Músico que foi um dos responsáveis por exportar a música brasileira, levando o samba e a bossa nova para o mundo, Sergio Mendes morreu no último dia 7 de setembro, aos 83 anos. Como conta a Folhapress, apesar de ter trabalhado, ainda em solo brasileiro, com figuras do naipe de Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden Powell, passou a maior parte da sua vida nos EUA, para onde se mudou em 1964, fugindo da ditadura militar.
Em entrevista à revista Veja, ele contou que foi levado para depor após enviar um telegrama para o pintor Wesley Duke Lee, que dizia: "Rodriguinho Barra Limpa, o primeiro realista mágico de Niterói. Avisa ao Tio Lee que a ordem do dia é fralda larga e leite morno". Ele anunciava o nascimento do primogênito, Rodrigo. Quando foi levado para esclarecer qual era a 'ordem do dia' e o que significava a 'barra limpa' de Rodriguinho, Mendes concluiu que a permanência no Brasil era insegura, para si e para a família.
Após alguns lançamentos sem sucesso, Mendes estourou no exterior com o grupo Brasil '66. A música propulsora foi a versão em bossa nova de Mas que nada, de Jorge Ben Jor, lançada em 1966. Anos depois, ele regravou a música com o grupo Black Eyed Peas. Em 1967, o músico ganhou ainda mais destaque ao apresentar a faixa The Look of Love no Oscar. A música, lançada originalmente por Burt Bacharach e popularizada por Dusty Springfield no filme Casino Royale, alcançou o 4º lugar nas rádios dos EUA na versão bossa nova. O sucesso não se limitou aos Estados Unidos, e Mendes se tornou um grande nome da música brasileira no Japão.
Uma das curiosidades da vida de Mendes é que seu estúdio foi construído por Harrison Ford, antes da fama. O astro de Star Wars e Indiana Jones era carpinteiro antes de ser ator, e construiu um estúdio musical para Sergio Mendes nos EUA. O local acabou sendo destruído por um terremoto.
Mendes foi premiado com um Grammy em 1993, com o álbum Brasileiro. Apesar de ter sido indicado pela primeira vez em 1969 com um cover de The Fool on The Hill, dos Beatles (elogiado em carta pelo próprio Paul McCartney), o único trabalho do músico a ser premiado pelo Grammy foi mesmo Brasileiro, na categoria Melhor Álbum de World Music. O disco conta com ampla colaboração de Carlinhos Brown.
Magalenha, um dos maiores sucessos de Mendes, composta por Carlinhos Brown, está no disco premiado. Esta é a faixa de Sergio Mendes mais ouvida em plataformas de streaming, acumulando mais de 115 milhões de reproduções. Ele foi indicado outras três vezes ao prêmio, e ganhou dois prêmios no Grammy Latino. Em 2005, foi homenageado com o prêmio de Excelência Musical por sua contribuição para a música latina. Em 2010, venceu na categoria de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro com Bom Tempo.
Em 2006, Mendes regravou Mas que nada com o grupo americano Black Eyed Peas. A música fez sucesso nas rádios e virou tema de abertura do programa 1982 (Globo), apresentado por Angélica. Em 2011, Sergio concorreu ao Oscar na categoria de Melhor Canção Original, com Real in Rio. A música faz parte da trilha sonora da animação Rio, que teve Mendes e John Powell como produtores executivos. Em 2020, o documentário Sérgio Mendes: No Tom da Alegria contou a história de Mendes. A obra traz entrevistas de Gracinha Leporace, sua mulher e parceira musical, Harrison Ford, Carlinhos Brown, will.i.am e outros colaboradores musicais.
Sergio Mendes também fez história na televisão brasileira através de suas músicas. Algumas de suas canções se tornaram temas de abertura de novelas que se destacaram na teledramaturgia nacional. É o caso da primeira versão de Lua Soberana, que se tornou tema da novela Renascer, de 1993. A composição de Ivan Lins e Vitor Martins foi lançada por Mendes no CD Brasileiro, de 1992, e venceu o Grammy na categoria Melhor Álbum de World Music, em 1993.
A música também foi adotada como tema do remake exibido pela Globo, e que tem o seu último capítulo exibido em 6 de setembro, um dia antes do falecimento do artista. A nova versão da música é interpretada por Luedji Luna e Xênia França. Outra música marcante na história da televisão brasileira foi Maracatudo, que se tornou o tema de abertura da novela A Indomada, de 1996. A faixa integrou o álbum Oceano, de 1996, e conta com vocais de Gracinha Leporace, viúva de Mendes, e rap de Jean Kidula.