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Publicada em 19 de Abril de 2024 às 11:40

Augusto Licks e Carlos Maltz, duas engrenagens do Engenheiros do Hawaii que se reencontram em show no Opinião

Apresentação deste domingo (21), no Opinião, traz guitarrista e baterista ao lado do tributo Engenheiros Sem Crea

Apresentação deste domingo (21), no Opinião, traz guitarrista e baterista ao lado do tributo Engenheiros Sem Crea

DETALHE DE ARTE DE ABSTRATTI PRODUTORA/DIVULGAÇÃO/JC
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Igor Natusch
Poucas bandas surgidas no cenário rock gaúcho dos anos 1980 foram capazes de capturar a imaginação dos brasileiros como os Engenheiros do Hawaii. E poucas bandas, em todo o País, deixaram, ao se separarem, uma sensação tão clara de um rompimento irreversível, quase uma implosão, algo que nem toda a conversa do mundo seria capaz de resolver. Um show como o que está programado para o Opinião (rua José do Patrocínio, 834) neste domingo, às 21h, reunindo o guitarrista Augusto Licks e o baterista Carlos Maltz, era um acontecimento impensável há pouco tempo atrás - e mesmo assim está confirmado, com ingressos (entre R$ 90,00 e R$ 280,00) à venda pelo Sympla e tudo. Um testemunho, como os próprios músicos fazem questão de admitir, de que as coisas podem mudar - e de que diferenças, seja de que dimensão sejam, podem sim ser superadas em nome da paixão coletiva pela música.
Poucas bandas surgidas no cenário rock gaúcho dos anos 1980 foram capazes de capturar a imaginação dos brasileiros como os Engenheiros do Hawaii. E poucas bandas, em todo o País, deixaram, ao se separarem, uma sensação tão clara de um rompimento irreversível, quase uma implosão, algo que nem toda a conversa do mundo seria capaz de resolver. Um show como o que está programado para o Opinião (rua José do Patrocínio, 834) neste domingo, às 21h, reunindo o guitarrista Augusto Licks e o baterista Carlos Maltz, era um acontecimento impensável há pouco tempo atrás - e mesmo assim está confirmado, com ingressos (entre R$ 90,00 e R$ 280,00) à venda pelo Sympla e tudo. Um testemunho, como os próprios músicos fazem questão de admitir, de que as coisas podem mudar - e de que diferenças, seja de que dimensão sejam, podem sim ser superadas em nome da paixão coletiva pela música.
Na ausência de Humberto Gessinger (que, até o momento, não sinalizou interesse em uma reunião), os dois integrantes da formação clássica dos Engenheiros estarão acompanhados por Sandro Trindade (baixo e voz), fundador dos Engenheiros Sem Crea, uma banda tributo que já tinha feito apresentações com Marcelo Pitz, baixista original do conjunto gaúcho e que gravou o debut Longe Demais das Capitais (1986). No repertório, vários dos numerosos clássicos do inesquecível power trio - uma oportunidade, até o momento, única de ver dois terços da banda clássica em cima de um palco, mais de 30 anos depois de uma separação bastante traumática.  
"Depois que fui tirado da banda em 1993, não tivemos mais contato. A minha saída não foi fácil, aconteceu de tal forma que parecia que era para nunca ter volta. Precisei de um longo período afastado da cena musical, para me reorientar", conta Augusto Licks ao Jornal do Comércio. "Mais recentemente, um ano antes da pandemia, o Carlos (Maltz) me ligou e, para minha surpresa, falou que estava tentando reunir a banda. Bem antes disso, ele já tinha se manifestado publicamente reavaliando o que tinha acontecido, e eu considerei um gesto de grandeza, essa capacidade de reavaliar as coisas."
"A nossa reaproximação aconteceu por causa do Sandro Trindade, ele é o engenheiro da ponte", brinca Carlos Maltz, a segunda engrenagem clássica da banda. "Há 30 anos que a gente estava sem se falar, a gente rompeu, teve briga, (entramos na) Justiça, tudo que tem direito, briga de cachorro grande. Eu até tentei me aproximar, mas a coisa não andou muito", relembra o baterista. "Aí eu passei por uma situação de saúde bem delicada alguns anos atrás, Augusto mandou uma mensagem, e aquilo foi um passo no sentido de uma aproximação. Mas quem construiu a ponte foi o Sandro", reforça. 
O próprio Maltz, que saiu dos Engenheiros do Hawaii cerca de três anos depois de Licks, também precisou de um tempo considerável para digerir todo o processo de uma banda que surge, alcança o auge do rock nacional e, com muito estrondo, se desfaz. Estudou Astrologia e Psicologia, com pós-graduação voltada ao pensamento de Carl Gustav Jung, e hoje atende clientes em um consultório particular. A música seguiu presente, em uma escala muito menos intensa, mas a sombra do sucesso vivido sempre esteve lá. "Se eu senti saudades da banda, da estrada... Sei lá. A gente viveu tudo tão intensamente naquela época! Parece que foi ontem que a gente se separou."
Feridas e arestas que foram sendo superadas não apenas pelo poder cicatrizante dos anos, mas também pela consciência crescente do legado que se deixou. Para Augusto Licks, que tocou com o Engenheiros Sem Crea no ano passado, o impacto da reação dos fãs foi decisivo. "Fizemos vários shows em casas noturnas lotadas, o que para mim foi uma surpresa e a confirmação do argumento que o Sandro usou para me convencer a aceitar: Engenheiros do Hawaii não existe mais, mas muitos fãs querem ouvir as canções, e do jeito que eram tocadas na nossa época", afirma.
Pois é exatamente isso que a dupla, com a parceria de Sandro, promete entregar no palco do Opinião - uma noite que, como Licks admite, tem tudo para ser "mais do que um show, um acontecimento". Ambos, aliás, sobem ao palco cientes de que, com esse show, uma hipotética reunião de ambos com Humberto Gessinger cresce ainda mais na imaginação dos fãs. Um desejo coletivo que eles reconhecem, mas são cuidadosos em não alimentar além da conta. "Estamos concentrando todas nossas energias nesse 21 de abril, 20 horas. Não nos cabe fazer projeções fora disso. (Uma reunião dos Engenheiros do Hawaii) é uma questão de querer, usar o livre arbítrio nesse sentido. Até hoje o Humberto (Gessinger) não quis, nunca demonstrou simpatia com a ideia de nos reunirmos. É direito dele, fazer o quê?", diz Licks.
"Olha, eu pessoalmente, Carlos Maltz, o que eu quero? Eu quero ver a banda reunida", admite o baterista, sem meias palavras. "Porque eu acho que, nesse momento que o Brasil está atravessando, um momento bem depressivo, bem pesado, isso vai trazer uma alegria, vai trazer uma união, a partir da própria união entre nós, passando por cima das diferenças e nos unindo pela música. A minha vontade pessoal é essa, que a gente possa reunir a banda no ano que vem, no aniversário de 40 anos. Eu estou trabalhando para isso, mas não depende só de mim."
 

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