Fazer rock autoral no Brasil, convenhamos, nunca foi a coisa mais fácil do mundo - e hoje em dia, com o desaparecimento das rádios especializadas e os critérios questionáveis de remuneração por parte das plataformas, não é exagero dizer que está ainda mais difícil. Mas, para o bem do rock e de todos que vivem dele, sempre haverá quem queira empunhar sua guitarra e abrir o microfone para dar seu próprio recado. Nesse sentido, o músico porto-alegrense Jaydson tem sido um dos mais ativos e dedicados da cena atual: recentemente, o compositor lançou seu terceiro single, Filme do Almodóvar, acompanhado de videoclipe, faixa que ajuda a promover um álbum de estreia que já está no forno, pronto para virar realidade.
Filme do Almodóvar une punk rock e sonoridades do rock alternativo, com uma letra bem-humorada que ironiza pessoas que usam a sua apreciação de arte como uma forma, consciente ou não, de elitismo. "Essa música é baseada numa vivência minha mesmo, uma história real - ainda que com um pouco de adaptação, é claro", afirma Jaydson, em papo com o Jornal do Comércio. "Acaba sendo uma coisa que acontece não só com filmes, mas com qualquer manifestação cultural - isso de as pessoas acharem que, porque assistem determinado tipo de filme, ou leem livros, ou fazem determinado tipo de coisa, isso alça essas pessoas a um lugar mais alto. O que é uma completa besteira, não é? Então, a música fala um pouco disso, mas num tom mais amistoso, como uma brincadeira de casal. Quer dizer, eu adoro o Pedro Almodóvar, adoro filmes cult, mas também adoro o Adam Sandler, adoro um besteirol, uma comédia", explica o músico.
Embora esteja surgindo agora na cena roqueira local, a verdade é que Jaydson não é exatamente um novato nessas esquinas musicais. Depois de algumas experiências com bandas na adolescência, Jaydson virou empreendedor e passou os últimos 20 anos trabalhando com tecnologia. "Acho que o caminho da música sempre esteve lá, junto com esse receio (de não conseguir viver dela). A gente (primeira banda de Jaydson) chegou a fazer pequenos shows, mas nunca chegamos a ter uma perspectiva de fato com aquela banda, de perseguir uma carreira - que era uma coisa que eu queria, mas acabou não acontecendo. E isso sempre me acompanhou. Agora, mais velho e com uma carreira (profissional) estabelecida, vi que tinha chegado o momento em que eu não tenho mais nada a perder."
Mais maduro e com a vida estruturada, Jaydson preparou um repertório próprio, montou uma banda com músicos experientes da cena local (Marcel Bittencourt, no baixo, Renato Siqueira, na bateria, e Rodrigo Ferreira tocando guitarra e violão) e foi à luta. No momento, além de Filme do Almodóvar, o projeto já lançou dois singles: I Don't Wanna Die Young (uma reflexão sobre a pouco saudável mania de certos astros do rock, que insistem em morrer jovens) e Camisa Amarela (uma crítica a setores que se apropriaram de símbolos nacionais para uso político), todos acompanhados de material de apoio - para o segundo, Jaydson chegou a promover uma 'passeata', visitando a pé espaços da boemia porto-alegrense para promover o single.
A escolha de 'jogar o jogo' do cenário musical atual - que, de certo modo, coloca músicos e compositores na condição de geradores de conteúdo - envolve algumas complexidades, das quais Jaydson está ciente. "Acho que há uma questão controversa nesse modelo, de a gente ficar preso ao modo como as plataformas funcionam, de precisar sempre estar lançando músicas (individualmente) e sempre criando conteúdo atrelado a elas para que as plataformas te entendam como um 'músico sério'. Essa situação toda é complexa, mas eu entendo e estou disposto a fazer, tenho condições de investir na minha carreira musical e quero fazer isso", afirma, convicto.
O disco de estreia, produzido por Bittencourt, está pronto e deve sair no primeiro semestre - quem sabe, com uma versão em vinil. A partir daí, a ideia é levar a música autoral de Jaydson a todos os lugares, expandindo o alcance de shows para além de Porto Alegre - um objetivo que iniciativas como a plataforma Novo Rock Gaúcho, criada em parceria com o jornalista, músico e produtor Homero Pivotto Jr., ajudam a fortalecer e disseminar. "Eu me enxergo em um momento de descoberta. As pessoas estão começando a saber quem é Jaydson, a conhecer as músicas, e a repercussão está sendo bem legal. Estou muito satisfeito com tudo que a gente fez em 2024, e eu sinto que me encaixo nessa nova cena gaúcha, de artistas do Rio Grande do Sul que estão buscando sempre o resultado mais profissional possível."