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Cultura

Música

- Publicada em 07 de Maio de 2023 às 15:41

Em reencontro de Gigantes, Titãs leva rock e diversão a público em Porto Alegre

Para uma plateia lotada, banda apresentou setlist dos anos 1980 e reviveu grandes sucessos

Para uma plateia lotada, banda apresentou setlist dos anos 1980 e reviveu grandes sucessos


ANA TERRA FIRMINO/JC
A chuva que não deu trégua em Porto Alegre, na noite deste sábado (6), e a mudança repentina do local onde inicialmente seria realizado o show da banda de rock Titãs, no Anfiteatro Beira-Rio, para o estacionamento da Fiergs, na zona Norte da Capital, podem até ter desanimado alguns fãs, mas, para quem esteve presente, qualquer possível mágoa com o grupo paulistano ficou para trás no momento em que Paulo Miklos estreou o show com a música que daria o tom geral do espetáculo: Diversão (Nando Reis e Sérgio Britto, 1987), até por que "Diversão é solução sim... A vida até parece uma festa/ Em Certas horas isso é que nos resta".
A chuva que não deu trégua em Porto Alegre, na noite deste sábado (6), e a mudança repentina do local onde inicialmente seria realizado o show da banda de rock Titãs, no Anfiteatro Beira-Rio, para o estacionamento da Fiergs, na zona Norte da Capital, podem até ter desanimado alguns fãs, mas, para quem esteve presente, qualquer possível mágoa com o grupo paulistano ficou para trás no momento em que Paulo Miklos estreou o show com a música que daria o tom geral do espetáculo: Diversão (Nando Reis e Sérgio Britto, 1987), até por que "Diversão é solução sim... A vida até parece uma festa/ Em Certas horas isso é que nos resta".
"Estava todo mundo meio pra baixo por causa da chuva, eles começaram a tocar e levantaram o astral da galera", disse a fã de Passo Fundo, Nathalie Franzoni, ao final do show, quando Miklos puxou o bis Sonífera Ilha (Branco Mello, Marcelo Fromer, Tony Bellotto, Carlos Barmack e Ciro Pessoa, 1984). Ela, que estava acompanhada da irmã, encontrou em Epitáfio (2001), quando a multidão cantou em um coro uníssono, com lanternas acesas, o refrão "O acaso vai me proteger/ enquanto eu andar distraído" o ponto alto da apresentação, porque trouxe à tona as memórias especiais da sua família. 
Aliás, nostalgia e memória afetiva foram sentimentos que não faltaram aos fãs com o setlist composto quase que totalmente por músicas da década de 1980. Muitos estavam revivendo, ali, momentos da adolescência e do início da vida adulta marcados pela trilha sonora de Titãs. Esse foi o caso do administrador Rogério Pinto, da Serra. "Apesar da chuva, decidi vir. Amo muito a banda, é a história da minha adolescência. Cantava para paquerar, mas também para protestar, me marcou demais. Nada me faria perder esse momento", comentou. E parte da diversão do público foi lavar a alma (figura e literalmente por causa da chuva que só parou no final do show) justamente com muito punk rock e protesto dos álbuns "Cabeça  Dinossauro" e "Jesus não tem dentes no País dos Banguelas". "A gente nem sente mais essa chuva, olha a energia", empolgou-se Rogério. 

Todos ao mesmo tempo, cada um a seu modo

Com a formação clássica da banda paulistana dos anos 1980, a turnê Titãs encontro – Todos ao mesmo tempo agora, em referência ao álbum de mesmo nome, de 1991, os integrantes Arnaldo Antunes,  Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Branco Mello, e Tony Bellotto, tiveram a oportunidade de performar cada um a seu modo, o que, inclusive, deixou tudo mais empolgante para o público, por se tratar de diferentes "tipos" em perfeita harmonia e presença de palco. O guitarrista Marcelo Fromer, que faleceu em 2001, foi homenageado com imagens no telão e sua filha, Alice Fromer, convidada pela banda, cantou Toda cor (Marcelo Fromer, Ciro Pessoa e Carlos Barmark, 1984) e Não vou me adaptar (Arnaldo Antunes, 1985), no bloco acústico e "calmaria" do show, que também teve Pra dizer adeus (Nando Reis e Tony Bellotto, 1985). 
Na fase mais punk do show (início e fim), Branco, recuperado recentemente de um câncer na laringe, trouxe ainda mais sentido à música Tô Cansado (Cabeça Dinossauro, 1986), pois com a voz mais rouca e metálica, fez o público entoar alto "Tô Cansado do meu cabelo/ Tô cansado da minha cara/ Tô cansado de coisa vulgar/ Tô cansado de coisa rara/ Tô cansado/ Tô cansado". A música, no entanto, contrastava com a postura disposta do cantor, que agradeceu por estar de volta aos palcos depois do tratamento. "Estou vivo, cantando para vocês", disse em interação com o público porto-alegrense. Ele interpretou, ainda, o grande sucesso Flores (Charles Gavin, Paulo Miklos, Sergio Britto e Tony Bellotto, 1989).
Nando Reis brilhou ao cantar "Marvin/ agora é pra valer/ eu fiz o meu melhor", dizendo que o som fez sucesso especial em Porto Alegre assim que foi lançado. Ele também empolgou a plateia que empunhava as mãos para o alto com o solo do baixo na música final antes do bis, Bichos Escrotos (Arnaldo Antunes, Nando Reis e Sérgio Britto, 1986). Já os brados de Arnaldo Antunes em Lugar nenhum (Arnaldo Antunes, Charles Gavin, Marcelo Fromer, Sérgio Britto e Tony Belloto, 1987), o ritmo de protesto de Sérgio Britto em Desordem (Charles Gavin, Marcelo Fromer e Sérgio Britto, 1987), e o questionamento de Comida (Arnaldo Antunes, Marcelo Frommer e Sergio Britto, 1987): "Você tem fome de quê?", escancararam os problemas sociais do Brasil que, tantos anos depois da formação da banda seguem atuais. Nesse momento, houve um protesto contra o ex-presidente Jair Bolsonaro.

Muito rock (e um pouco de sonho, por favor)!

O setlist completo, com 31 músicas, teve ainda muito rock com Cabeça dinossauro (Arnaldo Antunes, Branco Mello e Paulo Miklos, 1986), Homem primata (Sergio Britto, Marcelo Fromer, Nando Reis e Ciro Pessoa, 1986), Polícia (Tony Bellotto, 1986), Aa uu (Marcelo Fromer e Sérgio Britto, 1986), Igreja (Nando Reis, 1986) e Jesus não tem dentes no país dos banguelas (Marcelo Fromer e Nando Reis, 1987).
O show titânico, mais enérgico do que gentil, no entanto, teve espaço para fazer uma homenagem ao Tremendão (Erasmo Carlos). A banda pediu que todo mundo cantasse alto o 'gigante gentil' ao tocar É preciso Saber Viver (Erasmo Carlos e Roberto Carlos, 1968), lembrando que, apesar de todos os problemas, já tão bem explicitados nas outras faixas cantadas, "Se o bem e o mal existem, você pode escolher."
No bis final, Sonífera llha, Paulo Miklos disse que não entendia bem o porquê dessa música ter sido a primeira a fazer tanto sucesso, mas o público, que gritava ansiosamente pelo show dos "dinossauros", tinha a resposta, afinal, quem não gostaria de descansar os olhos, sossegar a boca e se encher de luz? Estava ali, enfim, uma plateia em êxtase pelo reencontro idílico de uma geração com os Gigantes do rock brasileiro.

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