Na época da ditadura militar brasileira (1964-1985), o País se deparou com inúmeras reformas universitárias, o que incluiu o Rio Grande do Sul. Elas pretendiam alinhar o ensino superior aos interesses do regime, principalmente após o Ato Institucional Nº 5 em 1968. Houve a criação de um modelo universitário voltado para a formação técnica e profissional, com mudanças que visavam garantir o controle político das universidades, na época grandes focos de resistência à ditadura. Em 1972, a reforma em questão toma conta da Famed, a Faculdade de Medicina da Ufrgs, em Porto Alegre - um curso tido como tradicional, elitista e dentro da lei. Porém, tais reformas não foram bem quistas pelos estudantes, principalmente aqueles que se formaram dos anos de 1974 a 1990. Alguns escolheram não ter homenageados e paraninfos. Outros, foram mais ousados: escolheram homenagear apenas os mortos. Durante 17 anos, nenhuma cerimônia na Famed foi igual, que dirá tradicional.
Em Beca, Canudo e Protesto: contestação e irreverência nas formaturas da Faculdade de Medicina da UFRGS de 1974 a 1990 (Editora Libretos, 352 páginas, R$120,00), a jornalista Elisa Kopplin e o médico e professor de medicina Elvino Barros mergulham em uma investigação sobre os protestos organizados pelos formandos de medicina da época durante o ato solene mais importante da trajetória universitária: a cerimônia de formatura de Medicina. O lançamento da obra ocorre nesta quinta-feira (5), das 10h30min às 12h, no Anfiteatro Carlos César de Albuquerque - Hospital de Clínicas de Porto Alegre (rua Ramiro Barcelos, 2.350). O evento contará com sessão de autógrafos e um bate-papo com os autores e com formandos e protestantes da época, como um encontro geral das ATMs (Associação Turma Médica) de 1974 a 1990. Estão confirmadas as presenças de Adamastor Pereira, Valter Duro Garcia, Clotilde Druck Garcia, Gilberto Schwartsmann e Júlio Conte, entre outros médicos e médicas cujos relatos integram o livro. A entrada é franca, e o livro estará à venda no local.
Em capítulos detalhados, ano a ano, os escritores entrevistam mais de 100 pessoas para descobrir, enfim, como os protestos se iniciaram e como se sucederam por 17 anos na Famed. Com design gráfico assinado por Clô Barcellos, o livro-reportagem possui, além de milhares de palavras, imagens e alguns QR codes que levam o leitor a viajar no tempo além das páginas. Neles, o leitor tem acesso a vídeos de quatro formaturas da segunda metade da década de 1980 e a um áudio com parte da solenidade de 1975, raro registro de uma cerimônia da época. Dessa forma, é possível fazer ainda mais do que imaginar: é entrar na história, dar rostos e vozes aos nomes que tanto marcam a publicação.
Ao abordar a história desses formandos, algumas situações mais inusitadas e surpreendentes foram descobertas. Para Elisa, a formatura de 1985 poderia ter sido a mais adversa. Afinal, a ideia principal era tornar a cerimônia nada parecida com aquilo que todos estavam acostumados – e esperavam encontrar. A cerimônia seria uma peça de teatro. Organizada por Júlio Conte, autor e diretor da peça Bailei na Curva, a encenação da formatura seria formada basicamente por acontecimentos e experiências da turma ao longo do curso. Os ensaios já estavam a todo vapor quando Júlio, com a peça em cartaz em Porto Alegre, recebe o convite irrecusável de apresentá-la no Rio de Janeiro. Ele adia sua formatura mais uma vez – por conta do teatro, Júlio levou 11 anos para se tornar médico – e parte para a Cidade Maravilhosa. “E aí chega a ser engraçado: o grande sucesso do teatro gaúcho derrubou o que seria uma formatura histórica na época”, relata a autora.
Elvino Barros explica que uma das principais motivações para escrever o livro foi registrar na história os acontecimentos. Ele comenta que "muitas pessoas que entrevistamos nem se lembravam direito da cerimônia, do ato e de como tudo aconteceu". Por isso, houve a necessidade de documentar esses eventos, tanto para os participantes quanto para os futuros formandos, como um marco na trajetória e na formação da Famed.
Beca, Canudo e Protesto destaca, de forma verídica, a resistência dos estudantes ao regime militar. Para os autores, essas formaturas foram mais do que simples eventos de graduação: tornaram-se manifestações de luta por liberdade e democracia. “Essas formaturas foram uma tentativa da sociedade de se manter ativa, de se manter viva e dizer, ‘olha, apesar de tudo, a gente está aqui’, expõe Elisa.
O lançamento do livro é um convite para revisitar esse período de resistência e manter viva a memória da busca por um ensino livre e crítico, instigando até mesmo os estudantes de qualquer universidade brasileira a lutarem por um ensino superior justo e necessário. Para Elvino, “queremos mostrar o passado e dizer para eles que eles têm chance de também modificar a situação atual se eles acharem conveniente”.
Em Beca, Canudo e Protesto: contestação e irreverência nas formaturas da Faculdade de Medicina da UFRGS de 1974 a 1990 (Editora Libretos, 352 páginas, R$120,00), a jornalista Elisa Kopplin e o médico e professor de medicina Elvino Barros mergulham em uma investigação sobre os protestos organizados pelos formandos de medicina da época durante o ato solene mais importante da trajetória universitária: a cerimônia de formatura de Medicina. O lançamento da obra ocorre nesta quinta-feira (5), das 10h30min às 12h, no Anfiteatro Carlos César de Albuquerque - Hospital de Clínicas de Porto Alegre (rua Ramiro Barcelos, 2.350). O evento contará com sessão de autógrafos e um bate-papo com os autores e com formandos e protestantes da época, como um encontro geral das ATMs (Associação Turma Médica) de 1974 a 1990. Estão confirmadas as presenças de Adamastor Pereira, Valter Duro Garcia, Clotilde Druck Garcia, Gilberto Schwartsmann e Júlio Conte, entre outros médicos e médicas cujos relatos integram o livro. A entrada é franca, e o livro estará à venda no local.
Em capítulos detalhados, ano a ano, os escritores entrevistam mais de 100 pessoas para descobrir, enfim, como os protestos se iniciaram e como se sucederam por 17 anos na Famed. Com design gráfico assinado por Clô Barcellos, o livro-reportagem possui, além de milhares de palavras, imagens e alguns QR codes que levam o leitor a viajar no tempo além das páginas. Neles, o leitor tem acesso a vídeos de quatro formaturas da segunda metade da década de 1980 e a um áudio com parte da solenidade de 1975, raro registro de uma cerimônia da época. Dessa forma, é possível fazer ainda mais do que imaginar: é entrar na história, dar rostos e vozes aos nomes que tanto marcam a publicação.
Ao abordar a história desses formandos, algumas situações mais inusitadas e surpreendentes foram descobertas. Para Elisa, a formatura de 1985 poderia ter sido a mais adversa. Afinal, a ideia principal era tornar a cerimônia nada parecida com aquilo que todos estavam acostumados – e esperavam encontrar. A cerimônia seria uma peça de teatro. Organizada por Júlio Conte, autor e diretor da peça Bailei na Curva, a encenação da formatura seria formada basicamente por acontecimentos e experiências da turma ao longo do curso. Os ensaios já estavam a todo vapor quando Júlio, com a peça em cartaz em Porto Alegre, recebe o convite irrecusável de apresentá-la no Rio de Janeiro. Ele adia sua formatura mais uma vez – por conta do teatro, Júlio levou 11 anos para se tornar médico – e parte para a Cidade Maravilhosa. “E aí chega a ser engraçado: o grande sucesso do teatro gaúcho derrubou o que seria uma formatura histórica na época”, relata a autora.
Elvino Barros explica que uma das principais motivações para escrever o livro foi registrar na história os acontecimentos. Ele comenta que "muitas pessoas que entrevistamos nem se lembravam direito da cerimônia, do ato e de como tudo aconteceu". Por isso, houve a necessidade de documentar esses eventos, tanto para os participantes quanto para os futuros formandos, como um marco na trajetória e na formação da Famed.
Beca, Canudo e Protesto destaca, de forma verídica, a resistência dos estudantes ao regime militar. Para os autores, essas formaturas foram mais do que simples eventos de graduação: tornaram-se manifestações de luta por liberdade e democracia. “Essas formaturas foram uma tentativa da sociedade de se manter ativa, de se manter viva e dizer, ‘olha, apesar de tudo, a gente está aqui’, expõe Elisa.
O lançamento do livro é um convite para revisitar esse período de resistência e manter viva a memória da busca por um ensino livre e crítico, instigando até mesmo os estudantes de qualquer universidade brasileira a lutarem por um ensino superior justo e necessário. Para Elvino, “queremos mostrar o passado e dizer para eles que eles têm chance de também modificar a situação atual se eles acharem conveniente”.