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Publicada em 20 de Março de 2024 às 01:25

Turnê de despedida do Sepultura passa por Porto Alegre nesta quinta-feira (21)

Lendária banda brasileira (aqui, ainda com Eloy Casagrande, à direita) Sepultura faz show no Auditório Araújo Vianna nesta quinta-feira (21)

Lendária banda brasileira (aqui, ainda com Eloy Casagrande, à direita) Sepultura faz show no Auditório Araújo Vianna nesta quinta-feira (21)

/STEPHAN SOLON/DIVULGAÇÃO/JC
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Igor Natusch
Uma celebração da vida, a partir da morte. Mais do que dar nome à turnê que marca a despedida do Sepultura dos palcos, a frase resume diferentes aspectos - todos eles fundamentais - na trajetória do grupo, que conquistou o mundo por meio do heavy metal e que pode, sem qualquer exagero, ser tratado como o conjunto musical brasileiro mais influente de todos os tempos, ao menos fora do País. A última turnê da banda, com previsão de durar até a metade do ano que vem, passa por Porto Alegre nesta quinta-feira, com show no Auditório Araújo Vianna (avenida Osvaldo Aranha, 685) a partir das 21h. Só há ingressos disponíveis, via Eventim, para a modalidade Meet & Greet; todos os demais setores estão esgotados.
Uma celebração da vida, a partir da morte. Mais do que dar nome à turnê que marca a despedida do Sepultura dos palcos, a frase resume diferentes aspectos - todos eles fundamentais - na trajetória do grupo, que conquistou o mundo por meio do heavy metal e que pode, sem qualquer exagero, ser tratado como o conjunto musical brasileiro mais influente de todos os tempos, ao menos fora do País. A última turnê da banda, com previsão de durar até a metade do ano que vem, passa por Porto Alegre nesta quinta-feira, com show no Auditório Araújo Vianna (avenida Osvaldo Aranha, 685) a partir das 21h. Só há ingressos disponíveis, via Eventim, para a modalidade Meet & Greet; todos os demais setores estão esgotados.
A morte, como sabemos, pode ser bastante tumultuosa. Quando falamos de Sepultura - um grupo que surgiu em Minas Gerais, no distante 1983, com a determinação de fazer história no som pesado - os momentos turbulentos são quase um traço de personalidade, e o último ato não poderia ser ausente de trepidações. Dias antes de começar a turnê, na mesma Belo Horizonte que viu a banda nascer, o grupo anunciou que o baterista Eloy Casagrande estava deixando o Sepultura. O tom da nota, pouco amigável, não deixava dúvidas de que a separação havia sido bem menos amistosa do que poderia - e o próprio baterista não se esforçou muito para esclarecer as coisas, com um comunicado no qual se resume a dizer que "decisões precisaram ser tomadas pensando em novos ciclos que virão". O boato quente no mundo metálico é que Eloy foi convidado para o Slipknot, um dos gigantes do metal atual - uma mudança que, até o momento, não foi confirmada nem pelo músico, nem pela sua suposta nova banda.
Para preencher a lacuna, o Sepultura trouxe o norte-americano Greyson Nekrutman. O jovem de 21 anos é considerado um prodígio da bateria, com reconhecimento como músico de jazz e passagem destacada pelo Suicidal Tendencies, além de seguidamente viralizar com seus vídeos nas redes sociais. Sentar no mesmo banquinho em que nomes como Igor Cavalera e Jean Dolabella fizeram história não é tarefa das mais simples, mas as primeiras performances de Nekrutman nas baquetas do Sepultura renderam elogios por parte dos fãs, de forma que a inesperada lacuna parece estar sendo preenchida sem maiores problemas.
Nekrutman nem mesmo era nascido quando uma turbulência ainda mais grave tirou o Sepultura dos trilhos, prejudicando o que parecia uma jornada irresistível rumo à dominação do cenário metálico mundial. Na metade dos anos 1990, a banda formada por Max Cavalera (voz e guitarra), Andreas Kisser (guitarra), Paulo Jr. (baixo) e Igor Cavalera (bateria) não era apenas a mais forte formação brasileira no exterior: eles eram, de fato e sem exagero, uma das bandas mais influentes do som pesado em todo o mundo. Erguendo-se do underground com discos como Beneath the Remains (1989) e Arise (1991), o grupo que se movia entre o thrash e o death metal reinventou a si mesmo em Chaos A.D. (1993), estabelecendo as bases do que, mais tarde, seria chamado de groove metal. Roots (1996), ao unir ao som do grupo influências explícitas de música indígena e percussão brasileira, foi ainda mais longe, sendo presença constante em listas de melhores álbuns de metal de todos os tempos. Havia uma mudança em curso, e o Sepultura estava na linha de frente, em um avanço que parecia irresistível. 
Mas foi justamente no auge da popularidade que o conjunto quase sucumbiu. Após conflitos em torno da empresária Gloria Cavalera, esposa de Max, e de uma série de desentendimentos (envolvendo inclusive a suposta indiferença com a morte de Dana Wells, um dos filhos de Gloria), o frontman deixou abruptamente a banda, iniciando um novo projeto chamado Soulfly. Tanto Max (mais tarde reunido com o irmão Igor, depois de anos de distanciamento) quanto o Sepultura seguiram suas carreiras, com diferentes níveis de sucesso, mas a verdade é que nenhum dos núcleos alcançou um patamar comparável ao auge do quarteto clássico - que dirá as alturas imaginadas quando o grupo estava na crista da onda do metal mundial. 
Seja como for, o Sepultura não morreu. Seguiu ativo, com Andreas e Paulo assessorados pelo vocalista norte-americano Derrick Green, e lançando discos como Dante XXI (2006), Kairos (2011) e Quadra (2020) - nenhum deles tão bem sucedido quanto os clássicos do passado, mas todos elogiados pela crítica e bem recebidos pela maior parcela dos fãs. É em torno deles, aliás, que o Sepultura constrói seu setlist de despedida - uma certa cutucada em Max e Igor, talvez, já que os irmãos Cavalera têm feito turnês tocando clássicos do passado, e recentemente lançaram regravações dos primeiros discos dos anos 1980. Recusando propostas financeiramente vantajosas para uma reunião, Andreas Kisser (que vivenciou a morte de perto recentemente, perdendo a esposa Patricia Kisser e a mãe Anna Maria Tarkusch em um curto espaço de tempo) deu a entender, em entrevistas, que desejava ter controle sobre o legado do Sepultura e a hora de colocá-lo para descansar - uma espécie de eutanásia musical, garantindo um fim digno antes que o esforço de quatro décadas deslizasse para a autoparódia. 
Em resumo, é o fim. Mas é um final que não olha com tristeza para si mesmo, garantem os músicos: o termo "vamos celebrar" vem sendo repetido quase como grito de guerra nos shows e entrevistas que preparam caminho para o longo adeus. Girando o mundo uma vez mais, o Sepultura presta tributo ao que é, o que foi e o que poderia ter sido - e convém aos fãs gaúchos de metal não perderem essa última oportunidade de ver o gigante em ação. 
 

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