Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 28 de Maio de 2025 às 16:31

Buzzcocks põe público para dançar em uma divertida aula de punk rock em Porto Alegre

Banda britânica Buzzcocks fez show no Opinião na última terça-feira

Banda britânica Buzzcocks fez show no Opinião na última terça-feira

EVANDRO OLIVEIRA/JC
Compartilhe:
Igor Natusch
Igor Natusch Editor de Cultura
A noite de terça-feira (27) em Porto Alegre poderia estar convidativa para várias atividades (a maioria delas em casa, de preferência debaixo das cobertas), mas curtir um show de rock certamente não estaria entre elas. De certa forma, foi como se a Capital assumisse um clima tipicamente inglês para receber os britânicos do Buzzcocks: chuva incessante, vento gelado, céu de cinza compacto e quase opressivo. Foi preciso coragem e paixão pela música, sem dúvida - mas as cerca de 400 pessoas que compareceram ao Opinião foram plenamente recompensadas, já que as lendas do punk rock entregaram um show divertido e cheio de energia, daqueles que todo mundo lembra mais tarde com um sorriso no rosto. 
A noite de terça-feira (27) em Porto Alegre poderia estar convidativa para várias atividades (a maioria delas em casa, de preferência debaixo das cobertas), mas curtir um show de rock certamente não estaria entre elas. De certa forma, foi como se a Capital assumisse um clima tipicamente inglês para receber os britânicos do Buzzcocks: chuva incessante, vento gelado, céu de cinza compacto e quase opressivo. Foi preciso coragem e paixão pela música, sem dúvida - mas as cerca de 400 pessoas que compareceram ao Opinião foram plenamente recompensadas, já que as lendas do punk rock entregaram um show divertido e cheio de energia, daqueles que todo mundo lembra mais tarde com um sorriso no rosto. 
Na verdade, e por mais que se associe o conjunto com a explosão que legou ao mundo ícones como Sex Pistols e The Clash, o Buzzcocks é mais adequadamente descrito como um dos fundadores do power pop - uma variante na qual a energia punk trabalha a favor de melodias grudentas, composições no geral bem-humoradas e um clima voltado muito mais à diversão do que ao ultraje ou misantropia. Hoje liderada pelo guitarrista Steve Diggle (que assumiu também os vocais após a morte do antigo líder Pete Shelley, em 2018), a banda segue fiel à uma definição aplicada a eles lá atrás, na reta final dos caóticos anos 1970: eles são, de fato, os punks que você poderia apresentar à sua mãe - e não há problema algum nisso, pode acreditar.
Banda britânica Buzzcocks se apresentou pela segunda vez em Porto Alegre nesta terça-feira (27) | EVANDRO OLIVEIRA/JC
Banda britânica Buzzcocks se apresentou pela segunda vez em Porto Alegre nesta terça-feira (27) EVANDRO OLIVEIRA/JC
A abertura da noite (um tanto misteriosa, já que não constava em lugar algum do material promocional) ficou a cargo da banda Treva, que apresentou um bom punk rock melancólico com letras em português. Para quem está mais por dentro do estilo, grupos como Social Distortion e Nothington talvez sejam boas referências para o som do quarteto, que lidou bem com o Opinião ainda semivazio e fez por merecer a generosa acolhida dos presentes.
Com pontualidade nada britânica (cerca de 40 minutos de atraso), o sistema de som começou a tocar a grandiloquente Also sprach Zarathustra, de Strauss, até que... Tudo parasse de repente, segundos depois. Ninguém entendeu muito bem, mas comentou-se como o aparente equívoco poderia ter sido, na verdade, uma introdução perfeita para a banda principal, transformando a pompa em uma divertida quebra de expectativas. Não era o caso, já que minutos depois a introdução foi tocada na íntegra - mas a parte da diversão ao menos seguiu valendo, já que o Buzzcocks subiu ao palco sem qualquer afetação, com uma versão afiada de What Do I Get?
