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Publicada em 15 de Junho de 2025 às 19:46

Última exposição de Brígida Baltar busca o tempo que não existe no Instituto Ling

A pele da planta, última exposição planejada pela artista brasileira Brígida Baltar, está disponível para visitação gratuita no Instituto Ling

A pele da planta, última exposição planejada pela artista brasileira Brígida Baltar, está disponível para visitação gratuita no Instituto Ling

MACIEL GOEZER/DIVULGAÇÃO/JC
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Luiza Weiler
“Na verdade, não há tempo para tudo. Na vida e na arte” - Brígida Baltar, 2020Anos, décadas de história perfuravam as paredes do Instituto Ling (rua João Caetano, 440) na última terça-feira (10), quando foi montada a última das 40 obras que compõem a exposição final planejada por Brígida Baltar. Projetada especialmente para compor o centro cultural do bairro Três Figueiras de Porto Alegre, A pele da planta fica em cartaz até o dia 9 de agosto, com visitação gratuita mediante inscrições no site do instituto. Na verdade, as fotografias ou o bordado final incompleto deixados por aquela que ficou marcada como um dos nomes mais importantes das artes visuais no Brasil pouco são responsáveis pela história que se concentrava nas entranhas do Instituto Ling naquela tarde de terça-feira. Isso se deve, bem mais, à presença de três pessoas que conheceram de modo muito aprofundado a história de Brígida: o curador Marcelo Campos, o presidente do Instituto Brígida Baltar Jocelino Faria e Tiago Baltar, filho da artista. Foram eles que assumiram responsabilidade, em um conjunto de ideias, de concretizar aquela que ficaria conhecida como a última exposição de Brígida. Conceitualmente, o trabalho do corpo, que sempre foi muito presente na obra da artista, agora chega ao seu auge na nova mostra. Todo o fio condutor da mostra é muito marcado pelo processo de enfrentamento de uma doença terminal por parte da autora, que anos antes havia sido diagnosticada com leucemia. Em A pele da planta, o ser humano não é mais somente o objeto de estudo, mas sim o personagem principal: são as marcas da quimioterapia que aparecem nas fotografias, são as intersecções de espécies de plantas que representam o renascimento após o transplante de medula óssea, são os pássaros que devoram um ao outro nos esforços de manter, simultaneamente, duas vidas. Além disso, a coisa física que nunca a abandona, também aparece no novo trabalho. Mesmo que desta vez não seja em formato de pó de tijolo, ou de filmes gravados em Super 8, a fisicalidade está expressa de todas as maneiras na mostra. É algo que pode ser sentido, que ultrapassa a visão e atinge o toque, o sentimento, a materialidade do catálogo. “A gente vê um gesto de coragem na produção da Brígida, em que a própria artista se coloca como personagem da dessas fábulas. Porque ali tudo parece fábula, ficção, história. E ela tinha uma potência de fazer projetos grandes, ousados, que duravam anos. O Abrindo a janela, por exemplo, que era ela e o filho pequeno [Tiago] marretando a parede da casa”, relembra Jocelino. Tudo foi muito bem planejado por Brígida. Os esquemas primários da exposição, na qual a artista rascunhava obsessivamente e repetidamente, constam até mesmo nas paredes da mostra. De acordo com seu filho Tiago, há algo da ordem do técnico, do metódico, que perdura até mesmo na sua obra póstuma. “Tem uma organização a que ela se dedica, que são assim, manuais de instrução, de como montar obras mais complexas, e os próprios cadernos que nós transcrevemos, que continham instruções, pistas e regras. Já tem a pista poética, que é a produção dela ao longo da vida, e agora tem as instruções metodológicas".
“Na verdade, não há tempo para tudo. Na vida e na arte” - Brígida Baltar, 2020

Anos, décadas de história perfuravam as paredes do Instituto Ling (rua João Caetano, 440) na última terça-feira (10), quando foi montada a última das 40 obras que compõem a exposição final planejada por Brígida Baltar. Projetada especialmente para compor o centro cultural do bairro Três Figueiras de Porto Alegre, A pele da planta fica em cartaz até o dia 9 de agosto, com visitação gratuita mediante inscrições no site do instituto.

Na verdade, as fotografias ou o bordado final incompleto deixados por aquela que ficou marcada como um dos nomes mais importantes das artes visuais no Brasil pouco são responsáveis pela história que se concentrava nas entranhas do Instituto Ling naquela tarde de terça-feira. Isso se deve, bem mais, à presença de três pessoas que conheceram de modo muito aprofundado a história de Brígida: o curador Marcelo Campos, o presidente do Instituto Brígida Baltar Jocelino Faria e Tiago Baltar, filho da artista. Foram eles que assumiram responsabilidade, em um conjunto de ideias, de concretizar aquela que ficaria conhecida como a última exposição de Brígida.

Conceitualmente, o trabalho do corpo, que sempre foi muito presente na obra da artista, agora chega ao seu auge na nova mostra. Todo o fio condutor da mostra é muito marcado pelo processo de enfrentamento de uma doença terminal por parte da autora, que anos antes havia sido diagnosticada com leucemia. Em A pele da planta, o ser humano não é mais somente o objeto de estudo, mas sim o personagem principal: são as marcas da quimioterapia que aparecem nas fotografias, são as intersecções de espécies de plantas que representam o renascimento após o transplante de medula óssea, são os pássaros que devoram um ao outro nos esforços de manter, simultaneamente, duas vidas. 

Além disso, a coisa física que nunca a abandona, também aparece no novo trabalho. Mesmo que desta vez não seja em formato de pó de tijolo, ou de filmes gravados em Super 8, a fisicalidade está expressa de todas as maneiras na mostra. É algo que pode ser sentido, que ultrapassa a visão e atinge o toque, o sentimento, a materialidade do catálogo. “A gente vê um gesto de coragem na produção da Brígida, em que a própria artista se coloca como personagem da dessas fábulas. Porque ali tudo parece fábula, ficção, história. E ela tinha uma potência de fazer projetos grandes, ousados, que duravam anos. O Abrindo a janela, por exemplo, que era ela e o filho pequeno [Tiago] marretando a parede da casa”, relembra Jocelino.

Tudo foi muito bem planejado por Brígida. Os esquemas primários da exposição, na qual a artista rascunhava obsessivamente e repetidamente, constam até mesmo nas paredes da mostra. De acordo com seu filho Tiago, há algo da ordem do técnico, do metódico, que perdura até mesmo na sua obra póstuma. “Tem uma organização a que ela se dedica, que são assim, manuais de instrução, de como montar obras mais complexas, e os próprios cadernos que nós transcrevemos, que continham instruções, pistas e regras. Já tem a pista poética, que é a produção dela ao longo da vida, e agora tem as instruções metodológicas".
Mas, mesmo com todas as dicas, não é fácil remontar um legado. Há sempre algo que se perde nesse processo, e, simultaneamente, alguma coisa que surge que não estava ali anteriormente. Nesse sentido, A pele da planta é um ensinamento sobre reconhecer aquilo que é essencial. Na verdade, não há tempo para tudo. E é justamente essa continuidade que pauta e atravessa toda essa produção, como atesta Marcelo. “A exposição faz com que um público também se encontre com essa coragem, de assumir a doença, mas não no sentido de uma narrativa pessimista, ou que fala sobre o fim - nunca é sobre o fim. Tem sempre uma coisa que persiste”.

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