Um ano após as enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul, o Instituto Ling realiza a segunda edição da Feira do Livro Reconstrói RS. O objetivo do evento, que teve início nesta sexta-feira (16) e segue até domingo (18), é apoiar o setor literário, que sofreu fortemente com a tragédia climática de 2024.
A feira acontece na sede do Instituto, na rua João Caetano, nº 440, no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre. E neste ano conta com 32 expositores, entre autores, editoras e livrarias, além de sessões de autógrafos que ocorrem a cada 45 minutos e várias atividades voltadas ao público infantil, como contação de histórias e peças de teatro.
A primeira edição do evento ocorreu em junho do ano passado, apenas um mês após o período mais crítico da enchente na Capital. "O setor foi muito atingido pela enchente. Naquele momento, muitas livrarias vieram para cá apenas com o que tinham conseguido salvar", rememora Carolina Rosado, gerente do Instituto Ling.
Contação do livro Os três porquinhos pobres, com Marô Barbieri, na manhã deste sábado (17) no Instituto Ling
Giovanna Sommariva/Especial/JC
Neste ano, Rosado explica que a realização da feira partiu de uma escuta do próprio segmento, e não descarta a possibilidade de tornar o evento anual. "O pessoal dizia que tinha que ter. Nós estamos avaliando e amando fazer. Aprendemos muito ano passado e neste ano temos várias melhorias. Ainda é um talvez, mas acredito que o caminho é esse [tornar anual]", comenta.
A primeira edição recebeu 10 mil visitantes durante os três dias de evento, e a expectativa é repetir o marco neste ano. "Convocamos a comunidade para esse apoio. O segmento já vem sofrendo nos últimos anos com as compras online, com essa mudança de comportamento, dos streamings, são muitos concorrentes para a leitura, então acreditamos que a comunidade abraçar esse segmento é essencial para a sobrevivência dele", reforça Rosado.
Para Carolina Argenti Rocha, fundadora da editora Palavra Bordada, de Canoas, a realização da feira é fundamental para o setor. "Foi a partir do evento do ano passado aqui no Ling que conheci as gurias da gestão cultural, e essa nossa conversa levou a criação do Guia Porto Alegre Criativa, que foi lançado agora. Depois da feira nós conseguimos recursos para continuar projetos, temos alguns lançamentos aqui, e temos ainda mais livros para expor hoje do que tínhamos no ano passado", compartilha.
Carolina Argenti Rocha é fundadora da editora Palavra Bordada, de Canoas
Giovanna Sommariva/Especial/JC
A Palavra Bordada, embora não tenha sido atingida diretamente pelas águas, tem sua sede no 5º andar de um prédio que ficou 38 dias alagado, impossibilitando as vendas. "Afetou muito o nosso funcionamento, porque mesmo que a gente venda online, não conseguíamos pegar os livros para mandar para lugar nenhum, tivemos um prejuízo indireto", relembra Carolina.
Já a Editora Hipotética, especializada em histórias em quadrinhos, foi diretamente afetada pelas enchentes do ano passado. O depósito da editora, localizado na avenida Farrapos, ficou 1 metro abaixo d'água. "Todos os livros que molharam, foram fora, praticamente metade do que tínhamos, uns 1,5 mil exemplares. Levamos 20 dias para conseguir entrar lá e ver a situação, resgatar o que fosse possível", conta Iriz Medeiros, sócia da editora.
Os livros resgatados no depósito foram para a feira no ano passado, e agora são vendidos acompanhados do selo "livro resgatado". Iriz afirma que a realização do evento gerou um engajamento e apoio muito grande naquele momento, "foi muito importante para as editoras, e não só pelas vendas em si, mas pelo emocional, foi um acolhimento, o setor sofreu muito", afirma.
Iriz Medeiros, sócia da Editora Hipotética, mostra o livro Sobreviventes na Fronteira, com o selo de "livro sobrevivente"
Giovanna Sommariva/Especial/JC
O público que visita o evento também é entusiasmado pelo clima de retomada. Renata Piacini e Flávia Scheffer, amigas que foram a feira acompanhadas dos filhos, destacam a importância de programações voltadas para a literatura. "É importante que continuem produzindo literatura, que as crianças aprendam a consumir", opina Flávia. "Nós moramos próximo, na Feira do Livro, por ser no Centro, é mais difícil que a gente consiga ir, então ter mais eventos como esse ao longo do ano e em outros locais é muito importante, vira um programa na cidade", complementa Renata.
Feira do Livro Reconstrói RS
A feira é aberta ao público e segue até domingo (18), com programação que vai das 11h às 20h. O evento ocorre na sede do Instituto Ling, na rua João Caetano, nº 440, no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre.