A relação entre arte, natureza e finitude está no centro de Aplomb II, exposição que inaugura nesta quinta-feira (28), às 17h, na Galeria Bolsa de Arte, em Porto Alegre. A mostra mistura os trabalhos do escultor gaúcho Hugo França e do fotógrafo alemão Tom Fecht, retomando uma parceria iniciada em 2019, na capital paulista, com a Aplomb I, e que agora ganha uma edição inédita no Rio Grande do Sul. Ao combinar esculturas monumentais feitas em madeira e imagens de fenômenos naturais impressas em retângulos de seda, a exposição convida o público a refletir sobre a escala da vida humana diante da força do tempo e da paisagem natural.
França e Fecht apresentam obras inéditas que, embora distintas em linguagem, se complementam. De um lado, esculturas impressionantes criadas a partir de árvores caídas e raízes milenares, onde França deixa a própria madeira indicar o caminho da criação. Do outro, fotografias de Fecht realizadas em locais extremos, sobretudo na costa da Bretanha, na França, captadas durante noites de lua cheia com equipamentos criados por ele mesmo. Impressas sobre tecido de seda, suas imagens unem ciência e poética, trazendo fenômenos naturais quase invisíveis.
Para Marga Pasquali, diretora da Galeria, essa relação entre linguagens tão distintas é justamente o que dá força a mostra: “Um não interfere no outro, mas eles caem bem juntos. São dois amigos que se revisitam e se complementam, mesmo sendo completamente diferentes entre si. É uma exposição que foge do trivial, e acredito que todo mundo vai ficar satisfeito em ver uma união tão bonita entre escultura e fotografia”, explica.
O diálogo entre os artistas nasceu em Trancoso, na Bahia, onde o gaúcho Hugo França escolheu viver e trabalhar. Foi ali que ele e Fecht se conheceram e começaram uma amizade que evoluiu para o trabalho artístico. “Eles fizeram algumas coisas juntos, inclusive um sobrevoo para fotografar, e daí nasceu essa relação. Depois, fizemos em São Paulo a primeira exposição, que já apontava para a ideia de repetir em Porto Alegre. Agora o Tom vem pela primeira vez à cidade, o que dá uma dimensão especial ao reencontro”, conta Marga.
A galerista e curadora afirma que a exposição não busca mesclar as obras, mas criar um espaço de diálogo entre os artistas. “Eles já eram amigos, e o Tom já havia exposto comigo outras vezes. Achei que seria interessante trazer essa união novamente, agora em Porto Alegre, colocando lado a lado um artista daqui e outro da Alemanha. Um traz esculturas feitas de árvores resgatadas, outro traz fotografias de lugares extremos. O resultado é uma mostra que surpreende pela complementaridade e grandeza”.
O conceito central de Aplomb II é a reflexão sobre a finitude humana diante da natureza. Para Marga, essa leitura é evidente na diferença de escala entre a vida e os processos naturais: “O Tom trabalha em lugares onde o mar toma conta, em áreas que não têm acesso, e cria máquinas para captar imagens em condições extremas. Já o Hugo usa madeiras desenterradas, muitas vezes com centenas ou milhares de anos, e transforma em esculturas e utilitários. As obras falam de permanência, de ciclos, e nos colocam diante da nossa própria fragilidade”, reflete a curadora.
A abertura da mostra também será marcada pelo lançamento do livro Hugo França, publicado pela Editora FGV. Esta, a primeira grande publicação dedicada ao artista, reúne sua trajetória em mais de quatro décadas de produção. “É um livro muito importante. Mostra todo o percurso dele, que já realizou conosco pelo menos cinco exposições. E o livre estará disponível na abertura, junto da mostra”, afirma Marga.
Com 45 anos de atuação à frente da Bolsa de Arte, Marga ressalta que não se considera uma curadora no sentido acadêmico, mas vê sua prática como um exercício contínuo de construção de encontros. “Para mim, a curadoria é quase natural, porque já são muitos anos criando ideias e aproveitando oportunidades que aparecem, criando experiências que ao público. E esta é uma mostra muito surpreendente, justamente por trazer dois artistas experientes e de qualidade em um diálogo que não é óbvio”, finaliza.
Aplomb II pode ser visitada até 11 de outubro, de segunda a sexta-feira, das 10h às 18h, e aos sábados, das 10h às 13h30min, na Galeria Bolsa de Arte (Visconde do Rio Branco, 365, Porto Alegre). Entre a densidade das esculturas de madeira e a leveza das imagens em seda, o visitante é convidado a refletir sobre seu próprio lugar no mundo. Como bem define Marga, a palavra que resume a mostra é simples: “surpresa”.