Em Porto Alegre, uma série de iniciativas que visam reacender a chama da arte e da cultura na população brotaram nos meses seguintes ao período das enchentes que assolaram a cidade. Em diferentes pontos da capital gaúcha, projetos inovadores e espaços revitalizados abrem suas portas, oferecendo um alento e um caminho para o reencontro com a sensibilidade e a expressão artística.
Um desses faróis de esperança é o recém-inaugurado Instituto Brasa Zona Norte (IBZN), idealizado e dirigido pela produtora cultural Adriana Wichmann Paz de Mattos. Localizado no bairro Sarandi, em uma área que não foi diretamente atingida pelas águas, o IBZN nasceu da mobilização da Igreja Braza Zona Norte, que atuou como abrigo para desalojados em 2024, acolhendo cerca de 300 pessoas.
"Nossa igreja foi um dos abrigos mais atuantes", relembra a diretora do Instituto. "Passado o tempo, surgiu a ideia de criar este projeto." Inaugurado no último dia 12, o IBZN se estabeleceu como um espaço de apoio aos recomeços, oferecendo diversos cursos, desde finanças e mídias sociais até artesanato com tecidos e retalhos, incentivando a criatividade e a geração de renda. "O Sarandi está completamente diferente após um ano, tendo sido impactado em várias áreas. Queremos ajudar nessa recuperação, oferecendo não somente ferramentas para as pessoas que perderam tudo se levantarem mas também para a reconexão das crianças com o ambiente escolar", explica Adriana.
Nesse sentido, um dos destaques do Instituto é a retomada do projeto Fábrica de Sonhos, uma orquestra jovem que iniciou em 2019 no Espaço Força e Luz, foi interrompido durante a pandemia de Covid-19 e passou rapidamente (de agosto a dezembro do ano passado) pela Casa de Cultura Mario Quintana. Sob a batuta da violonista Luiza Czeczelcki, o projeto oferece aulas de teoria, repertório e percepção musical para jovens de 13 a 16 anos. "As aulas são gratuitas para os impactados pela enchente. Também oferecemos bolsas (de acordo com o teto) para jovens de baixa renda comprovada", sinaliza Adriana. "Iremos começar de forma mais reduzida, com foco no violino, mas a ideia é expandir em 2026, agregando viola, violoncelo e contrabaixo acústico", almeja.
O IBZN também irá abrigar exposições de artes visuais e planeja workshops de pintura, além de oferecer dança (em parceria com a Escola Ritmos – que já existia e agora funciona no andar debaixo do prédio) e outras manifestações artísticas.
Em outra frente, a solidariedade e o conhecimento técnico se uniram no Projeto (Re)Viver. Idealizada dentro da Uniritter pela professora de Arquitetura e Urbanismo, Raquel Daroda, a iniciativa (desenvolvida pelos estudantes do curso) visa levar bibliotecas modulares para escolas de Educação Infantil afetadas pelas enchentes. "Antes mesmo das enchentes, vínhamos trabalhando a relação das crianças com a cidade e os espaços públicos, e falávamos da importância da aproximação delas com a literatura e o lúdico", comenta Raquel. "Com as inundações, pensamos em como a reconstrução das bibliotecas poderia ajudar no acolhimento dos estudantes, e também na promoção do diálogo entre professores e cuidadores com as crianças, abrindo possibilidade de escuta sobre tudo que ela vivenciaram."
Com estrutura metálica (leve e resistente), revestida com telhas discoidais, as bibliotecas modulares são projetadas para serem espaços dinâmicos e seguros, com livros para a primeira infância expostos de forma convidativa. As portas em chapas metálicas servem como murais interativos para desenhos e expressões dos pequenos. Segundo a professora da Uniritter, os módulos podem ser deslocados para diversos ambientes por dentro das escolas e sairem dali se for necessário. "O piso é removível, e todos têm rampa de acessibilidade", emenda. Seis unidades já foram entregues: "quatro delas estão em escolas de Canoas (com a expectativa de chegar a 18), uma contemplou uma Ong em Taquara, e outra foi instalada em uma creche, em Porto Alegre", enumera Raquel.
Um desses faróis de esperança é o recém-inaugurado Instituto Brasa Zona Norte (IBZN), idealizado e dirigido pela produtora cultural Adriana Wichmann Paz de Mattos. Localizado no bairro Sarandi, em uma área que não foi diretamente atingida pelas águas, o IBZN nasceu da mobilização da Igreja Braza Zona Norte, que atuou como abrigo para desalojados em 2024, acolhendo cerca de 300 pessoas.
