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Publicada em 02 de Abril de 2024 às 19:11

Tailor Diniz traz lendários crimes do século XIX para os tempos atuais em Os canibais da Rua do Arvoredo

escritor e roteirista gaúcho Tailor Diniz

escritor e roteirista gaúcho Tailor Diniz

Citadel Editora/Divulgação/JC
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Adriana Lampert
Adriana Lampert Repórter
Sátira contemporânea inspirada no caso de consumo de carne humana que ficou famoso na Capital gaúcha do século XIX, a obra Os canibais da Rua do Arvoredo, de autoria do escritor e roteirista gaúcho Tailor Diniz, já pode ser encontrada em diversas livrarias de Porto Alegre. A publicação, promovida pelo selo Lucens da Citadel Grupo Editorial, tem 208 páginas e custa (em média) R$ 66,90.
Sátira contemporânea inspirada no caso de consumo de carne humana que ficou famoso na Capital gaúcha do século XIX, a obra Os canibais da Rua do Arvoredo, de autoria do escritor e roteirista gaúcho Tailor Diniz, já pode ser encontrada em diversas livrarias de Porto Alegre. A publicação, promovida pelo selo Lucens da Citadel Grupo Editorial, tem 208 páginas e custa (em média) R$ 66,90.
Apresentando uma narrativa instigante e provocadora em torno de um novo boato sobre crimes semelhantes aos cometidos por José Ramos e Catarina Palse nos anos de 1863 e 1864, o autor tempera o enredo de seu livro com elementos adicionais: o fastio à carnificina, o ardente desejo sexual, o medo e a conexão entre passado e presente.
"Na verdade, a trama pouco tem da história original, salvo a inspiração e as referências ao casal que ficou conhecido pelos crimes da Rua do Arvoredo, na Capital", adianta Diniz. "No livro, os personagens centrais são um aluno de Gastronomia e uma estudante de Medicina, que se mudam para uma casa localizada na rua Fernando Machado (antiga Rua do Arvoredo) e, no porão, encontram objetos que teriam sido utilizados pela dupla de assassinos para fazer linguiça com carne humana, um século e meio atrás", emenda.
Influenciados pelos espíritos dos antigos moradores do local, Catarina e José (mesmos nomes do casal da história real, que fornecia carne humana para o açougueiro Carlos Claussner vender como linguiça no Centro de Porto Alegre) viverão, segundo o autor, "momentos de luxúria e terror" no velho porão de pedras antigas - em meio a facas, cutelos, machados, um moedor de carne e um esqueleto humano. Antes de absorverem as características brutais que os levarão a cometer os assassinatos, os personagens do livro de Diniz ficarão impressionados com os barulhos que escutam e os vultos e sinais que vão encontrando dentro de casa. Preocupados, eles buscam compreender o que está acontecendo.
"Primeiro, os dois ficam sabendo da lenda urbana que teria acontecido naquela residência; depois tentam se comunicar com os espíritos, via 'jogo do copo'; até que são informados de que aquelas almas estão ali interferindo para que eles cumpram uma determinação que lhes será repassada", conta o escritor. Nessa busca por desvendar o mistério em torno das assombrações, a dupla de personagens também consulta um charlatão, "que inventa fatos". "Na verdade ele é um assediador, que está mais interessado na beleza de Catarina. Esse é um dos pontos da sátira, onde brinco com essa prática muito comum até hoje - mas que fique claro que não estou criticando o trabalho de videntes sérios", emenda Diniz. 
Outras ironias se apresentam na trama, a exemplo do narrador da história: um observador onipresente, que se diz membro de uma organização internacional, cujo objetivo é dominar o mundo e transformar a população em comunistas/globalistas. "Para alcançar o plano, os integrantes da organização teriam introduzido um chip na vacina contra a Covid-19, que emite sinais para um supercomputador, permitindo saber tudo das pessoas e o que elas pensam, além de manipular a vida dessas pessoas", diverte-se o autor. "O observador/narrador também é um voyeur convicto que, nas horas vagas, bisbilhota a vida alheia - então topa com a Catarina e o José, e começa a monitorar os dois pelo chip. Por isso, sabe onde estão e o que estão fazendo."
Diniz explica que essa foi a forma que ele encontrou de inserir um narrador em terceira pessoa, visto que costuma, em sua produção literária - mais voltada para o suspense e literatura policial - contar suas histórias na primeira pessoa. "Esse é meu primeiro trabalho sobre terror. Tem cenas pesadas, como a do primeiro assassinato que o casal realiza; e o final é bem terrível e sanguinolento. Mas na maior parte do tempo, o livro é mesmo uma sátira. Acho que consegui mesclar terror com literatura noir, pois não é sangue o tempo todo", pondera.
Ainda de acordo com o escritor, a ideia de revisitar o crimes insólitos de José Ramos e Catarina Palse surgiu a partir de uma demanda da produtora Paris Filmes, que vai produzir, em parceria com a gaúcha Accorde Filmes uma adaptação do livro de Diniz para o streaming, prevista para ser rodada no ano que vem. O caso real, ocorrido em Porto Alegre há 150 anos, já inspirou diversas outras publicações literárias (como O maior crime da Terra - o açougue humano da Rua do Arvoredo, do historiador Décio Freitas; Canibais, de David Coimbra, e Cães da província, de Luiz Antonio de Assis Brasil).
O diferencial da narrativa de Diniz, segundo ele, está na aposta da ficção em tom irônico, bem como na mudança do protagonismo dos assassinatos. "Na história real, é José Ramos quem comanda os crimes. Em Os canibais da Rua do Arvoredo, as mortes são orquestradas por Catarina, que também sente um prazer diferenciado em saber que aquelas pessoas que até ontem estavam vivas agora estão sendo consumidas em forma de linguiça pela população da cidade."
 

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