Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 22 de Julho de 2025 às 15:22

Espetáculo 'Rhinocerontes' discute a alienação que alimenta os regimes totalitários

Vencedor do Prêmio Açorianos 2025 em sete categorias, espetáculo 'Rhinocerontes', da Cia. Teatrofídico, é atração desta sexta-feira (25), na Mostra Movimenta Cena Sul

Vencedor do Prêmio Açorianos 2025 em sete categorias, espetáculo 'Rhinocerontes', da Cia. Teatrofídico, é atração desta sexta-feira (25), na Mostra Movimenta Cena Sul

Adriana Marchiori/Divulgação/JC
Compartilhe:
Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Nesta sexta-feira (25), às 20h, o espetáculo Rhinocerontes, da Cia. Teatrofídico, estreia no Multipalco Eva Sopher dentro da programação da Mostra Movimenta Cena Sul, promovida pela Fundação Teatro São Pedro, em parceria com a Associação Amigos do Theatro São Pedro e a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac-RS). Livremente inspirada na obra de Eugène Ionesco, a montagem dirigida por Eduardo Kraemer é uma sátira sobre a conformidade e a alienação da sociedade contemporânea, e será encenada pela primeira vez fora do Bar Ocidente, onde vem realizando temporadas desde setembro de 2023. Os ingressos custam R$ 20,00 (meia-entrada) e R$ 40,00 (inteira) e podem ser adquiridos pelo site do Theatro São Pedro (TSP). 
Nesta sexta-feira (25), às 20h, o espetáculo Rhinocerontes, da Cia. Teatrofídico, estreia no Multipalco Eva Sopher dentro da programação da Mostra Movimenta Cena Sul, promovida pela Fundação Teatro São Pedro, em parceria com a Associação Amigos do Theatro São Pedro e a Secretaria de Estado da Cultura (Sedac-RS). Livremente inspirada na obra de Eugène Ionesco, a montagem dirigida por Eduardo Kraemer é uma sátira sobre a conformidade e a alienação da sociedade contemporânea, e será encenada pela primeira vez fora do Bar Ocidente, onde vem realizando temporadas desde setembro de 2023. Os ingressos custam R$ 20,00 (meia-entrada) e R$ 40,00 (inteira) e podem ser adquiridos pelo site do Theatro São Pedro (TSP). 
Metáfora da ascensão dos regimes totalitários, especialmente o nazismo, e da influência das ideologias fascistas sobre o comportamento humano, o espetáculo ilustra a transformação gradual dos habitantes de uma cidade em rinocerontes. Segundo Kraemer, o texto da montagem da Cia. Teatrofídico não é uma transposição literal da obra de Ionesco. "Acabamos deixando o texto original (que é uma resposta ao fascismo da Segunda Guerra Mundial) mais como uma fonte de inspiração, e reescrevemos a peça de acordo com nossa linguagem e nosso entendimento do que ali é dito", explica. 
"Quando eu li o texto do Ionesco em 2020, percebi que aquilo também estava acontecendo com a gente. Então, a peça foi a nossa resposta ao que se instalou no Brasil em 2018 e que, infelizmente, segue acontecendo no País e no mundo. É uma luta contínua; com apenas algumas batalhas vencidas, visto que sempre ocorrem retrocessos", observa o diretor do espetáculo. Sobre a relevância da temática de Rhinocerontes, Kraemer destaca o papel da arte em abordar questões sociais e políticas.
"A arte tem a possibilidade de colocar as coisas que vivemos em pauta de uma maneira alterada, cômica, satírica, trágica. O teatro é um espelho das ações humanas", afirma. "Quando debochamos da extrema-direita, estamos expressando que não concordamos com isso tudo, que não queremos que se instale o racismo, o machismo, a homofobia", emenda o diretor do espetáculo, lembrando que a artes cênicas têm a capacidade de abrir "portas de percepção" para o público, semeando conscientização.  
Na montagem da Cia. Teatrofídico, o protagonista é interpretado um ator negro (Alexandre Farias), e sofre manifestações de racismo – escolha que traz uma atualização ao texto que inspirou o espetáculo. Kraemer destaca a intensidade dessas cenas, avaliando que a encenação, nesse sentido, "é bem pesada". "Apesar de satírica, a peça aborda situações que geram reflexão, como no caso do racismo estrutural. O diretor pondera que Farias é "a voz" do racismo sofrido, enquanto o grupo atua como "aliado" na causa. No elenco, ainda estão Renato del Campão, Diego Stefani, Pingo Alabarce, Juliana Strehlau, João Petrillo e Bibi Dias
"Todos os dias acontecem violências contra minorias (LGBTQIA+, negros, indígenas, mulheres...), e centenas de milhares de pessoas sofrem com isso. A peça utiliza o racismo apenas como um recorte (e não como uma bandeira, em específico) para discutir o fascismo", pontua o diretor. Kraemer ressalta que "a montagem é avassaladora, mas que é uma alegoria". "Não citamos nomes, nem partido político", esclarece, ao comentar sobre os personagens "monstros" que se apresentam no espetáculo, e que revelam semelhanças entre grupos de pessoas do passado e do presente.
Consagrado pelo Prêmio Açorianos de Teatro 2025 em sete categorias – Melhor Espetáculo, Melhor Direção (para Eduardo Kraemer), Melhor Ator (para Alexandre Farias), Melhor Cenário (para Diego Stefani), Melhor Figurino (para Diego Stefani), Melhor Produção (para Eduardo Kraemer) e Melhor Iluminação (para Rubens Koshimizu) além de ter recebido 15 indicações (com todos os sete atores indicados em diferentes categorias (melhor ator e melhor ator/atriz coadjuvante), Rhinocerontes foi o espetáculo de teatro adulto mais premiado do ano. Kraemer destaca que as laureações vieram dois anos após a criação da peça, mas diz que a montagem já era "bastante popular", com o grupo recebendo muitos feedbacks positivos de seu público. 
"Esse reconhecimento veio como uma celebração de toda essa reverberação que causa nas pessoas que assistem a peça", avalia o diretor, ressaltando que trata-se de uma montagem política, que propõe "através de uma dureza grande (nas cenas de racismo)" a temática da resistência, representada pelo personagem de Farias. "É uma peça necessária, que fala de um momento bizarro que nosso País passou, e que nunca acaba, pois o facismo está sempre presente. Precisamos falar disso, para que não domine nossas vidas."
Por conta da estrutura original de sua encenação, Rhinocerontes chega ao Multipalco Eva Sopher em uma nova roupagem, o que estabeleceu uma provocação à Cia. Teatrofídico, considerando que o espetáculo agora deve se adequar também a um palco italiano. A peça tem três atos: o primeiro inicia na rua e, no caso desta apresentação integrante da Mostra Movimenta Cena Sul, essa parte do espetáculo será encenada na Praça da Matriz, seguindo para o pátio central do Multipalco. Já o segundo ato acontecerá no Teatro Oficina Olga Reverbel, enquanto o terceiro ato ocorrerá no Teatro Simões Lopes Neto