Único membro da formação clássica, Steve Diggle mostrou alegria genuína de estar no palco | EVANDRO OLIVEIRA/JC
Único membro da formação clássica, Steve Diggle mostrou alegria genuína de estar no palco EVANDRO OLIVEIRA/JC
Aliás, para esses velhos cães do punk rock, o truque mais efetivo parece ser, de fato, não apostar em truque algum. Nada de cenários ou pano de fundo, sem roupas chamativas ou qualquer exagero performático - nem mesmo o nome da banda nos telões do Opinião, que ficaram desligados durante todo o show. Usando uma camiseta polo branca, parecendo mais um tio que a gente encontra nos churrascos de família do que o líder de uma lenda do rock, Steve Diggle comandava o palco com uma genuína felicidade de tocar os velhos hits, andando de forma quase desengonçada pelo palco e tocando os solos simples da banda sem tirar jamais o sorriso do rosto. Seus colegas de banda - Chris Remington (baixo), Danny Farrant (bateria) e o guitarrista de turnê Mani Perazzoli - são um pouco mais contidos, mas também evitam a pose típica do roqueiro cheio de si, concentrando-se em cumprir suas tarefas com energia e precisão. No palco, o Buzzcocks era pura filosofia punk, justamente por não tentar fingir ser nada mais do que eles próprios - e o público respondeu muito bem à honestidade vinda do palco, dançando e cantando junto desde os primeiros instantes da apresentação.
O show foi quase que dividido em duas partes. Na primeira hora de show, os destaques ficaram para Everybody's Happy Nowadays, Fast Cars, Isolation (uma das mais festejadas da noite), Autonomy e a desbocada Orgasm Addict - todas tocadas de forma quase lúdica, com eventuais esticadas instrumentais que apenas davam mais tempo para o público pular para lá e para cá. Após encerrar a primeira parte com a recente Manchester Rain, o grupo retirou-se do palco, demorando um pouco mais do que a média das bandas que mal fingem um bis que todo mundo sabe que vai acontecer. Depois de cerca de três minutos (uma eternidade em situações do tipo), Diggle voltou com uma guitarra acústica para tocar a excelente Love is Lies - e o que parecia que seria um bis protocolar, daqueles com duas ou três músicas antes dos agradecimentos de praxe, virou quase uma segunda parte do show, com nada menos de sete músicas tocadas em rápida sucessão. Surpresa com a sucessão de maravilhas do punk melódico como Promises, Boredom e Chasing Rainbows, a plateia reagiu com empolgação renovada - foi quase como se o show se reacendesse, na verdade, com direito até a animadas 'rodinhas' no meio da pista.
Banda apostou em cenário despojado, sem panos de fundo ou recursos visuais chamativos | EVANDRO OLIVEIRA/JC
Banda apostou em cenário despojado, sem panos de fundo ou recursos visuais chamativos EVANDRO OLIVEIRA/JC
"Não vou dizer que vejo vocês na próxima, porque não sei se vai acontecer. Talvez estejamos todos mortos até lá", disse Steve Diggle antes da última música, com honestidade ferina para quem acabou de fazer 70 anos. "Mas foi uma ótima noite. Obrigado a todos e voltem bem para casa". Como se vê, um discurso muito longe do estereótipo mal educado do punk - e que introduziu a indefectível Ever Fallen in Love, hit maior da banda e que colocou o Opinião em alegre erupção. Duvido que, nesse momento, qualquer um dos presentes lembrasse que, lá fora, uma chuva inclemente e um frio e molhado retorno para casa os aguardava - sinal de que, durante pouco menos de duas horas, Porto Alegre teve um canto ensolarado, cheio de alegres distorções e rebeldia eternamente juvenil. Um refúgio para o punk de bom coração em cada um de nós.
Quem encarou a chuva e o frio em Porto Alegre foi brindado com um show memorável da banda britânica Buzzcocks  | EVANDRO OLIVEIRA/JC
Quem encarou a chuva e o frio em Porto Alegre foi brindado com um show memorável da banda britânica Buzzcocks EVANDRO OLIVEIRA/JC

Notícias relacionadas