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Publicada em 17 de Agosto de 2025 às 10:46

Teatro Nilton filho celebra 35 anos de resiliência e arte com programação especial

Conduzido por Nilton Filho e Hyro Matos,Teatro Nilton Filho apresenta programação especial de aniversário, reforçando sua história de superações e conquistas

Conduzido por Nilton Filho e Hyro Matos,Teatro Nilton Filho apresenta programação especial de aniversário, reforçando sua história de superações e conquistas

BRENO BAUER/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Localizado no coração do bairro Menino Deus, o Teatro Nilton Filho (rua Grão Pará, 179) comemora 35 anos de atividades, com uma programação especial de espetáculos que fazem parte do repertório da Cia. de Teatro Construção. Neste sábado (23) e no domingo (24), a atração será a peça infantil A roupa nova do rei, com sessões sempre às 16h. A fábula clássica destinada à toda família foi repaginada pela Companhia administrada pelos diretores Nilton Filho e Hyro Mattos, para abordar temas como vaidade, verdade e coragem, de forma bem-humorada. Ainda dentro da programação de aniversário do Teatro, no próximo final de semana ocorrem duas sessões do espetáculo adulto Lisístrata – a greve do sexo (dia 30, às 20h; e dia 31, às 18h). Os ingressos estão à venda no site Tri.RS, pelo valor de R$ 30,00 (meia-entrada) e R$ 60,00 (inteira). 
Localizado no coração do bairro Menino Deus, o Teatro Nilton Filho (rua Grão Pará, 179) comemora 35 anos de atividades, com uma programação especial de espetáculos que fazem parte do repertório da Cia. de Teatro Construção. Neste sábado (23) e no domingo (24), a atração será a peça infantil A roupa nova do rei, com sessões sempre às 16h. A fábula clássica destinada à toda família foi repaginada pela Companhia administrada pelos diretores Nilton Filho e Hyro Mattos, para abordar temas como vaidade, verdade e coragem, de forma bem-humorada. Ainda dentro da programação de aniversário do Teatro, no próximo final de semana ocorrem duas sessões do espetáculo adulto Lisístrata – a greve do sexo (dia 30, às 20h; e dia 31, às 18h). Os ingressos estão à venda no site Tri.RS, pelo valor de R$ 30,00 (meia-entrada) e R$ 60,00 (inteira). 
Integrando o evento celebrativo, a montagem adulta Em briga de marido e mulher, salve-se quem puder e as infantis A fada da natureza O burrinho Chico Chico também foram apresentadas no espaço cultural, no decorrer da primeira semana de agosto. "Estamos comemorando mais de três décadas de resiliência e arte, reunindo algumas das peças da Companhia e oportunizando que a data seja duplamente festejada, já que nosso teatro conseguiu se reerguer, após ser inundando durante a enchente de 2024, graças à ajuda de amigos e um mutirão de limpeza que foi feito diariamente por quase dois meses", destaca Nilton Filho. "Todo o lodo foi transformado em luz!", emenda o diretor.

