Comédia musical interpretada por Claudia Raia e Jarbas Homem de Mello, o espetáculo Cenas da menopausa chega a Porto Alegre para uma curtíssima temporada no Teatro Fiergs (av. Assis Brasil, 8787). Após passagens bem-sucedidas por Lisboa, Curitiba, São Paulo, Goiânia, Cabedelo (em João Pessoa) e Rio de Janeiro, a peça será apresentada aos gaúchos nesta sexta (24) e sábado (25), às 20h; e no domingo (26), às 18h. Baseada em texto e versões musicais de Anna Toledo, a montagem propõe uma discussão relevante sobre a maturidade feminina e é seguida de um fórum com a plateia ao final, onde o debate se aprofunda, permitindo um momento de desabafo e troca de experiências. Os ingressos custam entre R$ 75,00 e R$ 250,00 e estão à venda pela plataforma Uhuu.
Por meio de cenas curtas e paródias musicais, a peça aborda a vida da mulher acima dos 50 anos, tratando de temas como mudanças corporais, carreira, saúde, beleza e relacionamentos, além do climatério, com franqueza e bom humor. A estrutura da dramaturgia segue as chamadas "fases do luto ovariano" – choque, negação, revolta, depressão, barganha e aceitação – através de personagens com diferentes perspectivas sobre a menopausa.
A personagem que costura toda a dramaturgia é Teresa (Claudia Raia), uma mulher de 49 anos, casada, mãe e corretora de imóveis, que enfrenta os primeiros sintomas, como ondas de calor, insônia e alterações de humor. A atriz também dá vida a outras mulheres, como a negacionista Laurinha, a desencanada Gilda e a workaholic Isabel, além de um mix de divas 50+ que aparecem na abertura do espetáculo. Jarbas Homem de Mello, que além de atuar assina a direção da montagem, interpreta diversos papéis masculinos e femininos, incluindo Mario, o marido de Teresa, o ex-marido Alberto, um médico, um vidente, uma vendedora, uma freira, a rabugenta tia Judite, o cabeleireiro e influencer Vini Visage e a cantora Madonna.
No decorrer da peça, os artistas ainda se propõem a discutir situações práticas que vão desde como abordar o novo momento com o parceiro, para não se isolar emocionalmente, ou como lidar com as capacidades criativas e de vitalidade que se apresentam nesta fase de vida das mulheres maduras. Segundo Homem de Mello, a escolha pela comédia musical busca quebrar o silêncio em torno de um tema que, conforme ele, é cercado de tabus: "Escolhemos a comédia para tocar o coração das mulheres, para elas se identificarem, rir delas mesmas e depois conversar com a gente, durante o debate que precede o espetáculo", destaca.
O artista sublinha que a menopausa é uma questão mundial, com ônus que incluem doenças cardiovasculares, AVC, demência, Alzheimer e osteoporose quando na ausência de tratamento. Ele explica que o problema vai além do físico: "Descobrimos que a menopausa é uma doença sistêmica, pois a falência ovariana e a ausência de estrogênio afetam diretamente o cérebro da mulher." O diretor também alerta que sintomas como coceira no ouvido, dores musculares e articulares e calor no rim, por vezes tratados como fibromialgia ou depressão, podem ser manifestações da menopausa e precisam ser investigados.
Homem de Mello observa que o espetáculo busca, ainda, desmistificar a ideia de que a mulher perde sua função para a sociedade após essa fase. "Antigamente, a mulher de 50 anos de idade não fazia mais nada; hoje está no auge da sua sabedoria, da sua vida produtiva. Ela para de reproduzir, mas não de produzir", afirma o artista, enfatizando a importância de informar sobre os tratamentos disponíveis para que as mulheres continuem felizes, "nesse momento que pode ser doloroso, mas pode ser muito lindo".
Ressaltando a importância de uma rede de apoio, que começa inclusive dentro do casamento, Homem de Mello não só incentiva que outros homens busquem se informar e acompanhar suas esposas, mães e avós durante a menopausa como celebra a presença constante do público masculino na plateia do espetáculo. "Abrimos também espaço para a perspectiva masculina nos debates após as apresentações e temos tido surpresas positivas: em Portugal, 50% do público era masculino; e lá escutamos desde agradecimentos à equipe da peça por "esclarecer dúvidas" (a partir da encenação) que alguns casais mantinham sobre seus momentos de vida até um pedido de perdão de um marido para sua esposa, ao declarar a todos, durante o debate, que agora ele entendia o que se passava com ela."
Ainda que o tema seja sério, tudo na peça é fluído, bem-humorado e leve. A música, com paródias de hits dos anos 1980 e 1990, pontua as cenas, gerando uma conexão com a geração da plateia e adicionando uma camada de humor. Ao mesmo tempo, a performance minuciosa da dupla no palco garante que cada personagem seja um tipo distinto e bem definido, evitando a caricatura. Permeada pela experiência de Homem de Mello como ator, a direção ainda utiliza uma metalinguagem, com os artistas (que, na vida real, também são casados) trocando de personagem e discutindo questões do dia a dia do casal durante a menopausa, o que os aproxima ainda mais do público que está assistindo ao espetáculo.
Incluindo um cenário polivalente e feminino (assinado por Natália Lana), iluminação de Wagner Freire e figurinos de Bruno Oliveira (pensados para trocas rápidas), a concepção visual e técnica da montagem complementa a versatilidade corporal e vocal dos atores. Natural de Novo Hamburgo e radicado em São Paulo, Homem de Mello afirma que está muito satisfeito em apresentar Cenas da menopausa em seu estado natal. "Sempre gosto de voltar para Porto Alegre e outras cidades do Rio Grande do Sul. Levar um espetáculo com essa importância e esse reconhecimento tem um gosto ainda melhor. Fico feliz de poder levar essa mensagem, essa comédia, fazendo entretenimento de qualidade e também um serviço público, porque ainda tem muita desinformação sobre esse assunto."
A temporada de sucesso da montagem, que estreou em Lisboa, onde fez 67 apresentações, com um público superior a 70 mil pessoas, demonstra a universalidade do tema. Relatando desdobramentos importantes, como mulheres que se sentiram mais acolhidas e a criação de um grupo de apoio entre elas, Claudia Raia comemora os diversos retornos de quem assiste ao espetáculo: "O público tem respondido com muito carinho a Cenas da menopausa, o que reforça a importância de abrirmos espaço para discutir essa fase da vida da mulher e os desafios da maturidade", pontua a atriz.