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Publicada em 04 de Novembro de 2025 às 17:53

Vitor Ramil celebra os 25 anos de ‘Tambong’ com três shows em Porto Alegre

Cantor e compositor celebra uma de suas principais obras com três apresentações no Teatro Simões Lopes Neto do Multipalco

Cantor e compositor celebra uma de suas principais obras com três apresentações no Teatro Simões Lopes Neto do Multipalco

Rodrigo Lopes/Divulgação/JC
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Amanda Flora
Amanda Flora
Era o início de um novo milênio e o Brasil vivia uma onda musical marcada pelo rock e pela influência de um princípio de globalização digital no mercado da cultura. Na contramão das tendências, o pelotense Vitor Ramil, que já vinha de uma carreira consolidada, lança Tambong. Gravado na Argentina, o quinto álbum do artista é considerado um marco, carregado de canções emblemáticas, como Foi no Mês Que Vem, Grama Verde e Não é Céu.
Era o início de um novo milênio e o Brasil vivia uma onda musical marcada pelo rock e pela influência de um princípio de globalização digital no mercado da cultura. Na contramão das tendências, o pelotense Vitor Ramil, que já vinha de uma carreira consolidada, lança Tambong. Gravado na Argentina, o quinto álbum do artista é considerado um marco, carregado de canções emblemáticas, como Foi no Mês Que Vem, Grama Verde e Não é Céu.
Em entrevista ao Jornal do Comércio, o artista falou sobre a produção do álbum, o que ele significou para sua trajetória e os planos para marcar os 25 anos do disco. Na programação da celebração, estão três noites de shows em Porto Alegre, no Teatro Simões Lopes Neto (Riachuelo, 1.089), na sexta-feira (7) e no sábado (8), às 20h, e no domingo (9), às 18h. Os ingressos custam a partir de R$ 80,00 no site do Theatro São Pedro.
O nome Tambong, segundo Ramil, veio de um sonho em que ele contou ao produtor Pedro Aznar que o título do álbum seria este, pois a palavra “tinha sons de tango, samba, bossa, candombe e milonga”. Embora o disco não tenha sido concebido com a intenção de reunir todos esses ritmos, as sonoridades dos gêneros são nítidas em diversas canções e o nome sonhado acabou ganhando sentido.
“Eu sonhei isso, e ele não está longe da verdade, porque, de certa forma, sintetiza esse encontro do Brasil com os países do Prata. Por exemplo, A Ilusão da Casa carrega uma coisa meio candombeira. Criou-se uma palavra, um neologismo”, explica Ramil.
Nomes de peso colaboraram com o artista na elaboração das faixas. Em Um Dia Você Vai Servir Alguém, o cantor Lenine, amigo de longa data de Ramil, faz participação especial. Chico César, Egberto Gismonti e João Barone também integram o time de convidados, resultado de um processo de gravação que, segundo o músico, foi espontâneo e guiado pela afinidade entre cada um.
“Foi um disco muito generoso, no sentido dos encontros. O Chico apareceu no estúdio, brincando que queria gravar, e acabou se incorporando ao disco. O Egberto fez um piano lindíssimo em Foi no Mês Que Vem e disse que dialogaria com a letra. E realmente fez isso, de uma forma pessoal e emocionante”, relembra.
Entre os encontros mais marcantes, Ramil destaca a participação de Mercedes Sosa, que emprestou sua voz à versão em espanhol de Não é Céu. “A presença da Mercedes foi um presente. Ela representa uma força simbólica enorme para mim, pela ligação com a Argentina e pela dimensão humana e artística que ela tinha. Cantar com ela foi como tocar o coração do Prata”, recorda o artista.
Gravado em português e espanhol, Tambong foi o primeiro trabalho do artista feito integralmente na Argentina. “Foi um período muito rico para mim, tanto em termos de composição quanto de encontros. O disco marcou minha aproximação com a Argentina e o Uruguai. Ele é uma espécie de matriz de muita coisa que veio depois”, conta.
A experiência bilíngue, no entanto, trouxe desafios criativos. “Muita coisa minha é muito presa ao português, com jogos de palavras difíceis de traduzir. Algumas versões funcionaram bem, outras nem tanto. Mas foi um processo enriquecedor”, admite.
Na época, Ramil já desenvolvia o conceito da Estética do Frio, que moldaria boa parte de sua obra depois. “O Tambong deu forma a esse meu propósito de aproximar o Rio Grande do Sul dos países do Prata. Eu costumo dizer que não estamos na margem de um centro, mas no centro de uma outra história”, explica. Percepção que, segundo ele, ainda atravessa a sua produção.
Para o artista, o disco permanece atemporal por ter nascido de um período de liberdade criativa. “Depois de um tempo mais árido, com o personagem Barão de Satolep, voltei a fazer canções mais leves. Não é Céu abriu uma porta para eu identificar uma brasilidade própria, sem preconceitos. Acho que o Tambong reflete esse momento de leveza e autenticidade, por isso ainda fala com o público de hoje”, diz.
No show comemorativo, Ramil promete revisitar o repertório do álbum, com algumas surpresas. “Vou cantar músicas que toco até hoje, mas também outras que nunca mais toquei desde o lançamento, como Só Você Manda em Você. Além disso, incluí A Resposta, que ficou de fora do À Beça, mas poderia estar no Tambong, e uma versão de uma música do Charly García, que é uma homenagem à Argentina”, antecipa.
As apresentações também trarão um forte componente visual, com a projeção de imagens do fotógrafo argentino Facundo de Zuviría, autor das fotos originais do encarte do álbum. “Minha imaginação é visual. Quando escrevo, eu vejo as cenas. As fotos do Facundo me marcaram muito, porque elas captam o ambiente urbano de Buenos Aires, tudo a ver com o espírito do disco”, comenta. A capa de Tambong, inclusive, nasceu de uma das fotos feitas pelo argentino.
Aos 25 anos do álbum que consolidou sua estética e o aproximou do Sul do continente, Ramil segue fiel à rotina que cultiva desde os primeiros discos: “Meu dia a dia continua igual. Escrevo, toco, viajo e volto para casa. Moro com a Ana em Pelotas, numa casa centenária que adoro. Agora, o que mudou é a vida familiar. Tenho netos, e isso traz outra dimensão à vida.”
Depois da celebração, o cantor pretende lançar Tambong em vinil e seguir com os projetos ao lado da Família Ramil, que inclui shows com os irmãos Kleiton e Kledir, além do projeto Casa Ramil, com filhos e sobrinhos. “Tenho uma série de shows até o fim do ano e quero lançar um livro novo. O Tambong me lembra que o tempo passa, mas a música continua viva”, conclui.
 

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