Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 26 de Agosto de 2025 às 18:11

Projetos musicais feministas unem música, poesia e artes visuais na performance 'Excorporação'

Banda Garotas Instantâneas e projeto EX se unem na performance 'Excorporação',  neste sábado (30), na Galeria Augusto Meyer da Casa de Cultura Mario Quintana

Banda Garotas Instantâneas e projeto EX se unem na performance 'Excorporação', neste sábado (30), na Galeria Augusto Meyer da Casa de Cultura Mario Quintana

Fernanda Chemale/DIvulgação/JC
Compartilhe:
Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Neste sábado (30), a banda Garotas Instantâneas e o projeto musical EX se encontram para executar a performance Excorporação, que acontece às 19h, na Galeria Augusto Meyer da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736). O evento é um encontro de música, palavra, imagem e ativismo, em um processo que integra sonoridades, artes visuais, literatura e cultura pop urbana. A apresentação, com entrada gratuita e acessibilidade em Libras, é resultado de uma parceria inédita entre os dois grupos, que criaram um repertório construído de forma coletiva, pluriautoral e transdisciplinar.Unindo a estética experimental e feminista da banda Garotas Instantâneas – cujas integrantes são Marion Velasco (bases eletrônicas e voz), Alice Porto (poesia, voz, desenhos e imagens), Andressa Cantergiani (teclados e sintetizador) e a VJ Carolina Grimm (projeção de imagens ao vivo) – com a combinação de elementos do post-punk, do gótico e do shoegaze que marcam o trabalho do projeto EX – formado por Thiane Nunes (voz/letras), Gabriella Tachini (bateria), Guilherme Klamt (guitarra), Rafael Martinelli (vozl/letras) e Cristiano Sertório (baixo) –, a performance colaborativa nasceu do projeto Banda de Garotas Instantâneas convida Banda EX e outras mulheres. 
Neste sábado (30), a banda Garotas Instantâneas e o projeto musical EX se encontram para executar a performance Excorporação, que acontece às 19h, na Galeria Augusto Meyer da Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736). O evento é um encontro de música, palavra, imagem e ativismo, em um processo que integra sonoridadesartes visuais, literatura e cultura pop urbana. A apresentação, com entrada gratuita e acessibilidade em Libras, é resultado de uma parceria inédita entre os dois grupos, que criaram um repertório construído de forma coletiva, pluriautoral e transdisciplinar.

Unindo a estética experimental e feminista da banda Garotas Instantâneas – cujas integrantes são Marion Velasco (bases eletrônicas e voz), Alice Porto (poesia, voz, desenhos e imagens), Andressa Cantergiani (teclados e sintetizador) e a VJ Carolina Grimm (projeção de imagens ao vivo) – com a combinação de elementos do post-punk, do gótico e do shoegaze que marcam o trabalho do projeto EX – formado por Thiane Nunes (voz/letras), Gabriella Tachini (bateria), Guilherme Klamt (guitarra), Rafael Martinelli (vozl/letras) e Cristiano Sertório (baixo) –, a performance colaborativa nasceu do projeto Banda de Garotas Instantâneas convida Banda EX e outras mulheres. 
"O elo desse encontro foi a Thiane, que é historiadora da arte e pesquisa a invisibilidade das mulheres no campo artístico", observa Marion, que fundou o grupo Garotas Instantâneas em 2017 (na época, com outro nome: Instant band girls). Ela ressalta que tanto as integrantes da banda como as mulheres do projeto EX são oriundas do ambiente universitário e compartilham um ativismo que se manifesta em suas produções. "No caso das Garotas Instantâneas, temos inclusive pensamentos distintos, mas somos uma junção de mulheres que encontramos um lugar comum, que é a temática feminista", observa. Já a vocalista da banda EX destaca a trajetória "marginal" do grupo (que atua há cerca de 30 anos na cena underground gaúcha, somando sete álbuns até o momento) e a essência discursiva e poética de suas letras, que refletem sobre o contexto do entorno que vivenciam.
"A colaboração com as Garotas Instantâneas, que tem um viés mais feminista e sarcástico, foi natural por causa da afinidade na abordagem de artes 'à margem' e do meu estudo sobre a invisibilidade de mulheres artistas", afirma Thiane. "Excorporação fala sobre as vivências de mulheres, explorando temas como as dificuldades de conciliar a arte com responsabilidades como o cuidado com a casa e com os filhos, por exemplo, entre outros que se apresentam", emenda. Segundo Thiane, uma das seis músicas compostas em conjunto pelos dois grupos é Cadela de Gaza, que retrata outras questões atuais e complexas, misturando camadas de opressão com referências à guerra, à causa animal e tragédias como as enchentes que ocorreram no Rio Grande do Sul em maio de 2024.

