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Publicada em 07 de Setembro de 2025 às 17:35

Coletivo Umbu celebra a pluralidade em lançamento do álbum de estreia

Coletivo Umbu lança seu primeiro álbum em show nesta segunda-feira (1), no Teatro de Câmara Túlio Piva

Coletivo Umbu lança seu primeiro álbum em show nesta segunda-feira (1), no Teatro de Câmara Túlio Piva

Gui Fernandes/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Nesta segunda-feira (8), às 20h30min, o coletivo Umbu apresenta seu álbum de estreia no Teatro de Câmara Túlio Piva (Rua da República, 575). A apresentação marca o início da circulação do projeto, que se apresenta como uma plataforma de criação imagético-musical. Os ingressos custam de R$ 30,00 (meia-entrada) a R$ 60,00 (inteira) e estão à venda pelo Sympla Bileto.
Nesta segunda-feira (8), às 20h30min, o coletivo Umbu apresenta seu álbum de estreia no Teatro de Câmara Túlio Piva (Rua da República, 575). A apresentação marca o início da circulação do projeto, que se apresenta como uma plataforma de criação imagético-musical. Os ingressos custam de R$ 30,00 (meia-entrada) a R$ 60,00 (inteira) e estão à venda pelo Sympla Bileto.
O álbum homônimo do grupo entrelaça a ancestralidade do batuque de nação com a pulsação do dub, bem como a poesia dos slams com a sabedoria da milonga. Em suas 12 faixas, traz ainda influências das musicalidades das tribos de carnaval, do maçambique de Osório, do suingue, da música espiritual mbyá guarani, dos ternos de reis e das duplas caipiras dos anos 1970; além de ritmos afro diaspóricos latinos e caribenhos como a cumbia, merengue e dancehall, somados ao afrobeat nigeriano e o semba de Angola; e também ritmos brasileiros como o baião, congado, samba de roda, zambiapunga e maxixe.
Segundo um dos integrantes, Lucas Luz, as canções abordam as fraturas sociais, como o racismo estrutural, a gentrificação a partir da agressiva expansão imobiliária, o extermínio da juventude negra, as cansativas jornadas de trabalho e a decolonialidade. "A música é como um muro onde pixamos nossas verdades", afirma Luz, que assina a direção artística e musical do álbum. Ele adianta que a apresentação desta segunda-feira é um convite para refletir sobre essas questões mas também para dançar e celebrar a pluralidade do Rio Grande do Sul, para além das fronteiras do óbvio.
Luz explica que, para o grupo, a música é uma ferramenta para discutir questões sociais. "É um ato político nosso, possibilitar que esse espaço seja como um "alto-falante", afirma Luz, ressaltando que o  grupo, em sua maioria, ocupa um "lugar de privilégio", o que não o impede de trazer à tona essas discussões. "É um dever de toda a sociedade", opina.
Formado também por Stephanie Soeiro, Brenno di Napoli, Diih Neques Olákùndé, Felipe Santos, Guilherme Fernandes, Mário Ferrari e Rafa Rodrigues, o coletivo Umbu reúne artistas de diferentes linguagens. A diversidade no que se refere às formações dos integrantes é outro ponto que se reflete na "maturidade do processo criativo", pontua Luz. "Cada um de nós vem de escolas diferentes, seja da Música ou de outras atividades profissionais", explica. Ele comenta que a sonoridade alcançada pelo coletivo é fruto desse encontro e que o processo criativo do álbum ocorreu de forma muito particular. "Cada um de nós atua em um nicho (samba, rock...), e tudo foi pensado muito ritmicamente", destaca. 
Segundo Luz, a escolha de bases eletrônicas com samplers de MPB, música latina e africana, teve o objetivo "não de simular instrumentos" mas para que servissem como um instrumento adicional, sendo executadas ao vivo durante o show. O resultado é uma linguagem moderna, onde samplers, MPC e sintetizadores dialogam com instrumentos de percussão como ilú, xequerê, patangome, caracaxá, casaca e talking drum, além de guitarra, baixo, cavaco, violão e viola caipira. "As canções apresentam poesia inspirada nos contadores de história, nos slams, em Eduardo Galeano, Paulo Leminski, entre outros", destaca o artista. 
A criação do álbum Umbu, iniciada no verão de 2018, foi retomada em 2024, depois de idas e vindas –interrompidas inclusive pela pandemia de Covid-19 –, e após ser contemplada pela Lei Paulo Gustavo. "Isso facilitou que eu e o Brenno (que iniciamos o processo juntos) conseguíssemos voltar para o estúdio e gravar, além de poder chamar os outros integrantes", conta Luz. Ele acrescenta que o hiato de tempo intensificou a vontade de abordar certas temáticas. "Algumas letras foram inspiradas por alguns acontecimentos como o assassinato do Beto, homem preto asfixiado dentro do supermercado Carrefour; a recente destruição pela prefeitura do galpão de reciclagem da Vila dos Papelerios; e também a questão indígena ameaçada pelo Marco Temporal", exemplifica.
O disco foi gravado entre agosto do ano passado e março deste ano, no Estúdio 4’33”, com produção executiva realizada de forma coletiva pelos integrantes e produção musical de Brenno di Napoli.  Além de nove faixas autorais, o álbum inclui versões de Obrigado, igualmente (da dupla caipira Prateado e Belinho) e Salve-se quem souber (Gelson Oliveira). Luz destaca que as escolhas representam a busca do grupo por "apresentar outra perspectiva do Rio Grande do Sul". "A música de Prateado e Belinho (artistas de Canoas) foi feita em 1970 e traz uma conexão com o movimento de música caipira no Estado, que foi desaparecendo à medida que o Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) passou a determinar o que seria entendido como tradição, numa espécie de gentrificação cultural", observa Luz. 
Já a canção de Gelson Oliveira aborda a "coisa de não dar bola para outras verdades, histórias que vão sendo escondidas, subtraídas", destaca o diretor artístico do álbum. Ele sublinha que a versão de Salve-se quem souber traz a participação de Edjane Deodoro, em homenagem à memória de sua mãe, a coreógrafa e bailarina Mestra Iara Deodoro, falecida em setembro do ano passado.


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