Composta por cerca de 20 obras produzidas em um período de aproximadamente 20 dias, a exposição Acúmulos Energéticos, do artista visual Luis Flávio Trampo (Tio Trampo), marca a reabertura da Casa Musgo (rua Vieira de Castro, 80) nesta sexta-feira. O evento de lançamento da mostra inicia às 19h e irá contar com a discotecagem do Dj Gê Powers. A exposição segue no espaço até o dia 14 de abril de 2024, com visitação gratuita, sempre de quartas a sextas-feiras (das 14h às 18h) e também aos sábados e domingos (das 10h às 18h).
Distribuídas no espaço que há 11 anos promove atividades culturais na rua Vieira de Castro, as obras de Tio Trampo geram ondas sensoriais através de tonalidades vivas, formas e cores, que são uma marca do artista. "Nessa série, usei uma paleta de cores primárias, com apenas tons de marrom e ocre fugindo um pouco disso, mas bem de leve", adianta.
As composições das telas (feitas em spray com o stencil) e desenhos em folhas A3 (pintadas com tinta acrílica) sugerem, através de formas geométricas, assinaturas e linhas, a essência do que representa a produção de Trampo, que tem como principais fontes de inspiração a natureza e a espiritualidade. "Gosto muito de hermetismo e tenho pesquisado muito sobre alquimia e seus arquétipos; isso pode ser conferido nestes trabalhos, onde há essa simbologia do céu e do chão, e também figuras abstratas que lembram pássaros, folhas e os quatro elementos da natureza", destaca.
Aos 51 anos de idade e três décadas de trajetória artística, Tio Trampo é um dos precursores do graffiti no Rio Grande do Sul e influenciou dezenas de outros artistas do segmento, não somente por se manter constantemente ativo nas ruas, mas também por seu trabalho voluntário como facilitador cultural e educador em oficinas para adolescentes em comunidades carentes. Desde o início de sua carreira, formou seu imaginário criativo com foco no movimento hip hop, e se tornou referência de arte urbana em Porto Alegre e no Brasil.
A mostra que chega à Casa Musgo, inclusive, é uma homenagem do artista ao cinquentenário deste conjunto cultural que inclui música (rap), pintura (graffiti) e dança (break). "Apesar de não ter nada nas obras que faça uma referência direta ao hip hop, essa é uma forma singela de expressar minha gratidão por esse movimento que me acolheu e do qual faço parte. Também estou extremamente emocionado de contar com a presença do Gê Powers (ícone da cultura black) nesta festa de abertura, uma vez que - além de um grande amigo - eu admiro o trabalho dele desde os meus 12 anos", afirma. Trampo ainda celebra o texto que apresenta a exposição, assinado pela artista transdisciplinar, Marion Velasco.
Sempre lembrado e consagrado por suas intervenções repletas de uma poética visual singular - ora simbólica e experimental, ora mais figurativa -, Tio Trampo soma trabalhos como muralista, ilustrador, diretor de arte de videoclipes, entre outros. Por conta de sua intensa produção, já teve suas obras presentes em grandes exposições nacionais e internacionais, e também esteve pessoalmente em Düsseldorf (Alemanha) para pintar murais em 2002. E, mesmo sendo um artista atuante nas ruas, não demorou para passar a ocupar espaços oficiais de arte contemporânea. Neste sentido, já expôs coletivamente em museus e galerias da Capital gaúcha e também em São Paulo, e tem uma de suas obras no acervo do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul.
"Sou um artista autoindicado. Não tenho formação acadêmica: fui construindo meu imaginário criativo de forma independente, pintando minhas roupas, o shape do meu skate, depois pranchas de surfe", recorda Tio Trampo. Ele emenda que - após toda a visibilidade construída em ambiente urbano durante as últimas décadas - desde o início da pandemia de Covid-19 passou a atuar menos nas ruas e mais em casa, no seu atelier (que ele prefere chamar de laboratório de pesquisa). "Eu gosto de cuidar do meu jardim, e tenho me inspirado nas minhas plantas e naquele ambiente para minhas criações mais atuais", comenta.
Dentre os trabalhos de arte urbana mais recentes e icônicos de autoria de Trampo, o mural que se encontra na empena do Edifício Salomão Ioschpe, no número 462 da rua José do Patrocínio, foi fator propulsor para a criação da série que compõe a mostra Acúmulos Energéticos. "Essa exposição que inaugura na sexta-feira é a segunda em que participo individualmente dentro de uma galeria e foi feita especialmente para a reabertura da Casa Musgo, a convite do diretor do espaço, Rodrigo Marroni", destaca o artista. "Nos conhecemos há dez anos, justamente quando eu realizava a minha primeira mostra individual em um lugar do gênero", emenda.
Sem pensar em um tema específico para a atual série, Trampo criou as obras de forma intuitiva, como em geral costuma produzir, e o título veio de uma característica que impulsiona seu fazer artístico. "Eu sou muito intenso no que faço, mesmo sendo calmo no dia a dia; vou acumulando uma energia, que acredito ser um dos estopins da minha criatividade. E como não tenho ido muito para as ruas pintar, esse acúmulo de ideias, das minhas experiências, do que aprendo observando o meu jardim, os meus amigos, - e, indiretamente, os jovens das oficinas de arte - surge nos desenhos e pinturas desta mostra", explica.
Em meio a tanta informação e intensidade, Trampo conta que, na hora de escolher o que seria exposto, contou com a ajuda do olhar de Marroni e de sua parceira, a artista visual Martina Nickel. "Eles não somente me acolheram e deram liberdade para criar, como me ajudaram muito na curadoria. O olhar deles foi de extrema importância", valoriza.


Facebook
Google
Twitter