Dentre as atrações mais esperadas da programação do 19º Palco Giratório, o espetáculo Ao vivo (dentro da cabeça de alguém) será apresentado no Teatro Simões Lopes Neto (rua Riachuelo, 1.089) às 20h desta quarta-feira (4), com tradução simultânea de Libras, e na quinta (5), tambem às 20h, com audiodescrição. A montagem da aclamada Companhia Brasileira de Teatro conta com texto e direção de Marcio Abreu e tem a atriz Renata Sorrah no elenco, ao lado de Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Bárbara Arakaki e Bianca Manicongo (também conhecida como Bixarte). Os ingressos podem ser adquiridos nas Unidades Sesc/RS, no site do Festival, e na bilheteria do teatro (havendo disponibilidade), uma hora antes de cada apresentação.
Abreu, que contou com a parceria dos artistas Nadja Naira, Cássia Damasceno e José Maria para a pesquisa e criação do espetáculo, destaca que a peça é uma "imersão na memória íntima e coletiva". Ele explica que o trabalho do grupo teve como ponto de partida uma experiência real vivida por Renata em 1974, durante o processo da montagem de A gaivota (de Anton Tchekhov) dirigida pelo encenador argentino-francês Jorge Lavelli.
"Foi uma história muito linda: ela teve uma epifania a caminho de um ensaio daquela peça, como se, subitamente, tivesse consciência do mundo, do passado, do presente e do futuro", revela o diretor de Ao vivo (dentro da cabeça de alguém). "A partir da relação com esse episódio, eu construí toda uma ficção, que diáloga com a peça A gaivota, que apesar de ter sido escrita em 1896, trata de coisas muito atuais como diferenças de relações, perspectiva de uma juventude frente ao futuro, questões de pessoas que se relacionam com seus desejos e sonhos (alcançados e realizados ou não). Tudo isso também permeia a nossa montagem", afirma o artista.
A narrativa do espetáculo da Companhia Brasileira de Teatro habita justamente na memória e no imaginário de uma atriz. A personagem recorda do dia em que, dirigindo um carro a caminho de um ensaio, teve uma sensação inédita, em uma fração de segundos, como se o topo da sua cabeça se abrisse e ela tivesse uma súbita consciência do todo: tudo ficou nítido, ela mesma, as outras pessoas, seu lugar no mundo, as coisas, sua conexão com o universo, o tempo passado e o tempo futuro. Nesse outro estado de consciência, ela revê personagens de sua vida e de sua arte, atravessando o tempo e ressignificando suas existências. "Essa vivência de potência de vida ampliada é o que instiga o público, que perde a noção do tempo na peça", avalia o diretor.
"Todos do elenco fazem o universo mental e imaginário (de memória e de sonho) desta atriz, e todos representam dimensões desta personagem", destaca Abreu. Ele observa que no decorrer da peça surgem ainda questões como o valor da arte, da construção das relações (e como essas se modificam com o tempo), sobre como a história interfere na vida das pessoas e vice-versa, sobre futuros possíveis, sobre direitos da mulher em uma sociedade machista, etarista e conservadora, entre muitas outras.
"Todos do elenco fazem o universo mental e imaginário (de memória e de sonho) desta atriz, e todos representam dimensões desta personagem", destaca Abreu. Ele observa que no decorrer da peça surgem ainda questões como o valor da arte, da construção das relações (e como essas se modificam com o tempo), sobre como a história interfere na vida das pessoas e vice-versa, sobre futuros possíveis, sobre direitos da mulher em uma sociedade machista, etarista e conservadora, entre muitas outras.
Com uma linguagem diversificada, que reflete a dinâmica de um sonho, a montagem conta com cenas que se aproximam do realismo, mas possuem uma dimensão performática, sonora e musical que busca traduzir a multiplicidade da memória. "Tem uma lógica de sonho, onde tudo pode acontecer", sinaliza o diretor, ao pontuar que dança, música, canto, Slam e performance se entrelaçam no espetáculo, criando uma fisicalidade "muito forte". "A cenografia conta com duas grandes telas de projeção que se transformam, movimentando-se em cena e reconfigurando o espaço, enquanto vídeos ao vivo e pré-gravados, iluminação e figurinos se complementam para dar forma a essa jornada onírica."
Abreu observa que a peça convida o público a 'entrar dentro da cabeça' da personagem. "Por isso a composição de um universo em movimento, múltiplo (como o sonho, a memória e o imaginário). Existe uma pluraridade de perspectivas, de possibilidades de perceber o mundo, de se ver e de ver o outro", argumenta o diretor. "Quando entramos na cabeça de alguém, no campo dinâmico de produção de memória, percebemos que a vida de um sujeito não é formada apenas por uma individualidade, mas por uma multidão de possibilidades de ser", emenda.
Com uma equipe diversa de multiartistas e parceiros colaboradores da Companhia Brasileira de Teatro, Ao vivo (dentro da cabeça de alguém) conta com instalação cenográfica e vídeos criados pelo cineasta, artista visual e diretor Batman Zavereze; figurinos do estilista e criador Luiz Claudio Silva (e sua marca Apartamento 03); direção musical e trilha sonora original do multi-instrumentista Felipe Storino; direção de movimento e colaboração criativa da diretora, coreógrafa e bailarina Cristina Moura; fotografias e documentação do projeto da artista Nana Moraes; e assistência de direção e colaboração criativa do ator, bailarino e pesquisador Fábio Osório Monteiro.