Em meados do ano passado, a sede do Teatro Nilton Filho – que conta com um minimuseu além de uma sala onde fica o palco e a plateia (de 78 lugares) e oferece cursos de teatro e dança – teve suas dependências afetadas por mais de 1,5m de água durante cerca de 30 dias, o que resultou na perda de figurinos, equipamentos de iluminação, centenas de livros e textos teatrais, um piano alemão, móveis estofados, e diversos objetos do acervo da Cia. de Teatro Construção. "O mais dolorido foi ver os mais de 500 livros todos colados. Tive que botar tudo fora. Aquilo me doeu muito", lamenta Nilton Filho. Ele conta que a biblioteca tinha itens raros, como a coleção completa (e toda autografada) do dramaturgo gaúcho Ivo Bender (1936 - 2018), que foi seu professor no Departamento de Artes Dramáticas (Dad) da Ufrgs.
Essa não foi a primeira vez que o espaço cultural precisou superar a ocorrência de prejuízos. Seu fundador conta que, já no começo (em 1990), o Teatro foi roubado na véspera da estreia do primeiro espetáculo, mas emenda que prefere destacar as boas lembranças. "Fomos erguendo o espaço com inúmeros sonhos, que fomos conquistando aos poucos." O diretor, que já fazia teatro desde 1977, destaca que a empreitada surgiu da necessidade de ter um lugar próprio para apresentar suas peças. Ao adquirir a casa que hoje abriga o Teatro, ele pôde construir sua ideia.
A primeira montagem no local, Jorginho machão, estreou na data agendada, mesmo após um roubo que levou os equipamentos de luz. "Na época, tivemos de improvisar e apresentamos a peça usando uma mesa liga e desliga", conta o diretor. Ao destacar momentos positivos de sua jornada com a Cia. de Teatro Construção, ele menciona o convite que recebeu para participar de um curso em Genebra, na Suíça. "Quando cheguei lá, eu era o único latino-americano do encontro, e precisava de mais um representante. Acabou que quando mostrei o vídeo do espetáculo Fala baixo, senão eu grito (1997), com o Hyro no elenco, o produtor do curso disse que o queria lá também. Uma semana depois, ele viajou para Genebra; e isso tudo resultou num trabalho que desenvolvemos na Suíça, que teve a duração de seis meses."
O diretor que dá nome ao Teatro Nilton Filho ressalta que Hyro Mattos o acompanha desde 1992, sendo seu "companheiro inseparável". Juntos, eles montaram mais de 30 espetáculos no decorrer da história do espaço cultural. "Isso sem contar as montagens de conclusão do curso de formação de atores, que tem uma duração de quatro anos", observa Mattos. Ele afirma que o local se mantém graças à persistência da dupla. "É difícil, mas dá", resume. "É um trabalho de formiguinha, mas muito árduo e de muita paixão por todos os momentos vividos e por todas as pessoas que passam por aqui".
Os administradores do espaço cultural destacam que nem tudo são flores. "Já pensamos em fechar as portas, mas a vontade de continuar é reforçada pela paixão pela arte", pondera Mattos. Já Nilton Filho reforça que "a constância é importante para alcançar os objetivos" e reafirma que a recente reconstrução do espaço "só foi possível com a ajuda da comunidade". "O pessoal chegou a criar um grupo de amigos do Teatro Nilton Filho, e tivemos mais de 100 pessoas aqui nos auxiliando", observa. A ajuda não se restringiu à presença de parceiros na ajuda da limpeza e organização do lugar, mas também incluiu doações de café, bolo e salgados para as equipes do mutirão. "No fim, o trabalho de recuperação do espaço após a tragédia virou uma espécie de festa", brinca o diretor, que prefere olhar tudo como uma oportunidade de aprendizado.

"Têm coisas que acontecem na vida que mexem com várias coisas no psicológico, mas que podem ser transformadoras", emenda Mattos, afirmando que os desafios recentes trouxeram "um brilho diferente" para o espaço. Ele pontua que a experiência "reforçou a vontade de continuar" o trabalho que vem sendo desenvolvido pela dupla, e completa dizendo que "a espera (pelas soluções frente a um problema grande) às vezes pode doer, mas as feridas acabam cicatrizando".
Segundo os diretores, o futuro do Teatro Nilton Filho tem sido traçado com projetos de reformas para ampliar seu espaço físico. "Temos a intenção de fazer mais dois andares para abrigar o acervo e uma sala de dança maior. Para isso, precisamos buscar investidores", diz o fundador, destacando que ter um espaço próprio não significa facilidade, uma vez que a Cia. nunca recebeu ajuda de recursos públicos, via editais de Cultura. Nos planos mais próximos da dupla, está a temporada do espetáculo O rato no muro (peça escrita em 1967 pela dramaturga paulista Hilda Hilst), que deverá ocorrer em setembro. "Nosso objetivo é sempre incentivar que as pessoas consumam mais teatro e conheçam o nosso espaço", completa Mattos, ressaltando a importância do público. "O teatro precisa de público. Sem público não existe espetáculo; neste caso, então, é apenas um ensaio." 

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