O cantor e compositor paulista Rico Dalasam volta a Porto Alegre nesta semana para o show de lançamento de seu novo álbum, Escuro Brilhante. A obra fecha uma trilogia de discos, que começou com Orgunga (2016), seguido por Dolores Dala Guardião do Alívio (2021). O encontro do artista com o público gaúcho acontece nesta quinta-feira (7), às 23h no Opinião (rua José do Patrocínio, 834). Os ingressos estão à venda na plataforma Sympla, a partir de R$ 45,00.
Nascido Jefferson Ricardo da Silva, na periferia da região metropolitana de São Paulo, em 1989, o artista canta sobre sua vida, vitórias e dores. A mudança do nome veio junto com a sua entrada nas batalhas de rap. Rico já era seu apelido, e Dalasam é um acrônimo da frase Disponho Armas Libertárias a Sonhos Antes Mutilados. "Isso veio das minhas influências árabes, das minhas pesquisas, talvez no sentido ancestral que eu sempre tentei reinventar", comenta o compositor, em entrevista ao Jornal do Comércio.
Ele ainda conta do início da sua trajetória com música, diz que nunca gostou de cantar, mas sempre gostou de escrever, e nas batalhas de rima acabou se descobrindo. Rico ainda tinha o sonho de trabalhar como diretor de arte, mas não seria possível conciliar com seu trabalho da época. "Aí eu pensei: vou gravar minhas músicas. Não tinha pretensão de trabalhar com isso, mas pensei: vai que eu consigo viajar pra algum lugar, criar relações", conta o artista. Orgulhosamente gay, ele ainda ressalta que o mundo das batalhas de rima e do rap no geral parece mais preconceituoso visto de fora, do que realmente é para quem convive.
Esse movimento talvez despretensioso resultou em uma carreira sólida, que, quando se trata de colaborações em canções, acumula nomes como Emicida, Linn da Quebrada, Gloria Groove, Jup do Bairro, Pabllo Vittar e outros. Sobre as possibilidades futuras nesse sentido, ele comenta: "Tem uma lista, um monte de parcerias que vou fazer, e coisas prontas para sair". Rico também cita nomes como Don L e Baco Exu do Blues, que diz admirar e que gostaria de ter como parceiros em algum projeto.
Seu novo álbum, Escuro Brilhante, será lançado nas plataformas dia 14 deste mês. Admitindo que o formato álbum o fascina muito mais do que o atualmente privilegiado modelo dos singles, ele diz que só parte para o trabalho em um novo álbum ou EP se estiver inquieto em alguma direção, seja para coisas tristes ou felizes. "Se a história me aparece, eu começo a mexer nela e vai surgindo. Às vezes mais rápido, às vezes demora muito". O novo disco, descreve, "é um projeto de uma história animada, feliz, acordes maiores, timbres solares e versos relacionados a esse momento do ano e da vida, que é mais calor, mais corpo". O resultado é um álbum mais carnal do que emocional, diferenciando-se dos dois anteriores.
"Esse novo álbum fecha essa trilogia e sou eu fazendo alguma elaboração acerca do amor, como ele foi se revelando, como eu fui me organizando nele", conta Rico. Todas as músicas do disco transitam nessas ideias do amor em contexto ficcional, partindo do pressuposto de que o cantor sabe sobre amor é o que ele inventou. Apesar de o visual do novo projeto ser baseado em material de arquivo do compositor, que resgatou fitas VHS e fotos da sua infância, Escuro Brilhante não é nostálgico, o que o cantor faz questão de ressaltar.
Apesar de focar em episódios e dias de amor, o álbum contrapõe com uma memória da infância, das primeiras percepções e noções de pertencimento, ou a falta dele. A intenção foi criar um arco, uma discussão acerca do tempo e do seu efeito. "Para eu poder virar futuro, eu precisei elucidar o passado, balançar para frente e para trás. É mais Exu do que nostalgia", explica Rico. Uma das ideias é contar o tempo de outra maneira, além da tradicional - o que o compositor relaciona com a ideia de começo-meio-começo, apontada por Muniz Sodré. "Não tenho o passado como saudoso e não tenho o futuro como algo inalcançável. A elaboração de hoje necessita de passado e de perspectiva, de um futuro", elabora Rico.
"Muita música, shows, fertilidade nos relacionamentos, cruzamentos importantes que coloquem a gente diante de grandezas maiores" - eis como Rico resume seus planos para 2024. Apesar de achar que o Brasil passa por um momento de efervescência cultural, Rico ressalta que certas coisas não mudam de mão. "Tomara que a gente veja as coisas acontecerem de outra maneira, ou a partir de outros moldes, porque muita coisa não acha caminho". E acrescenta: "nós, que temos a emergência como prerrogativa, estamos sempre em ponto de ebulição".