Montagem teatral potente e delicada, Parto pavilhão é um dos destaques da primeira noite de espetáculos inseridos na programação do 19º Festival Palco Giratório, evento promovido pelo Sesc-RS, que inicia nesta terça-feira (20). A peça, dirigida pela paulista Naruna Costa, será apresentada às 19h30min no Teatro do Sesc Canoas (av. Guilherme Schell - Centro), em Canoas, e ganha nova sessão nesta quarta-feira (21), às 20h, no Teatro da Pucrs (av. Ipiranga, 6681 - prédio 40), na Capital, com tradução simultânea em Libras, audiodescrição e a possibilidade de visita tátil.
Com atuação de Aysha Nascimento, o monólogo conta a história de Rose, ex-técnica de enfermagem e detenta que se torna referência para outras mulheres em uma penitenciária provisória para mães, propondo uma reflexão profunda sobre maternidade, afeto e solidariedade em contextos de privação de liberdade. A protagonista encontra na ajuda aos partos e nos cuidados com os filhos das outras presas uma forma de amenizar o peso dos dias dentro das celas. Mãe dentro do sistema carcerário, ela conhece os labirintos e segredos desse cotidiano hostil, ganhando a confiança não só de todo o pavilhão, mas também da diretora do presídio, com quem compartilha tardes tricotando roupinhas de lã para os bebês. No entanto, a rotina carcerária sofre um abalo quando, em meio à euforia de um jogo da seleção brasileira, Rose se depara com um molho de chaves em uma gaveta aberta, plantando a semente de uma ousada fuga.
A gênese de Parto pavilhão reside na sensibilidade do dramaturgo Jhonny Salaberg, conhecido por sua pesquisa e produção dentro do chamado "teatro negro". A peça, que marca o primeiro solo na carreira de Aysha, após nove meses de intenso processo, encerra a Trilogia da Fuga, conjunto de textos assinado por Salaberg – que já contava com Mato cheio e Buraquinhos ou o vento é inimigo do picumã. A atriz do espetáculo conta que o dramaturgo buscou inspiração na história real da "Fuga dos Bebês", ocorrida em 2009 no Centro de Progressão Penitenciária Feminina do Butantan (CPP), de onde um grupo de mulheres escapou levando seus filhos.
Já a pesquisa para a peça incluiu a análise de documentários, a leitura do livro Prisioneiras, de Drauzio Varella, e o contato com relatos de mulheres que vivenciaram o sistema carcerário, como a ativista dos direitos humanos Preta Ferreira. Para Aysha, a história de Rose ecoa as vivências de muitas mulheres.
"A peça não se propõe a representar de forma homogênea as mulheres negras e mães no cárcere, reconhecendo a diversidade de suas experiências", pondera a atriz. "Em vez disso, centra-se na humanidade de Rose, com seus erros, sonhos e desejos, colocada em uma situação limite que a leva a arquitetar uma fuga coletiva, pensando no futuro das crianças fora das grades." Aysha observa que a direção de Naruna trouxe uma "delicadeza" essencial para a construção da personagem.
No palco, um cenário minimalista cede espaço para a força da interpretação e para a envolvente música ao vivo da violoncelista Reblack. A trilha sonora, com direção musical e composições de Giovani Di Ganzá, pulsa como a própria temperatura emocional de Rose, com o violoncelo quase se tornando a materialização de seus sentimentos. A luz, assinada por Gabriele Souza, revela e, ao mesmo tempo, narra, expandindo a perspectiva da história para além da voz da protagonista. "Apesar de ser um solo, a peça é um trabalho coletivo, reunindo diversos artistas que contribuem para a força da cena", valoriza Aysha. A preparação corporal e coreografia de Malu Avelar, a cenografia e figurino da Ouroboros Produções Artísticas, a sonoplastia de Tomé de Souza e a identidade visual de Sato do Brasil somam-se à montagem.
Ainda de acordo com Aysha, a linguagem cênica de Parto pavilhão flerta com o teatro épico, onde a narrativa do que já aconteceu se entrelaça com a ação presente. Há também uma forte presença do teatro físico, expressando as emoções e tensões vividas por Rose. "Jonny dialoga com o conceito de leveza de Ítalo Calvino, buscando apresentar, mesmo diante da dura realidade do sistema carcerário, uma personagem que ri, chora, brinca e cantarola, transmitindo com sutileza uma história de fuga e esperança no futuro de seus filhos", emenda a atriz.