"Nossa igreja foi um dos abrigos mais atuantes", relembra a diretora do Instituto. "Passado o tempo, surgiu a ideia de criar este projeto." Inaugurado no último dia 12, o IBZN se estabeleceu como um espaço de apoio aos recomeços, oferecendo diversos cursos, desde finanças e mídias sociais até artesanato com tecidos e retalhos, incentivando a criatividade e a geração de renda. "O Sarandi está completamente diferente após um ano, tendo sido impactado em várias áreas. Queremos ajudar nessa recuperação, oferecendo não somente ferramentas para as pessoas que perderam tudo se levantarem mas também para a reconexão das crianças com o ambiente escolar", explica Adriana.
Nesse sentido, um dos destaques do Instituto é a retomada do projeto Fábrica de Sonhos, uma orquestra jovem que iniciou em 2019 no Espaço Força e Luz, foi interrompido durante a pandemia de Covid-19 e passou rapidamente (de agosto a dezembro do ano passado) pela Casa de Cultura Mario Quintana. Sob a batuta da violonista Luiza Czeczelcki, o projeto oferece aulas de teoria, repertório e percepção musical para jovens de 13 a 16 anos. "As aulas são gratuitas para os impactados pela enchente. Também oferecemos bolsas (de acordo com o teto) para jovens de baixa renda comprovada", sinaliza Adriana. "Iremos começar de forma mais reduzida, com foco no violino, mas a ideia é expandir em 2026, agregando viola, violoncelo e contrabaixo acústico", almeja.
O IBZN também irá abrigar exposições de artes visuais e planeja workshops de pintura, além de oferecer dança (em parceria com a Escola Ritmos – que já existia e agora funciona no andar debaixo do prédio) e outras manifestações artísticas.
Em outra frente, a solidariedade e o conhecimento técnico se uniram no Projeto (Re)Viver. Idealizada dentro da Uniritter pela professora de Arquitetura e Urbanismo, Raquel Daroda, a iniciativa (desenvolvida pelos estudantes do curso) visa levar bibliotecas modulares para escolas de Educação Infantil afetadas pelas enchentes. "Antes mesmo das enchentes, vínhamos trabalhando a relação das crianças com a cidade e os espaços públicos, e falávamos da importância da aproximação delas com a literatura e o lúdico", comenta Raquel. "Com as inundações, pensamos em como a reconstrução das bibliotecas poderia ajudar no acolhimento dos estudantes, e também na promoção do diálogo entre professores e cuidadores com as crianças, abrindo possibilidade de escuta sobre tudo que ela vivenciaram."
Com estrutura metálica (leve e resistente), revestida com telhas discoidais, as bibliotecas modulares são projetadas para serem espaços dinâmicos e seguros, com livros para a primeira infância expostos de forma convidativa. As portas em chapas metálicas servem como murais interativos para desenhos e expressões dos pequenos. Segundo a professora da Uniritter, os módulos podem ser deslocados para diversos ambientes por dentro das escolas e sairem dali se for necessário. "O piso é removível, e todos têm rampa de acessibilidade", emenda. Seis unidades já foram entregues: "quatro delas estão em escolas de Canoas (com a expectativa de chegar a 18), uma contemplou uma Ong em Taquara, e outra foi instalada em uma creche, em Porto Alegre", enumera Raquel.
Cada biblioteca modular oferece 40 títulos literários, com temas que abordam desde museus até a representatividade de crianças indígenas. "Nossa intenção é que o projeto saia dos limites das escolas atingidas pela enchente e chegue a todas possíveis", afirma a professora, destacando que "a partir do momento que a leitura é incentivada desde a primeira infância, o hábito pode perpetuar pela juventude e vida adulta".
Para o público amante das artes, a novidade é O Circo Bar (rua Vicente da Fontoura, 1619), mix de bar e polo de entretenimento cultural, que abriu as portas em março deste ano, idealizado pelo publicitário Camilo Santa Helena. Localizado em uma área não alagada, o empreendimento oferece, atualmente, shows diários de comédia e mágica, mas deve ampliar o cardápio de apresentações artísticas, incluindo teatro de bonecos, leitura de poesias, contação de histórias, e DJ sets. As atrações acontecem em um palco localizado no segundo andar do casarão onde o bar funciona. "O circo é um segmento lúdico e democrático, que encanta todas as idades", pontua o publicitário, que atua no setor audiovisual.
Segundo Santa Helena, o espaço busca ser "um lar" para os artistas circenses da cidade, não somente abrindo espaço para projetos e propostas de shows individuais, mas também como ambiente de confraternização. Com referências ao universo circense e à palhaçaria brasileira, a decoração do lugar cria uma atmosfera acolhedora e nostálgica. Além dos shows, o bar oferece petiscos e drinks temáticos (alguns com sabor de pipoca, algodão-doce, caramelo, entre outros), propondo uma experiência de resgate da magia do circo. "Vimos a oportunidade de implementar algo novo, por conta do déficit de casas voltadas para a Cultura em Porto Alegre, principalmente após a tragédia da enchente", revela o proprietário.
