O vencedor dos prêmios Shell e Bibi Ferreira, e reconhecido como um dos mais importantes atores do Brasil, Fulvio Stefanini, volta a Porto Alegre nesta semana. Ele protagoniza a peça de comédia dramática, também premiada nas categorias de melhor ator, cenário e espetáculo do ano, O Pai. A montagem ganha três apresentações no Theatro São Pedro (Praça da Alfândega, s/n°), na sexta-feira (12) e sábado (13), às 20h e no domingo (14), às 18h. Ingressos ainda estão à venda, a partir de R$ 25,00 no site do local.
A peça foi criada pelo dramaturgo francês Florian Zeller, e estreou em 2012, no Théâtre Hébertot em Paris, com o título original Le Père. Um sucesso com o público e também com a crítica, o espetáculo foi encenado em muitos outros países da Europa. Em 2020, também ganhou adaptação para o cinema, com seis indicações ao Oscar, e o veterano Anthony Hopkins no papel principal, que conquistou a estatueta de melhor ator. A história aborda as relações familiares e o psicológico humano, ao retratar um idoso que começa a perder as noções de realidade, e sua filha, em um dilema entre cuidar de seu pai e aproveitar sua vida em um novo relacionamento.
Quem trouxe a adaptação para o Brasil foi a atriz Carol Gonzalez, intérprete do papel da filha do protagonista, que morava em Paris e descobriu a peça por lá, então comprou os direitos e foi uma das tradutoras. Aconselharam o nome de Fulvio para o papel de André, e Carol foi assistir a uma peça que seu filho, o ator e diretor Léo Stefanini estava dirigindo. E assim, os bastidores da peça também se tornam familiares, com pai e filhos, visto que Fulvio Filho também atua no espetáculo. A estreia brasileira aconteceu em 2016, e desde então mais de 100 mil pessoas já assistiram ao espetáculo.
“Eu li essa peça e achei excepcionalmente maravilhosa, inteligente, bem escrita… Estava na medida do que eu queria fazer, com um personagem para a minha idade, então foi uma dádiva receber o convite”, conta Fulvio, em entrevista a reportagem do Jornal do Comércio. Ele ainda explica que o espetáculo exigiu muito estudo, por ser uma trama complexa. Foram feitas muitas pesquisas, sobre o aspecto médico do Alzheimer, mas também do aspecto humano, de quem convive com alguém perdendo suas memórias. “E acho que a gente está entregando ao público um espetáculo muito honesto. Fomos a fundo nos problemas do personagem. Mas é uma história humana, verdadeira, muito comovente e ao mesmo tempo engraçada em alguns momentos”, comenta o ator, que em breve completará 70 anos de carreira.
Fulvio iniciou sua trajetória ainda na adolescência, com o teatro, e depois passou a fazer novelas, como Gabriela, Chocolate com Pimenta, Alma Gêmea, Caras e Bocas e muitas outras. Nos últimos anos, voltou a se dedicar aos palcos, ainda que com a interrupção da pandemia de Covid-19. O veterano também comenta sobre as diferenças de fazer um personagem ao vivo no teatro e em gravações. “No teatro, você envolve a plateia emocionalmente e ela embarca com você, é uma viagem. O que se mostra no cinema e na televisão pode ser revisto muitas vezes, e vai sempre ser igual. Já o grande barato do teatro é que cada espetáculo é único”, afirma o protagonista. Fulvio ainda defende que fazer teatro é fundamental para todos os que têm pretensão de atuar, é a melhor escola. “O ator nunca deveria se distanciar do teatro. A minha carreira começou assim, e ainda não terminei, mas acho que vou terminar no teatro”.
Sobre sua preparação para viver o personagem, Fulvio conta que foi um processo um pouco demorado devido a complexidade. Tudo começa com o que os artistas chamam de trabalho de mesa, quando os envolvidos na peça leem o texto juntos e discutem sobre como prosseguir a construção do espetáculo e personagens. Ele conta que foi preciso muito estudo, ainda mais sabendo que boa parte do público que iria assistir à peça, poderia ter convivido com alguém que teve algum tipo de demência. “Deu muito trabalho mas foi muito interessante, inclusive descobrimos que essas pessoas, mesmo sendo muito diferentes, acabam tendo um comportamento muito semelhante em razão da doença”, explica.
Léo Stefanini também comenta, em entrevista ao Jornal do Comércio, sobre os bastidores: “Foi um processo muito intenso, e nós tínhamos no próprio elenco, no dia a dia, experiências práticas de duas pessoas que conviveram com Alzheimer na família. Foi emocionante também, alguns dias tivemos que parar a leitura do texto em certos momentos porque tava todo mundo meio chorando, mal”. Léo explica que na montagem brasileira, eles optaram por seguir um caminho que, em parte, é cômico. A equipe pesquisou as outras adaptações da peça e decidiu por incluir uma parte que seja mais leve, para ser fidedigno aos aspectos humanos da vida.
Ele também compartilha um aspecto pessoal que alegra sua família e a equipe da peça. Em 2021, Fulvio teve uma infecção bacteriana que progrediu e o deixou internado no hospital por duas semanas, e ainda quatro dias na UTI, o que preocupou todos. Sobre a experiência, Léo conta que uma fala de seu pai, quando estava quase inconsciente, foi marcante: “Será que eu ainda vou conseguir fazer teatro?”. O diretor reflete que a recuperação de Fulvio foi emocionante para todos, assim como dirigi-lo novamente em O Pai. Léo ainda comenta sobre as reações do público ao assistir à peça. “As pessoas morrem de rir e morrem de chorar, é uma montanha russa de emoções. Isso é pura arte”.