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Publicada em 28 de Abril de 2024 às 20:09

ADIADA: Peça 'A Fome' propõe um ritual gastronômico radical na Sala Álvaro Moreyra

Cia. Espaço em Branco celebra 20 anos de teatro experimental, com temporada do espetáculo A fome na Sala Álvaro Moreyra

Cia. Espaço em Branco celebra 20 anos de teatro experimental, com temporada do espetáculo A fome na Sala Álvaro Moreyra

MORGANA MAZZON/DIVULGAÇÃO/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
ATUALIZAÇÃO (17h52min): Em decorrência da emergência climática que assola o Estado, as apresentações do espetáculo A Fome ocorrerão nos dias 11, 11 e 12, sextas e sábado às 20h, e domingos às 19h. Quem adquiriu ingressos antecipados para este final de semana (3, 4 e 5 de maio), poderá assistir ao espetáculo no próximo final de semana. A direção da Cia. Espaço Branco também entrará em contato com os compradores para mais esclarecimentos.
ATUALIZAÇÃO (17h52min): Em decorrência da emergência climática que assola o Estado, as apresentações do espetáculo A Fome ocorrerão nos dias 11, 11 e 12, sextas e sábado às 20h, e domingos às 19h. Quem adquiriu ingressos antecipados para este final de semana (3, 4 e 5 de maio), poderá assistir ao espetáculo no próximo final de semana. A direção da Cia. Espaço Branco também entrará em contato com os compradores para mais esclarecimentos.
Somando duas décadas de teatro experimental, a Cia. Espaço em Branco retorna à cena com apresentação do espetáculo A fome, monólogo dirigido por João de Ricardo, com atuação de Sissi Venturin. A temporada acontece na Sala Álvaro Moreyra (rua Érico Veríssimo, 307 – Centro Municipal de Cultura) a partir desta sexta-feira (3) e segue até o dia 12 de maio (sextas e sábados às 20h, e domingos às 19h). Os ingressos custam R$ 25,00 (meia-entrada) e R$ 50,00 (inteira) e podem ser adquiridos antecipadamente pela plataforma Sympla.
Resultado da confluência de tempo e dedicação ao teatro, em um processo de colaboração entre os dois artistas que conduziram a companhia durante esses 20 anos, a montagem dá sequência à investigação que norteia os espetáculos dirigidos por João de Ricardo. "Priorizamos a essencialidade do trabalho de ator", destaca o fundador e diretor da Cia. Espaço em Branco.
Daí vem o nome da companhia, que faz referência aos livros e pensamentos teóricos do diretor britânico Peter Brook sobre o teatro: um lugar a ser preenchido, que ainda não tem significado, centrado no ator e na atuação vigorosa. Para além de ser inspirado no teatro de Brook, o nome 'Espaço em Branco' também é uma referência às telas de cinema e às galerias de museus, destaca o diretor. "Outra característica presente nos espetáculos da companhia é o hibridismo, que ocupa um espaço versátil, se desdobrando em múltiplas camadas sensoriais", emenda.
Nesse sentido, a Cia. Espaço em Branco costuma se utilizar com frequência do audiovisual, de instalações, de elementos cênicos e de lâmpadas fluorescentes coloridas (que servem tanto para iluminar como para constituir a cenografia das peças), entre outras ferramentas que ampliam o convite à imaginação do espectador. A aparição do diretor em cena também é uma constante. Tudo isso está presente em A fome, espetáculo que incorpora circunstâncias míticas e críticas sobre o feminino, em uma performance-limite entre o ritual e o cyber.
Misturando humor e horror psicológico, a montagem apresenta uma personagem atordoada por pensamentos obsessivos sobre o amor, que resolve cumprir um ritual gastronômico radical. Diante de seu amante, ela vai até o limite para revelar toda a verdade sobre seu relacionamento e provar sabores fatais. Denunciando um universo majoritariamente machista, Sissi representa a voz de muitas mulheres em situações de abuso
Para além de elementos de vídeo e música ao vivo, o expectador irá se deparar com uma performance visceral da artista que, por essa atuação, recebeu o Troféu Braskem em Cena de Melhor Atriz, em 2019. Antes disso, no ano da estreia do espetáculo, A fome venceu o Prêmio Açorianos na categoria Melhor Dramaturgia, assinada por Sissi em parceria com o ator e produtor Marcos Contreras. "O texto é de 15 anos atrás. Quando a gente escreveu, tudo que colocamos no papel era muito original dos sentimentos da época, mas não tínhamos tanta consciência dessa fertilidade de um lugar meio empírico que se revela no espetáculo", comenta a atriz. 
Na história que vai para a cena, a personagem, que é traída pelo namorado e acaba se vingando de diversas formas, até chegar ao canibalismo, passa longe de ser uma "mulher histérica": "ela é voraz, tem uma ironia, se torna uma vilã (ao contrário do texto original, onde era mais envolvida pelo sentimento)", pontua Sissi. "Agora ela é 'a Deusa Kali', com sentimentos primitivos, empoderada; é a própria King Kong fêmea", compara. "A dramaturgia dessa montagem nega o realismo (no texto original, a personagem estava em um consultório pisquiátrico) e nega a interlocução com 'o macho' (o psiquiatra). É todo tempo aquela mulher e suas imagens internas", completa João de Ricardo, que também entra em cena em dois momentos.
A ironia e a comicidade presentes no texto - e extrapoladas em seu sentido a partir da mobilização do corpo e da voz da atriz (que em alguns momentos surge modulada) - surgem no decorrer da trama, observa o diretor. Quem espera encontrar uma dramaturgia com início, meio e fim, irá se surpreender. "É um espetáculo onde cada sequência gera sua realidade cênica, seu um univeso específico. No começo, é  caos, barulho, sombras; de repente, a plateia e a personagem estão em um programa de auditório; para logo virar um filme de terror; em seguida, ela recebe a deusa Kaly, e por aí vai", adianta João de Ricardo.
Após incorporar a força da deusa pagã, a personagem (que é uma mulher sem nome) mostra-se em pedaços: boca, vagina, cabeça. Em seu discurso, é verborrágica, parente próxima dos personagens do dramaturgo irlandês Samuel Beckett. Razão e instinto, ego e inconsciente, almas e corpos, tudo isso está presente em A fome. "Estamos felizes de retornar à Sala Álvaro Moreyra, em uma ação independente, assim como foi na primeira estreia da Cia. Espaço em Branco, com o espetáculo Extinção", comenta Sissi.
A comédia de humor negro que conta através do jogo de cinco atores a história da destruição e morte de uma riquíssima família e que deu início à trajetória da Espaço em Branco, também rendeu prêmio (Açorianos de Melhor Atriz Coadjuvante) à atriz-fundadora da companhia, em 2005. De lá para cá, os artistas têm aprimorado sua pesquisa em performance artística, dança, vídeo e música, produzindo obras com dramaturgia e trilhas originais que conjugam arte e tecnologia. Em alguns deles, João de Ricardo também atua, mas, na maioria, assina a direção.
No decorrer de sua trajetória, até então, a Cia. Espaço em Branco produziu 13 espetáculos, incluindo os sucessos Andy/Edie, Teresa e o aquário, Prata paraíso (Prêmio Açorianos de Melhor Espetáculo e Melhor Ator para Andrew Tassinari, em 2017) e Tocar paraíso (Melhor Espetáculo, Melhor Direção e Atriz para Evelyn Ligocki, em 2019).

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