Thiane destaca que esta é a primeira vez que o grupo musical compõe e cria junto com outros artistas, o que exigiu um novo processo de trabalho e a busca por um ponto de equilíbrio entre a sonoridade mais obscura e introspectiva da EX e base eletrônica e improvisada das Garotas Instantâneas. Marion completa, afirmando que apesar da criação conjunta entre as bandas enfrentar esse desafio, que se estendeu também no âmbito das metodologias de processos, os dois grupos conseguiram encontrar pontos de convergência entre as estéticas. "O resultado final superou as expectativas. Estamos muito satisfeitas e felizes com nossa construção", revela.
As artistas pontuam que as composições coletivas de Excorporação foram inspiradas por duas músicas pré-existentes: Gracyanne, das Garotas Instantâneas, e Hatshepsut, da EX; que também serão apresentadas na performance. Ambas as letras tratam da condição feminina em tempos distintos, abordando questões como o medo de mulheres andarem sozinhas na rua e a forma como a rainha-faraó egípcia Hatshepsut foi retratada com características masculinas (sem seios, com músculos proeminentes e barbas) para ser "reconhecida", após governar o Egito por 22 anos (1478 a 1458 a.C.), numa clara manifestação do patriarcado

Marion sinaliza que a performance também contará com referências a outras artistas, como Yoko Ono e Laurie Anderson. "O Rafael Martinelli (do EX), assumiu o papel de 'nosso Yoko Ono', por conta de seu trabalho vocal de grito, que é uma característica da Yoko (que remete à sua ancestralidade japonesa). Essa sonoridade foi incorporada em uma das músicas do projeto, Simpática, mas não muito, onde ele traz o grito em contraste com a poesia recitada pela Alice. Já a abordagem performática de Laurie Anderson de misturar texto e contação de história se alinha com o caráter discursivo do nosso projeto", explica.
Para além de criação musical, o projeto Banda de Garotas Instantâneas convida Banda EX e outras mulheres promoveu (em sua primeira etapa) ações de escuta e troca com mulheres de territórios de luta, como a Casa Mulheres Mirabal e a Alvo Associação Cultural. Ambos encontros foram mediados pela assistente social e percussionista Leciane Rodrigues Ferreira, e inspiraram os poemas, sons e ideias incorporados ao repertório que será apresentado em Excorporação, a partir da realidade dessas outras mulheres. "De um desses encontros, também surgiu a participação da poetisa e MC Marielle ADK, que integra a Mirabal", pontua Marion. "Durante nossas conversas no local, ela nos relatou ter abdicado de sua arte por causa das dificuldades da vida, e afirmou que o contato com o projeto fez com que ela sentisse novamente o desejo de criar." 
"Os momentos vividos no Mirabal e na Alvo reforçaram uma percepção já evidente para nós: antes de uma mulher ser tocada pela arte – ou de utilizá-la como instrumento de existência – é preciso garantir o básico para sobreviver. Ter o que comer, um teto, cuidar das crianças e da própria comunidade são prioridades que se impõem, ainda que a constatação seja dura", completa Thiane.
Convidada para fazer a abertura da performance entre as bandas Garotas Instantâneas e EX, Marielle deverá apresentar um trabalho criado especialmente para o evento, acompanhada de Matteo (base eletrônica). Essa participação é vista pelos grupos musicais como uma das maiores forças do projeto, mostrando que o encontro conseguiu "reacender o talento e a vontade" de uma artista. "A abertura do evento também irá contar com as participações especiais das DJs ElleP e Malka. "Tem muita diversidade nesse projeto, que inclui a participação de pessoas pretas, trans, lésbicas, e foi contemplado com fomento do Ministério da Cultura (aplicado pela Sedac-RS), contando ainda com apoio do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (Macrs) e do Instituto Estadual de Artes Visuais (Ieavi-RS)", destaca Marion.
Segundo a artista, a apresentação será registrada em áudio e vídeo e dará origem a uma exposição na Galeria Virgílio Calegari (localizada no 7º andar da Casa de Cultura Mario Quintana), marcando o encerramento do projeto. A abertura da mostra (que contará com fotos de Fernanda Chemale e Fábio Alt e vídeos de Carol Grimm, entre outros materiais que documentam o processo criativo) está prevista para o dia 6 de outubro. Marion revela que o nome Excorporação remete à ideia de algo que sai do corpo. "Esse termo surgiu de uma leitura que participei em um outro grupo de mulheres que integro, e foi escolhido por votação por conta de sua força, representando a necessidade de 'colocar para fora' nosso incômodo com o momento atual. É uma forma de explicitar nossa revolta com tudo que estamos vendo, processando. Queremos que outras pessoas se deem conta disso tudo, mas de uma forma poética."
Durante o show, um fanzine será entregue para o público, permitindo que as pessoas acompanhem as letras e o conteúdo do projeto. Sobre a parceria entre as Garotas Instantâneas e o EX, Marion revela o desejo de que, no futuro, os grupos gravem as músicas para lançar nas plataformas de streaming.

Notícias relacionadas