O 19º Festival Palco Giratório segue até o dia 8 de junho. Serão 64 sessões de espetáculos apresentados por 52 grupos artísticos que tomam conta de 22 espaços culturais da Capital. As atividades incluem ainda oficinas, debates e exposições. Ao todo, cerca de 360 artistas participam desta edição, que também aposta na formação e no diálogo com o público. Confira a programação completa no site do Jornal do Comércio.
Os ingressos para os espetáculos custam entre R$ 20,00 e R$ 60,00 estão à venda nas Unidades do Sesc/RS, pelo site do Festival, e, havendo disponibilidade, nas bilheterias dos teatros uma hora antes de cada apresentação.
Os ingressos para os espetáculos custam entre R$ 20,00 e R$ 60,00 estão à venda nas Unidades do Sesc/RS, pelo site do Festival, e, havendo disponibilidade, nas bilheterias dos teatros uma hora antes de cada apresentação.
Potência e diversidade na programação do Palco Giratório, em 2025
Renata Sorrah participa desta edição do evento, com o espetáculo 'Ao vivo (dentro da cabeça de alguém)'
Nana Moraes/Divulgação/JCCom uma programação que abrange as mais diversas expressões das artes cênicas, o Palco Giratório Sesc já se consolidou como um espaço de encontro e intercâmbio cultural. O evento deste ano contará com dezenas de produções, tanto de artistas locais como de outros estados, a exemplo de Renata Sorrah e Amir Haddad, que participam da 19ª edição do Festival, que inicia nesta terça-feira (20). Um dos destaques da noite de abertura é a cantora e compositora paulistana Negra Li, que sobe ao palco do Teatro Simões Lopes Neto (rua Riachuelo, 1089) nesta terça-feira, a partir das 20h, com um show especial que celebra seus 29 anos de carreira.
A dança também ganha espaço no Festival, já na primeira semana. Nesta quinta-feira (22), às 18h30min, ocorre a sessão de Andaime (des) construção de amor, da Geda Cia de Dança Contemporânea (RS), no Saguão do Teatro Oficina Olga Reverbel (Praça Mal. Deodoro, s/n). No mesmo dia e no mesmo local, às 19h o público poderá conferir a apresentação de Amordor, da Kháos Cia de Dança (RS). Nesta data ainda haverá alternativa para quem se interessa por palhaçaria feminina, com a sessão do espetáculo Divagar e sempre, do grupo paranaense Las Cabaças, que será a atração do Estúdio Stravaganza (rua Dr. Olinto de Oliveira, 68), às 20h.
Na sexta-feira (23), o espetáculo Caravana alucinada, da Cia Teatro Independente do Rio de Janeiro, será encenado às 20h, no Teatro Simões Lopes Neto (rua Riachuelo, 1089), narrando a jornada de artistas de trenzinho da alegria, explorando com humor, emoção e crítica social as questões pessoais e os desafios de um grupo que personifica ícones da cultura pop no subúrbio carioca. A peça terá uma segunda sessão no sábado (24), também às 20h.
Dentre os espetáculos de rua que integram o evento, O Lanceirinho negro, do grupo Trupi di Trapu (RS) ocupará uma área do Sesc Anchieta, no dia 04 de junho, às 15h. A apresentação que narra a história de um menino que se vê motivado a questionar e aprender sobre a importância da liberdade e o poder da ancestralidade, contará com tradução simultânea de Libras. No elenco, estão os aturadores gaúchos Anderson Gonçalves, Bruno Fernandes, Jane Oliveira e Yannikson, sob a direção de Mayura Matos.
Também no dia 4 de junho, o público poderá conferir o espetáculo Ao vivo (dentro da cabeça de alguém), estrelado por Renata Sorrah em parceria com a Companhia Brasileira de Teatro (PR). Inspirado na clássica peça A Gaivota, de Tchékhov, o diretor Marcio Abreu assina a dramaturgia inédita para refletir sobre temas atuais. A apresentação ocorre às 20h, no Teatro Simões Lopes Neto e terá nova sessão no dia 5 no mesmo local e horário.
Outra grande atração desta edição (originalmente agendada para o Palco Giratório do ano passado) é o espetáculo Zaratustra: uma transvaloração dos valores, espetáculo do Grupo Tá na Rua (RJ) dirigido por Amir Haddad, a partir da obra do filósofo alemão Friedrich Nietzsche. As sessões acontecem de 6 a 8 de junho na Sala Álvaro Moreyra (av. Érico Veríssimo, 307). A programação completa do Festival está disponível pelo site do evento (https://www.sesc-rs.com.br/palcogiratorio/programacao).