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Publicada em 17 de Junho de 2024 às 17:20

Destaques da cultura gaúcha se despedem de Patineti em velório no Theatro São Pedro

Velório de Ayrton Patineti dos Anjos aconteceu no Theatro São Pedro

Velório de Ayrton Patineti dos Anjos aconteceu no Theatro São Pedro

TÂNIA MEINERZ/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
A grandeza do trabalho e da personalidade do produtor discográfico Ayrton dos Anjos – conhecido como "Patineti" – foi um dos temas mais comentados em meio à despedida desta que foi uma das figuras mais proeminentes do cenário musical porto-alegrense e gaúcho. Dinâmico, entusiasta, visionário, "maluco beleza" e responsável por descobrir inúmeros talentos do meio, incluindo a cantora Elis Regina, Patineti faleceu  neste domingo (16), aos 82 anos, por conta de uma infecção generalizada. Seu velório ocorreu entre 10h e 16h desta segunda-feira (17), no Theatro São Pedro. 
A grandeza do trabalho e da personalidade do produtor discográfico Ayrton dos Anjos – conhecido como "Patineti" – foi um dos temas mais comentados em meio à despedida desta que foi uma das figuras mais proeminentes do cenário musical porto-alegrense e gaúcho. Dinâmico, entusiasta, visionário, "maluco beleza" e responsável por descobrir inúmeros talentos do meio, incluindo a cantora Elis Regina, Patineti faleceu  neste domingo (16), aos 82 anos, por conta de uma infecção generalizada. Seu velório ocorreu entre 10h e 16h desta segunda-feira (17), no Theatro São Pedro
Entre o público que se deslocou ao espaço cultural para dar o último adeus ao produtor, estiveram amigos próximos - como o poeta Luiz Coronel –, músicos - como o gaiteiro Gilberto Monteiro, o compositor e acordeonista Renato Borghetti, o baterista Sadi, da banda Nenhum de Nós, e o guitarrista, arranjador e diretor musical Daniel Sá -, produtores, autoridades - como o secretário municipal de Cultura e Economia Criativa, Henry Ventura -, dois de seus três filhos e uma de suas ex-esposas, a cantora e compositora Berenice (Berê) Biachi.
Mãe do empresário Caetano Biachi dos Anjos (42 anos) – filho mais novo do produtor discográfico, conhecido no meio artístico como Caê dos Anjos –, a cantora era amiga íntima e esteve ao lado de Patineti nos últimos dias de sua vida. "Cuidamos dele 24h por dia, eu e Caetano, porque os outros filhos não moram em Porto Alegre. Como ele já tinha idade avançada, teve mais dificuldades de reagir ao tratamento", lamenta Berenice. 
Segundo o filho caçula do produtor discográfico, dos Anjos passou 50 dias internado em hospitais – inicialmente no Mãe de Deus, e depois (transferido após o alagamento no bairro Menino Deus) no Nora Teixeira, no complexo Santa Casa. O artista chegou a ter alta, mas acabou sucumbindo por conta de complicações pela idade. No sábado (15), ele passou mal e foi levado ao Hospital Dom Vicente Scherer da Santa Casa, onde veio a falecer.
"A infecção expandiu para a parte neurológica. Esse sofrimento não combinava com ele", comenta Biachi, ao ilustrar que os "astros do céu", chamaram o pai para descansar. "A parte boa é que antes destes quase dois meses doente, ele estava muito bem e ainda em atividade", emenda. "Ele viveu muito bem: era um cara feliz e alegre, que morava sozinho na Zona Sul, circulava por toda a cidade, frequentava shows, ia para o Bar do Beto à noite com os amigos", conta o filho mais novo, que trabalhava ao lado de Patineti na diretoria da Associação Brasileira de Música e Artes (Abramus).
Dentre os inúmeros eventos que o inquieto e lendário produtor musical ajudou a promover no Estado, o mais recente foi O Grande Encontro - Música dos Gaúchos. O festival – que segundo Caê dos Anjos, deve continuar acontecendo – já soma nove edições, todas realizadas no Auditório Araújo Vianna. Neste evento, Patineti reuniu nomes das mais diversas gerações (como Gaúcho da Fronteira, Os Serranos, Daniel Torres, Maria Alice, Loma, Neto Fagundes, Renato Borghetti, Elton Saldanha, Ernesto Fagundes, Juliana Spanevello, Luiz Marenco, entre outros), a fim de enaltecer a cultura regional e "manter acesa" a chama do nativismo.
"Ele trabalhou com grandes artistas gaúchos, e para as grandes gravadoras do Brasil, sempre focado no coletivo", comenta o músico, jornalista e ex-secretário de Cultura do Estado, Victor Hugo, que esteve presente no velório do produtor. "O Patineti – apelido dado a ele por Elis Regina – era 'supersônico', ele voou por todas as galáxias: para além de ter o empreendedorismo na veia, de produzir 90% dos grandes nomes no Rio Grande do Sul, foi um lutador e promotor dos direitos autorais de autores e intérpretes. Ele vislumbrou e abriu caminhos, além de agregar talentos. Ele tinha essa capacidade enorme, foi uma pessoa com uma trajetória singular. Começou vendendo discos, depois divulgando os selos das gravadoras, e foi aí que começou a convencer as gravadoras a lançarem músicos gaúchos, até que se tornou produtor discográfico", resume o jornalista. "Dentre muitos projetos, além do Grande Encontro, ele também produziu os shows Califórnia da Canção (inclusive fora do Estado) e Música Popular Gaúcha (MPG), só para dar dois exemplos", emenda.
Outro amigo pessoal de Patineti, o músico, instrumentista, compositor e cantor de música regional gaúcha, Ernesto Fagundes destaca que dos Anjos foi uma "figura que transitou em todos os estilos" da música do Rio Grande do Sul. "Ele era um agitador cultural, que estava sempre 'em 220W', e circulou em todas as vertentes da música. No caso de Os Fagundes e da música regional, não tem como esquecer que o festival 2ª Tertúlia Musical Nativista, que lançou o Canto Alegretense, tinha produção do Ayrton dos Anjos; quem colocou o tio Nico Facundes a apresentar o Galpão Crioulo foi ele; o primeiro disco do Neco Fagundes foi produzido pelo Patineti, então a ligação dele com a gente era grande. Isso sem falar de O Grande Encontro, que juntou várias gerações desta vertente."
"Nosso querido Patineti deixou uma mudança de comportamento da música no Rio Grande do Sul", avalia o secretário Henry Ventura. "Seu grande legado foi mostrar a potência e força artística do nosso mercado em nível nacional." Segundo o secretário, o produtor fonográfico foi um dos "caras mais alegres" que ele conheceu. "Estava sempre com um sorriso no rosto e vivia os sonhos que sonhava." Amiga pessoal de dos Anjos, a cantora Angela Flack define o produtor como um grande realizador e uma pessoa muito positiva e alegre. "Sua figura é imortal".
Segundo o empresário Fábio dos Anjos (57 anos) – filho do primeiro casamento de Ayrton dos Anjos, ao lado de Mauro dos Anjos –, "a música gaúcha não seria o que é, não fosse o trabalho" de seu pai. "Ele acreditava mais que qualquer pessoa, quando decidia lançar alguém. E ninguém tirava isso da cabeça dele, na maioria das vezes ele sempre acertava e tudo dava certo. Na minha visão, ele virou uma lenda, graças a esse dom de captar no ar o que nem outros especialistas da área captavam."
 

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