País

João Maria/Divulgação/JC
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Amanda Flora
Amanda Flora
O palco como espaço de criar e desconstruir imaginários. É assim que Geórgia Macedo, antropóloga, artista cênica e integrante da Produtora Cultural Tela Indígena, define a motivação para realizar o I Festival Palco Indígena, que começa nesta quinta-feira e segue até domingo em diversos espaços de Porto Alegre, com entrada franca. A programação reúne espetáculos de dança e teatro, oficinas e rodas de conversa protagonizados exclusivamente por artistas indígenas de diferentes territórios do país.
O palco como espaço de criar e desconstruir imaginários. É assim que Geórgia Macedo, antropóloga, artista cênica e integrante da Produtora Cultural Tela Indígena, define a motivação para realizar o I Festival Palco Indígena, que começa nesta quinta-feira e segue até domingo em diversos espaços de Porto Alegre, com entrada franca. A programação reúne espetáculos de dança e teatro, oficinas e rodas de conversa protagonizados exclusivamente por artistas indígenas de diferentes territórios do país.
A iniciativa nasce da trajetória da produtora Tela Indígena, criada em 2016 e dedicada, inicialmente, ao audiovisual. "Começamos exibindo filmes de realizadores indígenas, fazendo mostras, conhecendo muitos artistas e entendendo quais eram suas vontades e desejos criativos", conta Geórgia. O festival surge desse processo de aproximação com artistas de diferentes linguagens e da vontade de levar ao teatro a mesma escuta que o grupo vinha desenvolvendo no cinema.
Geórgia explica que a convivência com artistas indígenas que trabalham com teatro e performance pesou na decisão do pioneirismo do festival. "Com o espetáculo Água Redonda e Comprida, que abre o festival, eu comecei a conhecer artistas que não estão no audiovisual, mas no teatro e na dança contemporânea. Surgiu então a ideia: por que não trazer esses trabalhos para Porto Alegre e pensar as artes cênicas de forma descentralizada?", questiona. 
Essa descentralização se traduz em uma programação que ocupa o Teatro Renascença, territórios indígenas da cidade, como o Tekoa Anhetenguá, na Lomba do Pinheiro, e a Retomada Gãh Ré, no Morro Santana, e o Parque da Redenção. "Afinal, toda a cidade é indígena, e toda a cidade pode ser palco", afirma.
Ao falar sobre o processo de curadoria, Geórgia reconhece que foi um desafio selecionar as atrações e pensar em produções que pudessem dialogar com diferentes espaços. "Nem todas as produções estão adaptadas para contextos diversos como a rua. Isso orientou as escolhas. Queríamos atingir tanto o público indígena quanto o não indígena. Inclusive, quem estiver passando na Redenção nem imagina que vai virar espectador."
A programação inclui o grupo Teko Guarani, da Tekoa Anhetenguá, o espetáculo Água Redonda e Comprida, com narrativas kaingang sobre as águas, o coletivo Flecha Lançada, do Ceará, com Ané das Pedras, e o solo Ser-Huma-Nós, da artista Lilly Baniwa, além da performance Imedu/Aredu em Transito, da artista e antropóloga Kiga Boé, do povo Bororo, do Mato Grosso. 
A abertura será no Teatro Renascença, na quinta-feira, com a apresentação de dança do grupo Guarani e o espetáculo Água Redonda e Comprida. No dia seguinte, o festival leva ao Departamento de Artes Dramáticas da Ufrgs uma roda de conversa com as artistas Lilly Baniwa (AM), Kiga Boé (MT) e Angélica Kaingang (RS). A programação segue no sábado e domingo nos territórios indígenas e na Redenção, com espetáculos, oficinas e apresentações de canto e dança Kaingang.
Perguntada sobre a importância de realizar um festival como esse em Porto Alegre, Geórgia reflete sobre o papel simbólico da arte. "O palco é um local de formar imagens. Uma oportunidade de artistas indígenas se representarem da forma como querem ser vistos. Ainda se reproduzem muitos estereótipos, como se não houvesse mais indígenas no Rio Grande do Sul". Ela cita as palavras da orientadora cênica Angélica Kaingang, que fala sobre a possibilidade de "reflorestar o palco". "Mesmo com grandes construções sobre o território, esses corpos indígenas podem reflorestar os espaços com suas narrativas, som, luz e presença cênica."
Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público, com retirada de ingressos uma hora antes no local da apresentação. "É só chegar. Queremos que as pessoas prestigiem os artistas e conheçam os territórios indígenas da cidade com respeito", reforça Geórgia. Para ela, o festival também é um convite à escuta e uma oportunidade de aprendizado sobre a presença indígena em Porto Alegre. "Muita gente passa na frente de uma aldeia sem saber que ali existe toda uma sociedade", finaliza.
 
