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Publicada em 03 de Setembro de 2025 às 20:35

Mostra 'Inventário da Inundação' traz a arte como documento e legado após enchentes

Mostra 'Inventário da inundação'  entra em cartaz nesta quinta-feira (4), na Galeria Augusto Meyer, do Ieavi, reunindo crônicas ilustradas, vídeos e palestras

Mostra 'Inventário da inundação' entra em cartaz nesta quinta-feira (4), na Galeria Augusto Meyer, do Ieavi, reunindo crônicas ilustradas, vídeos e palestras

Nilton Santolin/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
A exposição Inventário da inundação, que entra em cartaz na Galeria Augusto Meyer, do Ieavi, localizada na Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736), traz à tona um registro artístico e documental das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul em 2024. Resultado de uma colaboração entre a poeta e cronista Nora Prado e a artista visual Zoravia Bettiol, apresenta 28 crônicas ilustradas, videoarte e um documentário. A mostra ficará em cartaz até o dia 12 de outubro, com entrada franca. Em seguida, será transferida para a Galeria Zoravia Bettiol, onde ficará em exibição de 25 de outubro até o início de janeiro de 2026.  
A exposição Inventário da inundação, que entra em cartaz na Galeria Augusto Meyer, do Ieavi, localizada na Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736), traz à tona um registro artístico e documental das enchentes que afetaram o Rio Grande do Sul em 2024. Resultado de uma colaboração entre a poeta e cronista Nora Prado e a artista visual Zoravia Bettiol, apresenta 28 crônicas ilustradas, videoarte e um documentário. A mostra ficará em cartaz até o dia 12 de outubro, com entrada franca. Em seguida, será transferida para a Galeria Zoravia Bettiol, onde ficará em exibição de 25 de outubro até o início de janeiro de 2026.  
Segundo Nora, o processo de criação do projeto ocorreu por meses, "diariamente e compulsivamente", e se deu logo após o início da tragédia que abalou o Estado em maio do ano passado. "Era uma forma de elaborar aquele transtorno que estava acontecendo com as pessoas, atingidas em diversos níveis", relata. Apesar de não ter sido diretamente afetada, a escritora, que reside na Zona Sul de Porto Alegre, sentiu o impacto mais de perto ao ver seus vizinhos com as casas alagadas. As crônicas, inicialmente publicadas em redes sociais, chamaram a atenção da curadora Vera Pellin, que sugeriu a criação de um projeto em parceria com Zoravia, mãe de Nora. "Inscrevemos no Edital Sedac nº27/2024 PNAB RS - Artes Visuais e fomos contempladas", recorda a escritora. A arte em vídeo da mostra é assinada pela Oito e Meio Filmes, e a produção e organização é da Digrapho Produções Culturais, de Carla Pellin D'Avila e Vera Pellin.

A colaboração com Zoravia teve início com a leitura das crônicas. "Ela gostava muito, eu sempre mandava para ela", afirma Nora. Após finalizar sua parte em novembro do ano passado, ela entregou o material à artista visual para selecionar as crônicas e escolher como ilustrar. "As imagens ficaram lindas; umas horríveis por conta da desolação, mas como é arte...", comenta a cronista, referindo-se aos desenhos feitos com lápis de cor e nanquim. Ela destaca que as 28 obras visuais da mostra enfatizam os aspectos trágicos da catástrofe sem, contudo, esquecer da resiliência e resistência do povo gaúcho e de pessoas de outros estados do País que prestaram apoio e solidariedade "incansáveis".  

Para Nora, a escrita foi uma ferramenta para processar a dor e a angústia. "Escrever era uma maneira de ganhar um certo conforto, alimentar a esperança e a resistência", explica. Ela descreve o período como "muito fora da curva" no contexto do Rio Grande do Sul e ressalta a importância de registrar o que estava acontecendo, incluindo o trabalho realizado por voluntários em abrigos e outras ações, e a série de "absurdos" que emergiram durante a crise

O projeto é visto pela cronista como um documento histórico fundamental para as futuras gerações. "Esses eventos climáticos vão se tornar cada vez mais frequentes", reflete. Nora enfatiza, ainda, que a arte tem a capacidade de resgatar e denunciar "falhas de governantes que não fizeram nada até agora" para prevenir mais desastres. Segundo ela, as crônicas são "potentes de crítica política e social", buscando transmitir mensagens sobre "a falta de humanidade e de pertencimento dos dirigentes".

Sobre a parceria com sua mãe, a escritora destaca que acompanhou de perto o processo criativo de Zoravia Bettiol, que teve "liberdade absoluta para escolher" as imagens que sintetizariam cada crônica. "Foi uma colaboração bem estreita. Foi bonito e prazeroso ver as crônicas se materializarem em imagens", relata.

Nora Prado ressalta o legado de Zoravia, que completa 90 anos em 2025. "Ela tem muita fome de viver e muita empatia com o próximo, tem um sentido de cidadania amplo", afirma. A escritora descreve a arte da mãe como "comprometida com a parte social e política, sem perder a beleza e a transcendência". O trabalho final, segundo Nora, é um convite às pessoas para refletirem de forma "comprometida com o presente e pensando nas sementes do futuro".

Ainda de acordo com a escritora, a exposição também busca gerar conscientização sobre as mudanças climáticas. "Espero que Inventário da inundação sirva como material para ser trabalhado em escolas, para que a sociedade não deixe morrer esse sentimento de indignação e revolta", observa. Ela avalia que o projeto "transforma a dor em algo estético" e permite que as pessoas possam revisitar e pensar criticamente sobre o evento.

 

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