Neste final de semana, a Muovere Cia de Dança irá estrear sua nova montagem, Breves peças para uma dança marginal, no Teatro Oficina Olga Reverbel, no Complexo Multipalco Eva Sopher (rua Riachuelo, 1089). O espetáculo terá sessões neste sábado e no domingo, sempre às 19h. A apresentação de domingo contará com recursos de acessibilidade, incluindo intérprete de Libras e audiodescrição. Ingressos (R$ 60,00, com opções de meia entrada) estão disponíveis no site do Theatro São Pedro.
Breves peças para uma dança marginal explora a relação entre memória e intermitência por meio de fragmentos coreográficos. A diretora Jussara Miranda (que também assina a concepção coreográfica da montagem) explica que a criação parte de um "turbilhão de ideias, com rupturas e emendas coreográficas", um padrão de comportamento da companhia em sua prospecção de movimentos, principalmente nos últimos anos.
A composição da obra é estruturada por interrupções e recomeços, sem linearidade narrativa. As peças são curtas, algumas com pouco mais de um minuto, outras em torno dos seis, unindo-se por um "contexto contrário" à lógica dos acontecimentos. Não há início, meio e fim, mas sim "lampejos", o que a diretora conecta à ideia do "marginal", de construir fora do teatro e depois levar essa experiência para o espaço teatral.
Desde 2012, a Muovere pesquisa o gestual cotidiano e atua em espaços diversos, incluindo as ruas, sempre reconhecida por uma estética ácida, irônica e provocativa. A marginalidade, nesse contexto, configura uma escolha estética, onde o corpo se torna um "documento-território" de desvio e afirmação. "Essa dança que 'habita as bordas' revela uma 'acidez crítica nas entrelinhas', sem discurso direto, através de 'memes gestuais' e símbolos corporais que abordam questões sociais como economia, gênero e políticas afirmativas", observa Jussara.
O processo criativo refletiu a não linearidade da obra. Jussara descreve que os bailarinos se encontravam (em duplas, trios e quartetos) em horários e locais distintos, sem saber o que os outros estavam criando, para depois comporem juntos a "narrativa de ruptura". Esse método buscou uma interpretação mais explorável e menos "dada gratuitamente", sinaliza a diretora.
A nova montagem de dança da Muovere reúne 11 peças, entre quatro coreografias inéditas e sete do acervo de Jussara, com citações a espetáculos de sua carreira, como Paredes cegas, realizado em 2006 em Salvador por conta do Ateliê de Coreógrafos Brasileiros. Ela enfatiza que, apesar de suas memórias serem a base, a autoria da obra se torna coletiva. "Essas memórias foram muito trabalhadas para contemplar o contexto atual e os pensamentos desses bailarinos, que são muito experientes. São coreógrafos com seus posicionamentos - e trabalhamos sempre com o 'desafiar' e nunca se conformar." A "dança marginal" também se manifesta no atravessamento dos padrões estéticos, com a presença de zonas de sombra onde os artistas passam a contemplar o espetáculo, subvertendo a lógica de quem está em cena e de quem assiste.
A Muovere Cia de Dança dá continuidade à sua trajetória investigativa com esta montagem através do incentivo do Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas 2023 - Grupos e Coletivos Artísticos. Para ela, a iniciativa da Funarte é uma das "políticas mais bem-sucedidas" do Ministério da Cultura, uma vez que fomenta a empregabilidade e a previsibilidade das ações artísticas. "Esse apoio permite que os integrantes da Cia se dediquem integralmente ao projeto", pontua. Jussara também aponta que o reconhecimento da Funarte "abre muitas associações entre instituições parceiras e apoiadores", validando a companhia.
Somando 36 anos de atuação, a Muovere Cia de Dança enxerga seu papel na cena da dança contemporânea nacional através da ampliação e diversificação de sua distribuição, destaca Jussara. "O que mais está em jogo é o que esse novo espetáculo traz do lado de fora: nossas memórias", afirma a artista, referindo-se à longa experiência da companhia, que "nunca parou de trabalhar e nunca ficou olhando para o mesmo lugar". Segundo a diretora, Breves peças marca o retorno da companhia à sala teatral com o "contágio" do campo urbano, o que diferencia a cena pronta em sala da imprevisibilidade da rua.