Programação do I Festival Palco Indígena 


Quinta-feira (06/11) 
19h – Abertura com apresentação de dança com Grupo Teko Guarani 
Criado em meio à luta pelo direito ao território, o grupo Teko Guarani, da Tekoa Anhetengua, traz a força da música sagrada, evocando o espírito da terra, da mata, das águas e das árvores frutíferas, através de instrumentos musicais, como o Mba’epu (violão), o Rave (violino) e o Mbaraka Mirim (chocalho).
20h – Espetáculo de dança Água redonda e comprida 
Por meio de narrativas coreográficas, iluminação, sonoplastia e um cenário que se transforma ao longo da peça, o espetáculo mostra o universo das águas desde a cosmovisão Kaingang. Estreando em cena as bailarinas Geórgia Macedo e Nayane Gakre, a apresentação tem orientação cênica, voz e narrativas de Iracema Ga Teh e Angélica Kaingang.

Local das atrações: Saguão e Teatro Renascença (Av. Erico Verissimo, 307), respectivamente 
Sexta-feira (07/11)
10h - Roda de conversa com as artistas indígenas Lilly Baniwa (AM), Kiga Boe (MT) e Angélica Kaingang (RS) 
O encontro propõe um diálogo aberto entre as artistas e o público, refletindo sobre o que significa retomar os palcos e a cidade como artistas indígenas. Será um espaço para compartilhar experiências, trajetórias e memórias que fazem das artes cênicas espaço de resistência, sonhos e ancestralidade.
Local: Departamento de Artes Dramáticas, da Ufrgs, na Sala Alziro Azevedo (Av. Sen. Salgado Filho, 340)

17h - Espetáculo Ané das pedras
Na língua do povo kariri, “ané” significa sonho vivo. Para eles, as pedras são seres vivos que sentem e falam: em tempos difíceis, vão até o terreiro, colhem uma pedra, conversam com ela e a devolvem à natureza. Esta obra é um ritual de plantação de pedra, como quem conta um sonho. Com direção da artista e escritora indígena Kariri, do Ceará, Bárbara Matias, o espetáculo é performado por ela, Idiane Crudzá e Kawrã, que formam o Coletivo Flecha Lançada.
Local: Retomada Gãh Ré (Rua Natho Henn, 55, no Morro Santana)
 
Sábado (08/11)
10h - Oficina Escutar as pedras – a performatividade da memória na cena
Ministrada pela artista e escritora indígena Kariri e fundadora do coletivo Flecha Lançada, Barbara Matias (CE), a oficina mescla vídeos, poesias, mascaramentos, música, mapas e fotografias para acender memórias dos lugares de origem e performar tais memórias.
Local: Retomada Gãh Ré (Rua Natho Henn, 55, no Morro Santana)
Inscrições gratuitas: @telaindigena (as inscrições serão disponibilizadas duas semanas antes do festival)
 
15h - Espetáculo de teatro Ser-Huma-Nós
Criação e atuação da indígena Lilly Baniwa, a obra é um solo que resgata as memórias ancestrais contadas por mulheres indígenas, passando pelos ciclos femininos, questões de liberdade e perseguições, além da manutenção da vida.

Local: Terra Indígena Anhetengua (Beco dos Mendonças, 357, na Lomba do Pinheiro)
16h30 – Oficina Teatro como uma forma de Pussangar
A oficina propõe uma prática inspirada em memórias, afetos e no cotidiano, conduzida pela atriz, diretora, performer e artista-pesquisadora indígena, Lily Baniwa (AM), explorando o teatro como espaço de criação, resistência e valorização das artes e dos saberes indígenas.
Local: Terra Indígena Anhetengua (Beco dos Mendonças, 357, na Lomba do Pinheiro)
Inscrições gratuitas:@telaindigena (as inscrições serão disponibilizadas duas semanas antes do festival)

Domingo (09/11) 
9h30 - Apresentação de dança e canto com grupo Tupẽ Pãn (Kaingang)
O grupo Tupẽ Pãn (Kaingang) traz a apresentação Resistência que reafirma a arte e a luta do povo Kaingang por meio da dança e do canto. O grupo é liderado por Clarisse Kokoj e foi criado em 2009 na Aldeia Morro do Osso.

10h - Encerramento com espetáculo Imedu/Aredu em TRANSito
Conduzida pela artista e antropóloga Kiga, do povo Boé (Bororo), do Mato Grosso, o espetáculo é permeado por grafismos corporais com resgate de dados, experiências pessoais da artista e vivências de indígenas LGBTQIAPN+.

Local das atividades: próximo aos arcos no Parque da Redenção (Av. José Bonifácio) 

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