Nesta quinta-feira (21), a Figura Editora promove um lançamento duplo, às 19h, no Centro Cultural da Ufrgs (rua Eng. Luiz Englert, 333). O evento reúne dois autores com trajetórias distintas: o italiano Ivo Milazzo, que apresenta a novela gráfica Um dragão em forma de nuvem, e o gaúcho Rodrigo Rosa, que lança a biografia Mestre Mottini. Na ocasião, os dois quadrinistas se encontram para um bate-papo com o público, seguido de uma sessão de autógrafos no Auditório Araucária, localizado no 2º andar do espaço cultural.
A obra de Milazzo, resultado de uma parceria com o cineasta Ettore Scola (1931-2016), elege como protagonista um negociante de antiguidades parisiense. O autor conta que o consagrado diretor italiano o presenteou com um texto em prosa, que não chegou a se tornar um filme, a partir de um encontro entre os dois, organizado por um agente de Milazzo. "Ele estava com dois trabalhos na gaveta. Um era um roteiro para o cinema, e o outro, o texto que se transformou na HQ (história em quadrinhos)", comenta o ilustrador, que concedeu a entrevista ao Jornal do Comércio, ao lado da tradutora Lu Vieira.
Conhecido por seu trabalho em Ken Parker, Milazzo destaca que optou pela segunda história por se "emocionar" com o enredo. A narrativa, que ele descreve como uma situação humana particular, conta a história de um livreiro que se dedica à restauração de livros e cuida de uma filha tetraplégica. "O texto comoveu tanto o Ivo que ele não teve dúvida ao escolher qual fazer", sinaliza Lu Vieira, responsável também pela tradução do texto de Scola para o português. "Ele até chorou quando leu. Decidiu porque se emocionou muito", reforça.
O título da obra, segundo o autor, faz referência a um terceiro elemento que surge e tira o equilíbrio entre o pai e a filha: "uma jovem ansiosa, que fica muito curiosa com a personalidade do livreiro e do universo dos livros". Para adaptar a história, Milazzo usou sua experiência de mais de 40 anos como quadrinista. "Eu sempre fui apaixonado pelo cinema", diz o autor. "É uma linguagem que também pertence ao meu trabalho, por conta dos enquadramentos, e trabalhar com um cineasta que era uma referência para mim foi uma honra". Scola, segundo Milazzo, teve uma bagagem que se alinhava ao seu modo de narrar HQs, e que também focava em situações humanas cotidianas. "Ettore me deu muita liberdade para contar a história e depois, ao acompanhar o processo, ficava impressionado com a maneira como eu conseguia narrar exatamente como ele pensava", afirma.
Para os personagens, Scola já tinha escolhido um elenco ideal, o que facilitou o trabalho do ilustrador. "Ivo usou esses atores", explica Lu Vieira. "E o interessante é que um dos personagens, que seria interpretado pelo Massimo Troisi, que faleceu em 1994, pôde também ser retratado na história". Milazzo define a experiência como única, devido à similaridade entre os quadrinhos e o cinema. A obra, de capa dura, tem 108 páginas e custa R$ 104,00.
O outro livro do lançamento desta quinta-feira documenta a vida e a obra do artista gaúcho João Baptista Mottini (1923-1990). Rosa, que além de autor da biografia é editor da Figura Editora, revela que conheceu Mottini ainda na adolescência. "Eu fui meio que adotado como pupilo dele, pois antes de ser editor eu era desenhista e ilustrador", comenta. "Ele me deu dicas de desenho na década de 1980 e, desde a conclusão da minha Graduação em Jornalismo, adotei a missão de divulgar a biografia dele", explica o autor. Segundo ele, o livro é resultado de uma longa pesquisa iniciada com sua tese de formatura, em 2003.
Rosa descreve o artista gaúcho como "um desenhista de estilo clássico e acadêmico", capaz de reproduzir figuras com realismo e dinamismo. "O que me chamou a atenção no trabalho dele é esse talento para ser muito realista, principalmente no movimento das figuras, o que é muito difícil de se conseguir", afirma. O editor destaca que, apesar de Mottini ser um dos primeiros artistas gráficos brasileiros a ter uma carreira internacional, seu trabalho ainda é mais reconhecido no exterior, especialmente na Argentina, onde ele participou da "Era de Ouro" dos quadrinhos portenhos.
"Mottini foi um grande ilustrador: começou a carreira na Livraria do Globo, em Porto Alegre, na mesma época de Erico Verissimo", conta Rosa. Em 1946, o artista gaúcho se mudou para a Argentina, onde se tornou um dos principais ilustradores de revistas como a Patoruzito, que vendia 300 mil exemplares por semana nos anos 1950. Depois, foi contratado pela Fleetway (uma grande editora inglesa) e teve seus quadrinhos com personagens como Billy, the Kid e Buck Jones publicados em dezenas de países. Após torna-se referência a maioria dos grandes profissionais da área, retornou ao Brasil no início dos anos 1960 e se dedicou à ilustração publicitária e às artes plásticas no Rio Grande do Sul.
Dividido em quatro capítulos, Mestre Mottini cobre as diferentes fases da carreira do artista. Além do texto, design e projeto editorial feitos por Rosa, o livro conta com curadoria de HQs e ilustrações, reunindo trabalhos da Livraria do Globo, do período argentino, das histórias em quadrinhos publicadas pela Fleetway, na Inglaterra, e do período em que se dedicou à cultura gaúcha. A obra, também de capa dura, tem 172 páginas e custa R$ 135,00.