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Música

- Publicada em 19 de Outubro de 2023 às 01:25

Entre o saudosismo e a viagem no tempo, Ritchie celebra 40 anos de LP histórico com show na Capital

Ritchie celebra os 40 anos de seu disco mais famoso com show no Teatro do Bourbon Country

Ritchie celebra os 40 anos de seu disco mais famoso com show no Teatro do Bourbon Country


/GAL OPPIDO/DIVULGAÇÃO/JC
Há 40 anos, uma união até certo ponto inusitada entre Brasil e Inglaterra gerava um dos maiores - e mais duradouros - sucessos da música brasileira. Quatro décadas depois de Voo de Coração (1983), álbum que marcou o imaginário do rock nacional nos anos 1980, o cantor e compositor Ritchie celebra esse sucesso com a turnê A vida tem dessas coisas, que chega ao Teatro do Bourbon Country (avenida Túlio de Rose, 80) nesta sexta-feira (20), às 21h, em uma produção que promete mexer com as emoções de quem viveu aqueles dias - e de quem está chegando agora na festa, também. Ingressos, a partir de R$ 115,00, seguem à venda no site Uhuu e na bilheteria do teatro.
Há 40 anos, uma união até certo ponto inusitada entre Brasil e Inglaterra gerava um dos maiores - e mais duradouros - sucessos da música brasileira. Quatro décadas depois de Voo de Coração (1983), álbum que marcou o imaginário do rock nacional nos anos 1980, o cantor e compositor Ritchie celebra esse sucesso com a turnê A vida tem dessas coisas, que chega ao Teatro do Bourbon Country (avenida Túlio de Rose, 80) nesta sexta-feira (20), às 21h, em uma produção que promete mexer com as emoções de quem viveu aqueles dias - e de quem está chegando agora na festa, também. Ingressos, a partir de
R$ 115,00, seguem à venda no site Uhuu e na bilheteria do teatro.
Voo de Coração é, de certa forma, o ponto culminante de uma trajetória pioneira dentro do então incipiente rock brasileiro. Tanto Ritchie (que chegou ao Brasil de férias, em 1972, e nunca mais foi embora) quanto os hoje igualmente famosos Lulu Santos e Lobão surgiram para a música como integrantes da banda de rock progressivo Vímana, que não deixou nenhum álbum completo de estúdio, mas sacudiu a cena brasileira dos anos 1970 - e foi quando Lulu Santos alcançou sucesso nas rádios como artista solo, no começo dos anos 1980, que Ritchie (então pagando as contas como professor de inglês) e Lobão sentiram que também poderiam buscar algo mais na música.
"(Antes disso) a gente tinha colocado na nossa cabeça que jamais ia conseguir tocar no rádio", diz Ritchie, em conversa telefônica com o Jornal do Comércio. "Naquele momento, eu era vizinho de prédio do Lobão, morava nos fundos, e um dia fui pedir uma xícara de açúcar para ele, algo assim", recorda, já começando a rir. "Cheguei na casa do Lobão e tinha um monte de gente. Eu reconheci o Evandro Mesquita, alguns outros que eu conhecia do (grupo de rock) Gang 90, e eles me disseram 'a gente está fazendo uma banda aqui'. Acabou que aquele foi um dos primeiríssimos encontros da Blitz. Eu tinha um Casiotone (teclado icônico dos anos 1980) em casa e também estava tentando escrever minhas músicas, estimulado por esse sucesso do Lulu. Então, aquele prediozinho em São Conrado era uma verdadeira usina do som, foi um momento muito especial de criação."
Contando com a parceria de Bernardo Vilhena para as letras (já que, embora falasse bem o português, ainda não se sentia à vontade para fazer poesia na nova língua), Ritchie preparou um repertório inspirado no new wave vindo de grupos ingleses como Soft Cell e Duran Duran - tudo, claro, com a desenvoltura e perspicácia tão associadas com a malandragem carioca (e, por que não dizer, brasileira). Uma união que deu certo: lançado em um momento de abertura política e efervescência cultural, Voo de Coração tornou-se um fenômeno de vendas que ninguém (muito menos Ritchie) tinha imaginado ser possível. Menina Veneno, música mais tocada nas rádios brasileiras em 1983, teve um compacto com mais de 500 mil exemplares vendidos - números já impressionantes, mas que parecem pequenos diante das 1,2 milhão de cópias de Voo de Coração, um sucesso com raros paralelos na música brasileira, antes ou depois.
"Eu assinei com a CBS com muito pé no chão, continuei dando minhas aulas de inglês", relembra o músico. "Um dia, o Cláudio Condé (então diretor da gravadora), que cuidava de mim lá dentro, ligou para mim dizendo: 'você vai ter que fazer uma escolha agora, cara. Você é um pop star, você não pode ficar dando aula de inglês das 7 da manhã até o meio-dia. A gente precisa de você na Bahia, em Porto Alegre'". A capital gaúcha, aliás, está marcada na trajetória de Ritchie de mais de uma maneira: foi aqui, por exemplo, que ele gravou o videoclipe (à época, um vídeo para ser exibido no Fantástico, da Rede Globo) de Menina Veneno, talvez o mais impactante sucesso de um disco recheado deles.
Resgatar essas histórias todas, para o cantor, é também uma reafirmação da importância daquilo tudo para a história do rock brasileiro - um papel que ficou obscurecido em anos seguintes, em especial a partir do advento da MTV no começo dos anos 1990. Ritchie afastou-se temporariamente dos palcos e, durante algum tempo, dedicou-se à criação e desenho de softwares de áudio. "Ficamos num limbo, porque a gente não era rock o suficiente aos olhares de quem criou a MTV, e não éramos populares o suficiente para esse público que estava mais a fim de ouvir pagode e sertanejo", afirma. "Eu sei que há um sentimento nostálgico, que faz com que as pessoas olhem para os anos 80 meio como um bibelô, uma coisa que não é para ser levada tão a sério, e esse show que estou levando para vocês é para mostrar o contrário, que é para levar os anos 80 a sério, sim. Eu acho que, às vezes, aquele momento é pouco apreciado, e o que fizemos (artistas do começo dos anos 1980) foi um furacão, que mexeu muito comigo e mexeu muito com o Brasil", acentua.
E celebrar essa grandeza vai além de cantar grandes sucessos como A vida tem dessas coisas, Casanova, Menina Veneno e Pelo interfone - embora, é claro, passe por todas essas músicas. Com uma grande produção sonora e visual, a atual turnê mistura o carinho pelo passado com um sentimento à beira do futurismo - afinal, uma viagem no tempo também não deixa de ser um ato de saudosismo. "É um adereço visual que eu nunca tive em meus shows. É um show com hologramas, inteligência artificial, teletransporte, uma estrutura de luz sensacional. Eu surjo no palco meio como um viajante do tempo, aquela coisa steampunk. É uma celebração, mas olhando para a frente. É um show que eu nunca fiz antes, e que eu não sei se vou ter chance de fazer de novo".