"Nossa ideia é transformar (durante o espetáculo) o palco do Simões Lopes Neto em uma arena, com parte da plateia junto dos atores", revela Kraemer, pontuando que a busca pela proximidade com o público é uma característica Cia. Teatrofídico. "Ter essa oportunidade de ampliar a capacidade da peça se comunicar em qualquer espaço é muito bom e mexe com a gente. É um desafio, um recomeço – é quase como uma reestreia. Estamos bem animados", comenta, lembrando que o público desta sexta-feira percorrerá diferentes ambientes do Multipalco, "incluindo áreas de bastidores" (antes de chegar ao Teatro Simões Lopes Neto).

Somando 22 anos de trajetória, a Cia. Teatrofídico costuma busca abordar assuntos contundentes e provocar a plateia. Kraemer define o grupo como uma "ideia-chama" que se mantém acesa. "Enquanto a gente tiver como carregar essa chama, a gente carrega, vamos em frente; assim como foi com o projeto Usinas das Artes, no qual passamos dez anos junto com outros coletivos artísticos, lutando para que não caísse nas mãos da iniciativa privada, como vai acontecer agora, para exploração comercial", observa. 

Sobre o cenário teatral gaúcho, o diretor enfatiza a importância de mostras e festivais de fomento, a exemplo do Movimenta Cena Sul. "É um fortalecimento da arte que é feita aqui", declara. "O Multipalco tem uma importância muito grande na cidade, e estar nesse lugar com outros grupos locais é fundamental para reverberar o que acontece em Porto Alegre".

Notícias relacionadas