Segundo Santa Helena, o espaço busca ser "um lar" para os artistas circenses da cidade, não somente abrindo espaço para projetos e propostas de shows individuais, mas também como ambiente de confraternização. Com referências ao universo circense e à palhaçaria brasileira, a decoração do lugar cria uma atmosfera acolhedora e nostálgica. Além dos shows, o bar oferece petiscos e drinks temáticos (alguns com sabor de pipoca, algodão-doce, caramelo, entre outros), propondo uma experiência de resgate da magia do circo. "Vimos a oportunidade de implementar algo novo, por conta do déficit de casas voltadas para a Cultura em Porto Alegre, principalmente após a tragédia da enchente", revela o proprietário.
"Estamos propondo que este seja um espaço cultural que recebe todas as pessoas, acolhendo os trabalhadores da Cultura dentro e fora do palco. Inclusive, estamos dando preferência para apresentações de artistas locais, ainda que possamos – vez ou outra ocorrer – receber nomes de fora", destaca Santa Helena.
Exposições e outras atividades artísticas refletem sobre a experiência da tragédia
Mostra 'Reflexos da emergência', do fotógrafo sul-africano Gideon Mendel, retrata as vidas dos gaúchos afetados pela enchente
Gideon Mendel/Divulgação/JCEm um momento de reconstrução, a arte e a cultura se mostram ferramentas essenciais para curar feridas, fortalecer laços e reacender a esperança na comunidade porto-alegrense. Os novos projetos e a resiliência dos espaços culturais existentes sinalizam um futuro onde a criatividade e a sensibilidade voltam a ocupar um lugar central na vida da cidade.
Para além do restauros de espaços culturais e do florescimento de novos projetos, uma série de exposições e atividades artísticas refletem, desde o segundo semestre de 2024, sobre a experiência da tragédia climática vivida em maio.
Exemplo disso ocorreu em agosto do ano passado, durante a reabertura da Casa de Cultura Mario Quintana, que contou com uma cerimônia e a inauguração da exposição Reflexos da Emergência, do fotógrafo sul-africano Gideon Mendel, que esteve em Porto Alegre e Canoas retratando as vidas dos gaúchos afetados pela enchente. Apresentando, ainda, imagens de prédios históricos da Capital que ficaram submersos pela água, ao lado de fotografias de outros continentes atingidos por tragédias semelhantes, a mostra também foi exibida no Centro Cultural da Ufrgs. Em ambas as instituições, as visitações encerraram em outubro.
Outra exposição com temática direcionada para as enchentes ocorreu no Museu de Arte do Rio Grande do Sul (Margs), após sua reabertura parcial, em dezembro: intitulada Post scriptum — Um museu como memória, a mostra foi especialmente pensada para narrar e trazer a público a jornada enfrentada pelo Museu durante a inundação, em maio do ano passado. Reunindo centenas de trabalhos artísticos, objetos e imagens fotográficas, a exposição mobilizou uma ampla documentação com registros relacionados às consequências da enchente.
A trajédia climática também foi mote de duas montagens de dança, que estreiaram na 26º edição do Porto Verão Alegre: os espetáculos Enquanto esperamos da Cia H Dança, e Muita água, dos performers Cibele Sastre, Fabiano Nunes e Juliana Vicari. A primeira, apresenta personagens abrigados da chuva à espera de uma perspectiva e socorro para suas vidas - que, assim como o Sr. Godot, do texto de Beckett, "nunca chega". A segunda, apresenta os performers desdobrando suas experiências corporais a partir da "transformação radical barrenta", em meio a uma sociedade desgovernada, e volta a cartaz na programação do 19° Festival Palco Giratório, que ocorrerá na Capital entre os dias 20 de maio e 08 de junho com diversos espetáculos e ações formativas.
Outro espetáculo de ficção sobre a enchente, que estreou em dezembro do ano passado, foi a peça teatral A enchente de 24, com direção de Bob Bahlis. A motangem conta a história de 11 personagens isolados em um prédio, após as inundações. Fruto de relatos coletados por Bahlis e de sua experiência em maio, tendo que deixar a sua casa, no bairro São João, e indo se abrigar no Litoral.
Título semelhate foi eleito pelos autores André Malinoski, Marcelo Gonzatto e Rodrigo Lopes, que assinam o livro A enchente de 24 - A história da maior tragédia climática de Porto Alegre. A obra que detalha as causas e as consequências do desastre, destacando a vulnerabilidade das cidades frente às mudanças climáticas e a luta da população para reconstruir suas vidas em meio à destruição, foi lançada em outubro do ano passado, no Foyer Nobre do Theatro São Pedro.
Combina apuração jornalística com uma seção de 16 páginas de fotografias, o livro A enchente de 24 - A história da maior tragédia climática de Porto Alegre oferece uma visão profunda e crítica do evento que marcou para sempre a história da cidade e serve de alerta para outros centros urbanos de todo o País. O livro pode ser adquirido pelo site da Amazon (R$ 60,00).