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Publicada em 06 de Fevereiro de 2024 às 18:31

A alquimia lúdica de Hermeto Pascoal é atração no Farol Santander

Figura lendária da música brasileira, compositor e multi-instrumentista faz show no Farol Santander nesta quinta-feira

Figura lendária da música brasileira, compositor e multi-instrumentista faz show no Farol Santander nesta quinta-feira

GABRIEL QUINTÃO/DIVULGAÇÃO/JC
Figura lendária da música brasileira, compositor e multi-instrumentista faz show no Farol Santander nesta quinta-feira

Figura lendária da música brasileira, compositor e multi-instrumentista faz show no Farol Santander nesta quinta-feira

GABRIEL QUINTÃO/DIVULGAÇÃO/JC
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Igor Natusch
Muitos, ao buscarem as palavras adequadas para falar de Hermeto Pascoal, acabam recorrendo a termos mágicos ou esotéricos. Não é à toa, afinal, que o multi-instrumentista e compositor tenha recebido o apelido de "Bruxo" por aí. Outros tantos, tentando resolver em palavras o mesmo mistério, usam palavras de caráter lúdico - algo que igualmente faz sentido, já que a música que Hermeto cria o tempo todo tem aquele caráter de descoberta divertida que só as melhores brincadeiras conseguem igualar. Um mago brincalhão, talvez - ou um alquimista bem-humorado, que se diverte rearranjando em forma de música tudo que toca. Um sábio, talvez. Ou não. No fundo, será que importa?
Muitos, ao buscarem as palavras adequadas para falar de Hermeto Pascoal, acabam recorrendo a termos mágicos ou esotéricos. Não é à toa, afinal, que o multi-instrumentista e compositor tenha recebido o apelido de "Bruxo" por aí. Outros tantos, tentando resolver em palavras o mesmo mistério, usam palavras de caráter lúdico - algo que igualmente faz sentido, já que a música que Hermeto cria o tempo todo tem aquele caráter de descoberta divertida que só as melhores brincadeiras conseguem igualar. Um mago brincalhão, talvez - ou um alquimista bem-humorado, que se diverte rearranjando em forma de música tudo que toca. Um sábio, talvez. Ou não. No fundo, será que importa?
"O meu negócio não é saber", diz o próprio Hermeto, que aterrissa sua 'nave mãe' no átrio do Farol Santander (Siqueira Campos, 1.125) nesta quinta-feira, a partir das 20h, dentro da programação do 25º Porto Verão Alegre. Os ingressos estão esgotados. "Porque, quando você procura saber as coisas que você não tem nem mente para guardar, não tem espaço para as coisas que você queria receber. Então, o que eu quero dizer é que a música é que nem o vento, que nem o mar, que nem as estrelas. O vento não passa aqui? Aqui está ventando, mas eu vou dizer que vento é esse, dar nome a esse vento? A mesma coisa é a música", afirma.
Para acompanhá-lo nas bruxarias em Porto Alegre, o músico terá a assistência de Fábio Pascoal (percussão), Itiberê Zwarg (contrabaixo), Ajurinã Zwarg (bateria), André Marques (piano) e Jota P. (saxes e flautas). O que vai acontecer de fato no show, porém, ninguém sabe - muito menos o próprio Hermeto, que tem no imprevisível um dos elementos principais do que chama de "música universal".
Aliás, se estamos acostumados a ver um espetáculo musical como uma satisfação de expectativas (o público sabendo o que o músico vai tocar, o músico tocando o que o público quer ouvir), um show de Hermeto Pascoal subverte de todo essa lógica. De fato, é quase um pacto de incertezas: a satisfação é descobrir o acontecimento enquanto acontece, tanto na plateia quanto em cima do palco. "Eu digo que é muito bonito, e eu chamo de música universal justamente por isso: não é saber, é sentir. É quando a pessoa sente as coisas que não são adjetivas, são coisas mais inteligentes, e cada um tem a sua maneira de sentir sobre aquela música que escuta, como eu tenho a minha maneira de sentir também quando toco", explica Hermeto.
A palavra "inteligente", no caso, não é utilizada por acaso. Para Hermeto Pascoal (que, em cima do palco, toca teclado, piano, flauta-baixo, escaleta, sanfona de oito baixos, porcos, chaleira, berrante e sabe Deus o que mais), a vivência da música é, de fato, uma forma de inteligência - que o músico de 87 anos, autodidata e que toca e compõe praticamente desde o berço, certamente desenvolveu bastante durante os anos. Ícone da música brasileira e visto fora do País como uma lenda viva da world music, Hermeto já lançou mais de 35 discos e participou de tantas gravações que dá canseira só de tentar contar. Nos anos 1990, com o projeto Calendário do Som, escreveu uma música por dia, todos os dias do ano - todas elas, mais tarde, reunidas em um livro de 414 páginas.
Notório por sua conexão com a natureza (da qual extrai música, quase literalmente, o tempo todo), Hermeto Pascoal não encaixa no mundo contemporâneo de distrações eletrônicas e músicas esculpidas para o sucesso - e não sente a menor falta disso. "Eu nunca preparo as coisas, eu espero sem saber o que é, apenas querendo música. O que eu gosto fica comigo, e o que eu não gosto vai embora. E a rede social, onde você se conecta hoje em dia com isso?", indaga o bruxo. "Eu não me conecto, eles é que se conectam, eu não. Eu não vou direto a nada, não procuro nada. Eu sou o universo, a música universal."
Embora ainda se divirta como um garoto em cima do palco, o corpo de Hermeto Pascoal já não é mais jovem. Talvez fosse de se esperar uma diminuição de ritmo com o passar dos anos, quem sabe algumas pausas para descansar. Mas a música que, para Hermeto, é mistura universal de brincadeira e bruxaria, também tem poderes de elixir da juventude. "Foi boa a pergunta, porque sempre que eu estava com dor de dente, com dor de cabeça, e (estava me sentindo mal) antes de começar o show, eu entrei no palco e já senti o remédio. Comecei a tocar, saí do palco, bonzinho, acabou. É assim até hoje."
Diante da alquimia lúdica que Hermeto cria o tempo todo, quem haverá de duvidar? Do mesmo modo que ninguém sabe o que vai ser tocado no show de quinta-feira, a jornada criativa do compositor e arranjador é uma viagem que não tem hora para acabar. "Eu digo que nasci música, desde que eu nasci que é aquela história, é hoje para mim todos os dias. O primeiro dia que eu nasci, para mim, continua, todos os dias continuam sendo o primeiro dia, tão importante quanto o primeiro dia que eu nasci", ensina. E complementa, fazendo ele mesmo o resumo de tudo isso: "Eu não me canso de fazer música, e nem a música se cansa de vir para mim."
 

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