Porto Alegre,

Anuncie no JC
Assine agora

Publicada em 19 de Maio de 2025 às 14:49

Pablito Aguiar desenha um mosaico das enchentes no Estado em novo livro

Quadrinista gaúcho registra 14 relatos emocionantes de pessoas afetadas pela enchente de 2024 em novo livro Água até aqui, já presente nas livrarias de todo o País

Quadrinista gaúcho registra 14 relatos emocionantes de pessoas afetadas pela enchente de 2024 em novo livro Água até aqui, já presente nas livrarias de todo o País

PABLITO AGUIAR/DIVULGAÇÃO/JC
Compartilhe:
JC
JC
Um homem que vê sua casa inundada pela segunda vez e é forçado a ir embora com sua mãe. Uma artista que perde todos os seus livros, suas artes e seus artefatos mais preciosos. Uma moradora que vive em uma ocupação e procura uma casa para chamar de sua. Um jovem que, após ser obrigado a abandonar seu lar, dedica-se ao resgate de centenas de pessoas e animais com um jet-ski.Isso não é ficção - muito pelo contrário. São algumas das histórias retratadas pelo quadrinista Pablito Aguiar em seu novo livro Água até aqui, que chegou às livrarias brasileiras no último sábado. Em suas páginas, o quadrinista ilustra relatos, em formato de história em quadrinhos, de pessoas que foram vítimas de uma das maiores tragédias climáticas da história do Rio Grande do Sul. Residente da cidade de Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre, Pablito também foi forçado a deixar sua casa no mês de maio de 2024. Foi no momento em que estava se deslocando ao Litoral, na condição de refugiado climático, que o artista recebeu um convite especial vindo da escritora Eliane Brum, questionando se ele poderia produzir uma obra que retratasse um pouco daquilo que estava acontecendo em mais de 478 municípios do território gaúcho. “As três primeiras entrevistas foram feitas por telefone. Quando eu voltei pra casa é que eu comecei a falar pessoalmente com as pessoas - a água já tinha baixado”, comenta, “No total foram 14 entrevistas durante esses seis, sete meses desde que a gente começou, que acompanharam todas as etapas: a água subindo, as pessoas tentando sobreviver, tentando limpar suas casas e, no fim, regressando”. De acordo com o artista, a construção do livro se deu tal qual a montagem de um quebra-cabeça. A partir da junção de imagens, fotografias, entrevistas e relatos, tomava forma o mosaico narrativo que procurava amplificar, de alguma forma, as vozes das pessoas que resistiram e lutaram para sobreviver durante esse período.Entre os entrevistados, que também foram encontrados por meio das redes de contatos desenvolvidas no período, estavam presentes histórias que vão para além das pessoas afetadas diretamente pela situação. Nas páginas finais da obra, por exemplo, as últimas duas tramas tratam de personagens que se diferenciam das demais: o arqueólogo João, que auxiliou na recuperação e no descobrimento de artefatos indígenas no território de Santa Maria - fortemente afetado pela tragédia - e o cavalo Caramelo, animal que foi salvo durante a enchente e é considerado um símbolo de resistência e solidariedade pelos gaúchos até os dias de hoje.Trata-se, acima de tudo, de um trabalho de memória. De acordo com Pablito, a ideia de produção da obra foi uma de manter os registros desse momento histórico e, mais que isso, fazer com que as pessoas conheçam as vidas desses sujeitos. “É principalmente para que a gente não se esqueça e para que a gente consiga refletir, ser provocado e ser transformado por esse processo”, afirma o artista, “E eu percebi que, para as pessoas que eu entrevistei, o quadrinho foi uma forma delas também colocarem em palavras essa tragédia. Para tentar, sabe? Tentar compreender o incompreensível”.Outra característica significativa do livro é o fato de sua construção se dar, justamente, no formato de história em quadrinhos. O desenho tem um poder universal de proliferação. Dispersa-se, em certo sentido, ainda mais que a escrita, e consegue chegar em lugares inimagináveis a partir de suas representações. Após uma década atuando como quadrinista, Pablito segue se deparando com a responsabilidade e a alegria de poder trabalhar com esse processo. “Eu gosto dos quadrinhos como linguagem. É o jeito que eu encontro para me comunicar, e eu acho que ele tem um carisma também. Consegue chegar em todas as idades, e esse carisma não se afasta mesmo falando de assuntos difíceis”.
Um homem que vê sua casa inundada pela segunda vez e é forçado a ir embora com sua mãe. Uma artista que perde todos os seus livros, suas artes e seus artefatos mais preciosos. Uma moradora que vive em uma ocupação e procura uma casa para chamar de sua. Um jovem que, após ser obrigado a abandonar seu lar, dedica-se ao resgate de centenas de pessoas e animais com um jet-ski.

