Anselmo Cunha rolava a tela do celular, distraído, quando recebeu a notícia de que seria um dos novos vencedores da maior competição de fotografia do mundo. Trabalhando na mesa à frente, sua companheira foi despertada de súbito pelos gritos. “Eu ganhei! Eu ganhei”, exclamava repetidamente o fotojornalista diante do e-mail que exibia o título World Press Photo em letras garrafais. Alguns meses antes, Anselmo havia submetido ao concurso uma das imagens capturadas durante sua cobertura da enchente que assolou o Rio Grande do Sul, em maio de 2024.
Foi uma fotografia registrada do topo de um helicóptero da polícia militar do Distrito Federal, destinado a levar uma equipe médica de Porto Alegre a Guaíba. Era dia 20 de maio, e Anselmo tinha passado três horas plantado no interior do Batalhão de Cavalaria, a CG, aguardando o momento em que algum veículo aéreo tivesse algum espaço de sobra para que ele pudesse sobrevoar a cidade e capturar algumas imagens. “Quando chegamos no hospital, eu fiquei conversando com a equipe de segurança, expliquei a minha situação e eles se solidarizaram, permitiram que nós fôssemos até o aeroporto e fizéssemos um sobrevoo por lá”, conta ele.
No momento em que o helicóptero chegou ao aeroporto, o fotógrafo afirma que foi como um passe de mágica. O céu, antes nublado e carregado de chuva, havia limpado completamente. O pôr do sol agora ocupava toda a imensidão azulada e refletia na água quase como se formasse um espelho. E o avião, em meio a toda aquela paisagem, residia solitário no centro da imagem.
Para o fotógrafo, a sensação de ter ganhado um prêmio por essa imagem foi como receber um atestado de que toda sua trajetória, por mais árdua e tumultuosa, não havia sido em vão. Era uma prova de que ele estava certo. Sobre quem era, sobre o que havia decidido fazer com sua vida. Sobre seu lugar no mundo.
Anselmo, que nasceu em uma família de classe trabalhadora da periferia da capital gaúcha, não sabia que seria fotógrafo até entrar na universidade. Em 2010, o bolsista adentrou as portas da faculdade de jornalismo do IPA pela primeira vez com o sonho de ser repórter de texto. Foi apenas no sexto semestre, a partir do encontro com uma professora que o incentivou a começar a fotografar, e de um estágio na prefeitura de Porto Alegre onde pôde entrar em contato com uma câmera, que ele começou a pensar que, talvez, fosse aquele o seu caminho dentro da profissão. “Eu venho de uma família que não é muito aberta à arte. Sempre foi muito valorizada a cultura de trabalho duro como processo de formação do sujeito, e era muito difícil que meus pais entendessem a arte também como trabalho, o valor do trabalho artístico. Então, também teve uma certa resistência da minha parte, para entender que a fotografia poderia ser uma profissão”, relembra Anselmo.
Essa relação com a fotografia, que consiste menos em um amor à primeira vista e mais em uma paixão adquirida - e que sempre prezou pela arte utilizada com um propósito, com uma intenção - representa uma força motivadora atravessando a estética de toda e qualquer peça do seu trabalho. É um caráter que permeia todos os seus projetos anteriores. Está na monotonia do cotidiano de Just another day, que retrata a passagem de um dia comum na Lagoa dos Patos. Está no confronto com a finitude de Last night I dreamed of all the endings in life, onde são registradas situações marcadas pelo término, a conclusão de algo. E também se faz presente na seleção no qual Anselmo está trabalhando atualmente, All that remains, que fala da vida no Humaitá, bairro onde nasceu.
Existe, nas fotografias de Anselmo, um apreço pelo silêncio, pela reflexão. Pelas nuances que contemplam, em uma só imagem, camadas e camadas de interpretação. “A gente tem, na vida, um movimento onde é tudo muito rápido, muito dinâmico. A fotografia é um convite para parar", pondera o fotojornalista.
Foi uma fotografia registrada do topo de um helicóptero da polícia militar do Distrito Federal, destinado a levar uma equipe médica de Porto Alegre a Guaíba. Era dia 20 de maio, e Anselmo tinha passado três horas plantado no interior do Batalhão de Cavalaria, a CG, aguardando o momento em que algum veículo aéreo tivesse algum espaço de sobra para que ele pudesse sobrevoar a cidade e capturar algumas imagens. “Quando chegamos no hospital, eu fiquei conversando com a equipe de segurança, expliquei a minha situação e eles se solidarizaram, permitiram que nós fôssemos até o aeroporto e fizéssemos um sobrevoo por lá”, conta ele.
No momento em que o helicóptero chegou ao aeroporto, o fotógrafo afirma que foi como um passe de mágica. O céu, antes nublado e carregado de chuva, havia limpado completamente. O pôr do sol agora ocupava toda a imensidão azulada e refletia na água quase como se formasse um espelho. E o avião, em meio a toda aquela paisagem, residia solitário no centro da imagem.
Para o fotógrafo, a sensação de ter ganhado um prêmio por essa imagem foi como receber um atestado de que toda sua trajetória, por mais árdua e tumultuosa, não havia sido em vão. Era uma prova de que ele estava certo. Sobre quem era, sobre o que havia decidido fazer com sua vida. Sobre seu lugar no mundo.
Anselmo, que nasceu em uma família de classe trabalhadora da periferia da capital gaúcha, não sabia que seria fotógrafo até entrar na universidade. Em 2010, o bolsista adentrou as portas da faculdade de jornalismo do IPA pela primeira vez com o sonho de ser repórter de texto. Foi apenas no sexto semestre, a partir do encontro com uma professora que o incentivou a começar a fotografar, e de um estágio na prefeitura de Porto Alegre onde pôde entrar em contato com uma câmera, que ele começou a pensar que, talvez, fosse aquele o seu caminho dentro da profissão. “Eu venho de uma família que não é muito aberta à arte. Sempre foi muito valorizada a cultura de trabalho duro como processo de formação do sujeito, e era muito difícil que meus pais entendessem a arte também como trabalho, o valor do trabalho artístico. Então, também teve uma certa resistência da minha parte, para entender que a fotografia poderia ser uma profissão”, relembra Anselmo.
Essa relação com a fotografia, que consiste menos em um amor à primeira vista e mais em uma paixão adquirida - e que sempre prezou pela arte utilizada com um propósito, com uma intenção - representa uma força motivadora atravessando a estética de toda e qualquer peça do seu trabalho. É um caráter que permeia todos os seus projetos anteriores. Está na monotonia do cotidiano de Just another day, que retrata a passagem de um dia comum na Lagoa dos Patos. Está no confronto com a finitude de Last night I dreamed of all the endings in life, onde são registradas situações marcadas pelo término, a conclusão de algo. E também se faz presente na seleção no qual Anselmo está trabalhando atualmente, All that remains, que fala da vida no Humaitá, bairro onde nasceu.
Existe, nas fotografias de Anselmo, um apreço pelo silêncio, pela reflexão. Pelas nuances que contemplam, em uma só imagem, camadas e camadas de interpretação. “A gente tem, na vida, um movimento onde é tudo muito rápido, muito dinâmico. A fotografia é um convite para parar", pondera o fotojornalista.