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Publicada em 10 de Fevereiro de 2024 às 10:07

A Universal, maior gravadora do mundo, quer suas músicas fora do TikTok

Vídeos no TikTok contendo músicas de artistas sob contrato da Universal, como Taylor Swift, tiveram áudio silenciado nos últimos dias

Vídeos no TikTok contendo músicas de artistas sob contrato da Universal, como Taylor Swift, tiveram áudio silenciado nos últimos dias

/ROBYN BECK/AFP/JC
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Agência Estado
A Universal Music, maior gravadora do mundo, surpreendeu na última semana com o anúncio de que iria retirar músicas com seu selo do TikTok, como revela Sabrina Legramandi para a Agência Estado. No catálogo da empresa, estão grandes nomes da música internacional, como Taylor Swift e The Weeknd, e também do Brasil, como Anitta e Jão.
A Universal Music, maior gravadora do mundo, surpreendeu na última semana com o anúncio de que iria retirar músicas com seu selo do TikTok, como revela Sabrina Legramandi para a Agência Estado. No catálogo da empresa, estão grandes nomes da música internacional, como Taylor Swift e The Weeknd, e também do Brasil, como Anitta e Jão.
Como justificativa, a gravadora alegou não ter entrado em acordos com a plataforma acerca da compensação dos artistas, do uso de inteligência artificial na rede social e da segurança online no TikTok. A rede social respondeu também com uma nota pública que acusava a gravadora de "colocar sua própria ambição acima dos interesses de seus artistas e compositores" e disse que a plataforma é "um meio gratuito de promoção e descoberta de seus talentos".
O anúncio parece ter pouco impacto para quem não utiliza a plataforma no dia a dia, mas é fato que o TikTok teve uma enorme expressão na indústria da música nos últimos anos. Pare para pensar: quantas músicas mais curtas e com refrões rápidos você viu sendo lançadas depois da popularização da rede social? Quantos artistas já viu fazendo "dancinhas"? E quantas canções antigas você voltou a ouvir após elas terem "viralizado" na plataforma?
A Universal Music se manteve firme após o anúncio da decisão. Na conta de Taylor Swift, a aba que continha as faixas da artista aparece com um aviso de "música indisponível". Um vídeo com 12 milhões de visualizações em que Anitta ensina a dança de Mil Veces foi silenciado.
As exclusões começaram em 1º de fevereiro, dia que marcou o fim do contrato da gravadora com o TikTok. O New York Times chegou a classificar a ausência das faixas "como se Madonna tivesse um clipe excluído da MTV nos anos 1980". O anúncio representa um embate para artistas que envolve a compensação pelas canções e a divulgação das faixas. A mudança pode ser sentida negativamente até para a rede, que tem a música como ponto principal.
Para começar a compreender como se dá a compensação dos artistas no TikTok é preciso ter claro que, apesar de conter músicas, a rede não funciona do mesmo modo que plataformas como Spotify, Deezer e Apple Music. Daniel Campello, advogado de direito autoral com doutorado sobre plataformas de música, explica que, conforme a lei de direitos autorais no Brasil, o pagamento é proporcional à importância da música para o usuário.
Segundo ele, a compensação do streaming começou a ser desenhada com o surgimento do iTunes. "O Steve Jobs participou pessoalmente na questão da definição de preço no iTunes. Depois, as gravadoras acabaram impondo que elas fossem sócias de plataformas como Spotify", diz.
O advogado pontua que, apesar de ser um ponto importante para o TikTok, a música tocada na rede não paga a mesma quantia de outras plataformas de streaming. "O consumo de música é muito importante para a plataforma, mas certamente a compensação não vai ser no mesmo patamar [do que o Spotify, por exemplo]", comenta.
O produtor Vitor Cunha, CEO da distribuidora independente Magroove, aponta que o valor depende de negociações entre cada plataforma e gravadora. "Os valores podem ser diferentes até entre similares como Spotify, Deezer e Apple Music. Cada um apresenta um esquema de remuneração diferente, que deve ser levado em conta na hora de disponibilizar um catálogo", diz. Ele explica que o TikTok, ao contrário de plataformas de streaming, atua mais como "um canal de descoberta". "Se estivéssemos falando de uma plataforma de streaming, como Spotify, [o anúncio da exclusão] seria sim bem mais problemático. [...] [O TikTok] não é um canal de receita expressivo para o artista e gravadora", avalia.
Enquanto a Universal Music pautou a decisão na compensação da plataforma, o TikTok respondeu alegando ser "um meio gratuito de promoção e descoberta de seus talentos". A afirmação divide especialistas: enquanto Daniel Campello enxerga um prejuízo para a divulgação das músicas, Vitor Cunha acredita que o cenário musical esteja mais "pulverizado".
O advogado dá como exemplo Anitta, que assinou com a gravadora recentemente. Em 2022, ela fez história ao se tornar a primeira artista latina a alcançar o Top 1 do Spotify Global com Envolver, faixa que contou com uma "ajudinha" de um desafio de dança criado no TikTok. Para ele, o estilo da cantora, funk, deve ser um dos mais impactados com a mudança. "Como o lançamento de uma música do gênero dela vai sobreviver sem o TikTok?", questiona.
Cunha, por outro lado, julga que o papel da rede de vídeos pode ser cumprido por outras redes sociais. "A promoção acontece pelo TikTok, mas também no Instagram, Youtube, Facebook, Twitter", diz. "A plataforma é importante, mas certamente não tão hegemônica quanto a MTV dos anos 1980."
O anúncio dividiu artistas até da própria gravadora. O cantor Yungblud, que esteve no Brasil em 2023 durante o Lollapalooza, foi duro e avaliou a mudança como "idiota". "É a mesma m*** de sempre: duas companhias enormes decidindo o que acontece com a arte das pessoas. [...] Tudo pode ser tirado ao apertar um botão. No final das contas, é um grande lembrete para mim e outros artistas de que as coisas que você cria não devem ficar 'em dívida' com grandes empresas de tecnologia", declarou em um vídeo no TikTok.
Já o produtor Metro Boomin apontou um impacto que a rede possui na composição de novos lançamentos. "Adoro a criatividade e o apreço que as crianças demonstram pela música no TikTok, mas não gosto da bajulação forçada de artistas e gravadoras que resulta nesses discos sem vida e sem alma", escreveu em uma publicação no X, antigo Twitter.
Cunha diz que não há como prever o comportamento de outras gravadoras após a decisão da Universal Music. Ele, porém, acredita que a mudança "certamente abre uma discussão na indústria e pode acender um alerta para outras redes sociais". Já Campello julga que a exclusão ficará restrita à Universal, mas também avalia que ela abrirá discussões para o mercado musical.
 

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