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Publicada em 18 de Agosto de 2025 às 13:11

Longa 'Papagaios' leva o universo das subcelebridades da televisão para o Palácio dos Festivais

Filme dirigido por Douglas Soares foi exibido no domingo (17), dentro da mostra competitiva nacional de Gramado

Filme dirigido por Douglas Soares foi exibido no domingo (17), dentro da mostra competitiva nacional de Gramado

CLEITON THIELE/PRESSPHOTO/DIVULGAÇÃO/JC
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Igor Natusch
Igor Natusch Editor de Cultura
De Gramado
De Gramado
Segundo longa-metragem em competição na mostra nacional do 53º Festival de Cinema de Gramado, Papagaios, de Douglas Soares, propôs ao público que foi ao Palácio dos Festivais no domingo (17) um mergulho cheio de suspense no plano de fundo das reportagens de televisão. É lá que se erguem os populares papagaios de pirata, figuras que fazem de tudo para aparecer na televisão, por cima dos ombros de repórteres e entrevistados.

É nessa disputa pelo cantinho das tomadas dos telejornais que Douglas Soares foi construir sua estreia nos longas de ficção, após obras de destaque em documentários e curtas-metragens. No longa, o popular Tunico (Gero Camilo), um dos mais famosos papagaios de pirata do Rio de Janeiro, acaba adotando Beto (Ruan Aguiar) como uma espécie de pupilo, ensinando a ele os macetes do ofício. Silencioso e esquivo, Beto vai desenvolvendo uma relação ambígua com Tunico, residindo em sua casa e incorporando aspectos de sua personalidade, até que uma chance fora de série - a partir da visita do músico Leo Jaime ao bairro, para receber a homenagem de uma escola de samba - precipita eventos que transformam de forma definitiva a conexão entre a dupla.

"Sempre flertei muito com a ficção, mesmo nos curtas-metragens que fiz, que sempre foram meio híbridos. E eu queria que minha primeira ficção tivesse essa conexão com o suspense", afirmou Douglas Soares, em debate ocorrido na manhã desta segunda-feira (18). A ideia de Papagaios surgiu a partir de lembranças de infância do diretor, no Complexo da Maré, onde os papagaios televisivos eram vistos como pequenas celebridades locais. A partir do contato com o realizador Humberto Carrão, igualmente fascinado pelos papagaios de pirata, o argumento do futuro filme foi tomando forma, inserindo essas figuras extremamente brasileiras e populares em uma trama pródiga em dubiedades e momentos de tensão.

Para o ator Gero Camilo, participar de Papagaios foi praticamente redescobrir sua paixão pela lida cinematográfica. "Esse filme acontece em um momento que eu estava exausto do cinema, da dificuldade que é fazer cinema em nosso País. Fui para Papagaios de saco cheio, e falando para mim mesmo: 'esse vai ser meu último filme'", revelou. O andar da carruagem, contudo, foi reformulando essas ideias dentro do ator - em especial a partir do primeiro contato com Ruan Aguiar, que resultou em um almoço que virou uma interminável conversa cinematográfica. "Fiquei umas cinco horas conversando com ele, com esse jovem com toda a paixão do primeiro longa, e eu pensando 'coitado, como vou dizer para ele que estou saindo do cinema?'", recordou, rindo. "Voltei para o hotel pensando que não podia decepcionar esse menino tão cheio de sonhos, e a nossa troca no set, todo o processo de construção coletiva do filme foi abrindo meu coração novamente (para o cinema)".

Atuando em Papagaios no papel de si mesmo, Leo Jaime confessou que também viu a participação, originalmente, como uma espécie de última obrigação no audiovisual. "Aceitei como uma homenagem, como se o Douglas me reconhecesse como alguém merecedor de um enredo de escola de samba em Curicica (bairro do Rio onde a história se desenrola)", comentou. "Eu vinha com esse questionamento, qual o valor que a gente dá para as pessoas que constroem a nossa subjetividade? Não tem uma cidade chamada Cássia Eller, uma rua Rita Lee, uma avenida Paulo Autran. O aeroporto Antônio Carlos Jobim (no RJ) chamam de Galeão, Tim Maia virou uma ciclovia que caiu no segundo dia". Felizmente, para a arte brasileira, Papagaios também retomou o interesse de Leo Jaime pelo formato cinema - que o trouxe a Gramado pela primeira vez há quase 40 anos, concorrendo ao Kikito pela trilha sonora de As Sete Vampiras (1986).

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