Número de profissionais das artes inseridos no mercado de trabalho reduz em 20% no Estado

Registrada pelo Boletim Economia Criativa do Observatorio Itaú Cultural, redução de vagas pode ser reflexo de carência de fomento no segundo trimestre de 2023

Por Adriana Lampert

Profissionais da indústria criativa tiveram de se reinventar durante a pandemia
Enquanto o número de trabalhadores da Cultura aumentou em 2% em todo o País na comparação do primeiro com o segundo trimestre de 2023, no Rio Grande do Sul houve queda de 20% de profissionais do setor (nas áreas artes cênicas, artes visuais, música, museu e patrimônio, cinema, entre outras). Na contramão, o Estado apresentou um cenário promissor no que se refere ao nível de emprego da economia criativa (arquitetura, design, editorial, moda e publicidade, tecnologia, jogos, entre outros segmentos), com um aumento de 4% nos postos de trabalho (o que representa 15,285 vagas. Os dados são do Boletim Economia Criativa do Observatório Itaú Cultural. 
"São números bastante relevantes, principalmente quando comparados com o restante do País, onde a economia criativa ampliou em 3% as vagas preenchidas no setor, com 188 mil novos postos de trabalho em todo o território brasileiro", compara o superintendente do Instituto Itaú Cultural, Jader Rosa. Outro parâmetro apresentado pelo gestor é o número de vagas preenchidas no mercado de trabalho geral do País, que cresceu 1% na comparação entre os dois primeiros trimestres de 2023. "A economia criativa soma 7,358 milhões de trabalhadores em todo o Brasil. Destes, 402,146 mil profissionais são do Rio Grande do Sul."
Ao ressaltar que o Boletim faz um análise de dados sobre economia criativa e indústria cultura, Rosa pondera que não "saberia explicar" o motivo da queda de postos de trabalho nos segmentos artísticos do Estado. "Talvez por conta de uma carência de fomentos, que além de tudo precisam ser descentralizados para cumprir a distribuição de verbas via Lei de Incentivo federal", opina. Já no que se refere ao aumento de trabalhadores da economia criativa gaúcha, Rosa atribui ao crescimento do segmento de tecnologia. "No Rio Grande do Sul, a área de tecnologia cresceu 22% no segundo trimestre de 2023 (frente ao primeiro trimestre). Foi uma ampliação grande, ainda mais comparando com o restante do Brasil onde a tecnologia cresceu 4% no mesmo período."
Segundo os dados do Boletim, esse fenômeno não é de agora, nem se atribui apenas ao Estado: ao longo de 12 meses (entre o segundo trimestre de 2022 e o segundo trimestre de 2023), o único segmento da economia criativa que apresentou crescimento foi o de trabalhadores especializados da tecnologia. O restante dos segmentos apresentou queda no nível de emprego, especialmente os trabalhadores especializados da Cultura, que tiveram queda de 9% no total de ocupados. Este também foi o único segmento com queda no emprego entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, gerando apenas uma manutenção no total de empregos para estes trabalhadores. "Os trabalhadores incorporados foram os que obtiveram o maior crescimento no emprego entre o primeiro e segundo trimestres de 2023 (na faixa de 6%), após queda de 8% no emprego no período anterior", explica Rosa.
Para se ter uma ideia do tamanho do setor, em 2020 o PIB da economia criativa e da indústria cultural representava 3,11% (R$ 280 bilhões) da economia brasileira. "No Rio Grande do Sul, o PIB anual da economia criativa é de R$ 14 bilhões (5% do PIB do setor)", destaca o superintendente do Observatório Itaú Cultural. "Mesmo com pandemia, ambos setores cresceram, mas a área de tecnologia e desenvolvimento de games, de softwares, e de economia da informação se intensificou cada vez mais, por conta da adesão ao meio digital na maioria dos negócios."
Não a toa, os principais setores criativos no Brasil são desenvolvimento de softwares e jogos digitais, seguidos pela tecnologia da informação. "Em terceiro lugar vem a publicidade e em quarto o cinema, rádio e tv", afirma Rosa. No Rio Grande do Sul, a tecnologia da informação lidera o ranking de empresas, seguido por desenvolvimento de softwares e jogos digitais; artesanato e moda.
Na análise de Rosa, o Estado "está cada vez mais intensificando a presença nos setores voltados à tecnologia, o que é bom. No entanto, teria que ter equilíbrio dos demais segmentos", a exemplo das áreas de Cultura "onde os recursos são mais escassos". "Neste sentido, editais e fomentos podem ajudar; criação de políticas públicas são fundamentais principalmente para estes setores, a fim de que possam ter mais sutentabilidade nas ações e perenidade nos seus modos de fazer e expressar", pontua.