Isso não é ficção - muito pelo contrário. São algumas das histórias retratadas pelo quadrinista Pablito Aguiar em seu novo livro Água até aqui, que chegou às livrarias brasileiras no último sábado. Em suas páginas, o quadrinista ilustra relatos, em formato de história em quadrinhos, de pessoas que foram vítimas de uma das maiores tragédias climáticas da história do Rio Grande do Sul.

Residente da cidade de Alvorada, na região metropolitana de Porto Alegre, Pablito também foi forçado a deixar sua casa no mês de maio de 2024. Foi no momento em que estava se deslocando ao Litoral, na condição de refugiado climático, que o artista recebeu um convite especial vindo da escritora Eliane Brum, questionando se ele poderia produzir uma obra que retratasse um pouco daquilo que estava acontecendo em mais de 478 municípios do território gaúcho. “As três primeiras entrevistas foram feitas por telefone. Quando eu voltei pra casa é que eu comecei a falar pessoalmente com as pessoas - a água já tinha baixado”, comenta, “No total foram 14 entrevistas durante esses seis, sete meses desde que a gente começou, que acompanharam todas as etapas: a água subindo, as pessoas tentando sobreviver, tentando limpar suas casas e, no fim, regressando”.

De acordo com o artista, a construção do livro se deu tal qual a montagem de um quebra-cabeça. A partir da junção de imagens, fotografias, entrevistas e relatos, tomava forma o mosaico narrativo que procurava amplificar, de alguma forma, as vozes das pessoas que resistiram e lutaram para sobreviver durante esse período.

Entre os entrevistados, que também foram encontrados por meio das redes de contatos desenvolvidas no período, estavam presentes histórias que vão para além das pessoas afetadas diretamente pela situação. Nas páginas finais da obra, por exemplo, as últimas duas tramas tratam de personagens que se diferenciam das demais: o arqueólogo João, que auxiliou na recuperação e no descobrimento de artefatos indígenas no território de Santa Maria - fortemente afetado pela tragédia - e o cavalo Caramelo, animal que foi salvo durante a enchente e é considerado um símbolo de resistência e solidariedade pelos gaúchos até os dias de hoje.

Trata-se, acima de tudo, de um trabalho de memória. De acordo com Pablito, a ideia de produção da obra foi uma de manter os registros desse momento histórico e, mais que isso, fazer com que as pessoas conheçam as vidas desses sujeitos. “É principalmente para que a gente não se esqueça e para que a gente consiga refletir, ser provocado e ser transformado por esse processo”, afirma o artista, “E eu percebi que, para as pessoas que eu entrevistei, o quadrinho foi uma forma delas também colocarem em palavras essa tragédia. Para tentar, sabe? Tentar compreender o incompreensível”.

Outra característica significativa do livro é o fato de sua construção se dar, justamente, no formato de história em quadrinhos. O desenho tem um poder universal de proliferação. Dispersa-se, em certo sentido, ainda mais que a escrita, e consegue chegar em lugares inimagináveis a partir de suas representações. Após uma década atuando como quadrinista, Pablito segue se deparando com a responsabilidade e a alegria de poder trabalhar com esse processo. “Eu gosto dos quadrinhos como linguagem. É o jeito que eu encontro para me comunicar, e eu acho que ele tem um carisma também. Consegue chegar em todas as idades, e esse carisma não se afasta mesmo falando de assuntos difíceis”.
 

Notícias relacionadas