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Cultura

artes cênicas

- Publicada em 01 de Junho de 2023 às 00:35

No palco, é chegada a primavera

O Rapto de Perséfone junta dança, música, teatro e poesia em apresentação neste final de semana no Theatro São Pedro

O Rapto de Perséfone junta dança, música, teatro e poesia em apresentação neste final de semana no Theatro São Pedro


/clara albuquerque/divulgação/jc
Em um encontro entre a mitologia e a contemporaneidade, o espetáculo O Rapto de Perséfone leva para o palco do Theatro São Pedro uma apresentação que borra as fronteiras entre dança, música e teatro. A Sphaera Mundi Orquestra, a Companhia Municipal de Dança e o ator Tom Peres dão vida ao mito de Perséfone em uma montagem que mergulha o público em uma jornada sensorial, explorando elementos da visão, audição, olfato e intuição, através da integração entre aromas, luz e imagens. As apresentações acontecem neste sábado, às 20h, e domingo, às 18h. Ingressos, a partir de R$ 30, no site e na bilheteria do teatro.
Em um encontro entre a mitologia e a contemporaneidade, o espetáculo O Rapto de Perséfone leva para o palco do Theatro São Pedro uma apresentação que borra as fronteiras entre dança, música e teatro. A Sphaera Mundi Orquestra, a Companhia Municipal de Dança e o ator Tom Peres dão vida ao mito de Perséfone em uma montagem que mergulha o público em uma jornada sensorial, explorando elementos da visão, audição, olfato e intuição, através da integração entre aromas, luz e imagens. As apresentações acontecem neste sábado, às 20h, e domingo, às 18h. Ingressos, a partir de R$ 30, no site e na bilheteria do teatro.
Escrito em 2019 pelo maestro Márcio Cecconello, o roteiro do espetáculo foi construído a partir da música Vivaldi Recomposed, de Max Richter. Minimalista, a canção traz As Quatro Estações do músico italiano em uma nova composição. Juntando a poesia das notas musicais com a inspiração vinda ao contemplar a escultura O Rapto de Proserpina, de Gian Lorenzo Bernini, Márcio deu luz a uma peça que traz a mistura entre as artes como matéria prima e como produto. "O roteiro é a união do mito de Perséfone com a música de Max Richter e Vivaldi. E o ponto de encontro desses elementos foi a escultura de Lorenzo. Essas coisas todas se juntaram e o roteiro foi sendo encaixado na minha cabeça", explica Márcio.
O mito de Perséfone é uma história que, por muitos séculos, ajudou a humanidade a entender a ciclicidade da vida por meio das colheitas e da passagem das estações. Filha de Zeus com Deméter, Perséfone foi raptada por Plutão, o deus do submundo, para ser sua esposa. Deméter, desesperada, esquece-se de sua função de fertilizar a terra para o seguimento da vida, e, assim, tudo seca e chega o inverno. Quando a mãe descobre que a filha está no subterrâneo com Plutão, Zeus pede que Hermes vá buscá-la e, para ser justo, determina que Perséfone passe metade do ano com Plutão e metade na superfície. Quando Perséfone volta, a primavera chega e tudo floresce.
O espetáculo era para ser encenado em 2020, mas a pandemia não deixou. Agora, como se estivéssemos completamente fora da escuridão que pairou sobre nós nos últimos anos, é a hora de ver Perséfone nos palcos. "É como se os deuses não quisessem que a gente executasse a peça em 2020. A mensagem da história é mais importante, mais pertinente agora do que naquele momento", reflete o roteirista. Marcando o renascimento e renovação que estamos vivenciando enquanto coletividade, o espetáculo se utiliza de diferentes linguagens para passar a sua palavra. Além da canção de Max Richter interpretada pela Sphaera Mundi Orquestra, no palco estarão bailarinos da Companhia Municipal de Dança para ilustrar elementos da música e do roteiro.
"Temos duas perspectivas distintas: os atos que acontecem na superfície e os que acontecem no submundo. Isso serviu de guia para pensar uma criação mais leve e elevada, próxima do balé, para essa parte ensolarada e apolínea da superfície. E algo mais denso, mais terreno, para a parte subterrânea, para o submundo se transfigurar através de gestos", comenta Airton Tomazzoni, que assina a coreografia do espetáculo junto de Maurício Miranda. Além da música e da dança, o ator Tom Peres, que interpreta Hermes, também estará no palco, dividindo espaço com luzes, aromas, imagens e tudo que a direção cênica comandada por Carlota Albuquerque for capaz de trazer.
"Nos inspiramos nos teatros da Grécia antiga, onde público e atores eram totalmente integrados e participavam de uma catarse coletiva. Hoje em dia, os espetáculos se figuram de uma forma que o público fica passivo. Não queremos isso: queremos que o público se sinta um partícipe e todos vivam coletivamente a experiência", diz Márcio. Trazendo a plateia para dentro do renascimento que acontece no palco, o espetáculo busca deixar sementes que floresçam nas vidas do público. "Queremos que o público seja tocado em suas múltiplas capacidades sensitivas. A gente está começando nossa primavera e eu espero que a gente esteja florescendo e gerando frutos que acabem com tanto inverno gélido", reflete Carlota Albuquerque.
Dialogando com a plateia a partir de diversas formas de linguagem, o espetáculo faz um comentário aos tempos de hiperestimulação em que vivemos hoje. Atento aos bombardeios diários de informação, imagens, luz e sons que recebemos atualmente, a peça utiliza essa linguagem a qual estamos acostumados para nos comunicar o que é essencial. "O espetáculo está muito 'multi', e procuramos a medida de não fazer do 'multi' um 'mega'. Não queremos um superestímulo do espectador, queremos provocar sensações com elegância", comenta Isadora Aquini, diretora de criação e coordenação. "Nós trazemos o que está à serviço da arte e buscamos a medida de proporção e coesão dessas partes. Transformamos caos em cosmos", completa.