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Publicada em 11 de Março de 2025 às 17:43

Exposição de Fabio Del Re no V744atelier utiliza fotografias antigas para discutir abandono e identidade

Assinada pelo fotógrafo Fábio Del Re, a mostra 'Acordei ontem, ainda era hoje' entra em cartaz no V744atelier às 17h deste sábado (15)

Assinada pelo fotógrafo Fábio Del Re, a mostra 'Acordei ontem, ainda era hoje' entra em cartaz no V744atelier às 17h deste sábado (15)

VivaFoto/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Propondo uma reflexão sobre a efemeridade da vida e a permanência das imagens, o fotógrafo Fábio Del Re reuniu cerca de 16 obras de sua autoria para montar a exposição Acordei ontem, ainda era hoje, que irá ocupar três ambientes do V744atelier a partir das 17h deste sábado (15). A série de trabalhos fotográficos que explora a interseção entre memória, esquecimento e o tempo permanece no espaço cultural (localizado na rua Visconde do Rio Branco, 744) até o dia 26 de abril, dentro do projeto Portas para a Arte - Fundação Bienal do Mercosul. A visitação é gratuita e pode ser feita de quartas a sextas-feiras, das 14h às 17h, até o dia 28 de março. Após essa data, o público pode conferir a mostra de terças-feiras a sábados, das 10h às 18h. O artista explica que explora, entre outros temas, a "linearidade do tempo e como ele pode ser desconstruído". Para isso, se utiliza de fotografias antigas, que ele compra em briques e leilões, para depois refotografar. "O trabalho é todo em cima de fotos descartadas, um tema que me choca e me entristece – são fotos que ninguém mais sabe de quem são: essas questões sobre a finitude, o esquecimento, o tempo e a perda memória mexeram muito comigo", observa. 
Propondo uma reflexão sobre a efemeridade da vida e a permanência das imagens, o fotógrafo Fábio Del Re reuniu cerca de 16 obras de sua autoria para montar a exposição Acordei ontem, ainda era hoje, que irá ocupar três ambientes do V744atelier a partir das 17h deste sábado (15). A série de trabalhos fotográficos que explora a interseção entre memória, esquecimento e o tempo permanece no espaço cultural (localizado na rua Visconde do Rio Branco, 744) até o dia 26 de abril, dentro do projeto Portas para a Arte - Fundação Bienal do Mercosul. A visitação é gratuita e pode ser feita de quartas a sextas-feiras, das 14h às 17h, até o dia 28 de março. Após essa data, o público pode conferir a mostra de terças-feiras a sábados, das 10h às 18h.

O artista explica que explora, entre outros temas, a "linearidade do tempo e como ele pode ser desconstruído". Para isso, se utiliza de fotografias antigas, que ele compra em briques e leilões, para depois refotografar. "O trabalho é todo em cima de fotos descartadas, um tema que me choca e me entristece – são fotos que ninguém mais sabe de quem são: essas questões sobre a finitude, o esquecimento, o tempo e a perda memória mexeram muito comigo", observa. 
Para preservar a identidade das pessoas retratadas, Del Re escolheu imagens onde a ação do tempo torna os personagens irreconhecíveis. "Me interessa não que tenha aura de história, mas essa intimidade, essa pessoa de corpo inteiro posando para a câmera, essa maneira de ser fotografado bem característica do século XIX e início do século XX... também a padronização do tempo me preocupa, essa linearidade imposta, que na vida não funciona exatamente assim", argumenta. "O tempo é muito relativo, o agora abrange tudo, por isso a brincadeira do título, que fala do amanhã que está dentro do hoje."
Del Re conta que tem em seu acervo pelo menos 500 dessas fotografias descartadas e que comprou, por "gostar muito do objeto de foto impressa". O artista revela que a primeira imagem do gênero foi adquirida durante uma viagem a Minas Gerais, em 2013: trata-se do retrado de um casal em fotografia pintada, muito comum de se encontrar na região Nordeste do País. A ideia da exposição surgiu três anos depois, após seu pai falecer. "Tenho uma foto dele com minha tia, de quando os dois eram crianças. Eu sempre passava na sala e um dia me deu esse 'clique', comecei a pensar muito nisso."
O artista, cujo trabalho comercial é reprodução de obras de arte, afirma que todas as suas investidas na fotografia têm "uma certa reflexão, instrospecção", mas que no caso da mostra que chega ao V744atelier esse conceito é "um pouco mais direto e imediato", por lidar com figuras humanas. "Tem a plasticidade, é agradável de ver. Quero que as pessoas se emocionem e reflitam sobre a finitude e o esquecimento. As coisas estão absurdamente rápidas hoje em dia e a parece que a gente não se dá mais conta disso."

Del Re, que sempre se destacou por sua produção autoral em fotografia, apresenta em Acordei ontem, ainda era hoje um olhar sensível para o abandono e a perda de identidade. Diferente de suas produções anteriores, que muitas vezes focaram registros de arquitetura e cultura, a mostra adentra um universo bem mais pessoal. "Chamo estas fotografias de meus órfãos, são órfãos. Elas foram descartadas, ninguém mais sabe quem são aquelas pessoas", reforça.

O trabalho não se limita à fotografia tradicional. O artista, que prefere "a parceria do acaso, do acidente", se utiliza de técnicas que incluem o tempo como elemento próprio da obra, com fotos mal fixadas, mofo e furos causados por insetos. Esses elementos acabam criando uma estética única que reforça o conceito de impermanência. "Eu também brinco um pouco com a coisa de inverter e virar o negativo em algumas das imagens, é uma forma de proteger a identidade de seja lá quem for. Só não alterei as que o tempo atuou. Algumas obras também surgiram a partir de imagens de livros molhados pelas águas da enchente, onde também há a ação da interpérie do tempo e do mofo. Essa temática e o trauma da enchente em Porto Alegre tem uma conversa muito forte com as demais, com figuras humanas, que vão desde retratos de casais pintados, passando por famílias posando para a câmera, 3x4 descartadas, todas devidamente cobertas (por uma técnica que uso com uma régua de metal) para não identificar os rostos."
As obras que estarão expostas no  V744atelier têm dimensões que vão de 30cm X 60 cm até 1m x 1,40m. Além dessa série que será exposta no corredor, na sala principal e em um ambiente menor do espaço cultural, também imagens menores, inseridas dentro de garrafas com plantas, irão compor o cenário, dispostas no banheiro da casa. "Essa coisa de guardar a planta na garrafa, me remete à resilência da natureza, algo que me emociona. Inserir com as fotos que denunciam o abandono, essa junção faz um contraponto, pois a planta está viva, revelando essa força que também está em nós."

O artista destaca ainda que, além da questão estética e conceitual, o ambiente do V744atelier, uma casa que também é atelier de Vilma Sonaglio, proporciona uma relação mais íntima e orgânica entre as obras e o público. "Esse espaço é muito diferente, é uma casa, pessoas moram aqui, não é uma galeria. Isso tira a ideia de uma exposição convencional e coloca o foco no trabalho em si." 

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