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Cultura

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- Publicada em 26 de Março de 2023 às 19:34

Teatro Oficina do Multipalco é novo templo para as artes em Porto Alegre

Multipalco inaugura o Teatro Oficina com uma programação artística especial, seguida de temporada do espetáculo 'Esperando Godot', encenado só por mulheres

Multipalco inaugura o Teatro Oficina com uma programação artística especial, seguida de temporada do espetáculo 'Esperando Godot', encenado só por mulheres


JULIO APPEL/DIVULGAÇÃO/JC
Um novo templo para as artes cênicas abre as portas em Porto Alegre nesta segunda-feira. Trata-se do Teatro Oficina do Multipalco Eva Sopher (Riachuelo, 1.089), que até o dia 31 de março abrigará programação artística especial, seguida de temporada do espetáculo Esperando Godot, que ocorre durante todos os finais de semana de abril. A cerimônia de inauguração do espaço acontece às 18h, em evento fechado para convidados, antecedido por uma visita guiada ao complexo cultural. 
Um novo templo para as artes cênicas abre as portas em Porto Alegre nesta segunda-feira. Trata-se do Teatro Oficina do Multipalco Eva Sopher (Riachuelo, 1.089), que até o dia 31 de março abrigará programação artística especial, seguida de temporada do espetáculo Esperando Godot, que ocorre durante todos os finais de semana de abril. A cerimônia de inauguração do espaço acontece às 18h, em evento fechado para convidados, antecedido por uma visita guiada ao complexo cultural. 
Com a finalização das obras financiadas a partir de R$ 7,5 milhões injetados pelo Projeto Avançar na Cultura do governo do Estado, o Multipalco também passa a contar com outras estruturas: um conjunto de camarins, com banheiros e chuveiros, inclusive para pessoas com necessidades especiais; uma sala multiuso para cursos e outras atividades; uma sala de dança e uma sala de circo, ambas destinadas para aulas práticas, ensaios e criação de obras. "Todos os espaços cênicos têm pisos flexíveis - com pequenas borrachas entre o concreto e o assoalho, como se fossem molas", destaca o presidente da Fundação Theatro São Pedro (TSP), Antônio Hohlfeldt.
Com exceção da programação de segunda-feira, o restante das atrações artísticas que celebram o novo espaço está com ingressos à venda no site do Theatro São Pedro. Denominada Festival Teatro Oficina, a série de apresentações contará com o espetáculo Macbeth in Pop: Guerras Urbanas! (às 19h desta terça-feira); Sarau do Solar Especial com recital do pianista de blues Luciano Leães (às 18h de quarta-feira); o lançamento do livro F.A.C.A.S., organizado por Alfredo Aquino, e a vernissage da exposição Fronteira, com fotografias de Elis Vasconcellos (ambos às 18h de quinta-feira); e o show Canciones que Nacen del Camino, com Martim César e Oscar Massita, do Duo Copla Alta (às 19h de quinta-feira).   
Espaço alternativo, com capacidade para 120 espectadores e três diferentes tipos de composições para a plateia, o Teatro Oficina é, ainda, o local onde acontece a estreia da nova peça do diretor Luciano Alabarse, Esperando Godot, encenada somente por mulheres. Clássico de Samuel Becket, o texto é considerado um dos pilares do Teatro do Absurdo e a principal obra do dramaturgo irlandês. "Becket é sempre um desafio, ele é um dos autores essenciais do teatro contemporâneo", avalia Alabarse. "Eu já assisti inúmeras versões desta peça, que, ao meu ver, é uma das mais importantes do século XX; e li várias vezes o texto antes de dar a ela o meu olhar."
Após intensa pesquisa e meses de ensaio, o diretor responsável pela adaptação do espetáculo destaca o valor do time feminino que sobe ao palco. "As atrizes - todas muito experientes - colaboraram com a versão final", afirma Alabarse. Ele comenta que a ideia de realizar a montagem partiu da atriz Sandra Dani, sua amiga pessoal e com quem já trabalhou outras tantas vezes. Além de Sandra (no papel de Estragon), estão em cena as atrizes Janaína Pellizon (Vladimir), Arlete Cunha (Pozzo), Lisiane Medeiros (Lucky) e Valquíria Cardoso (Menino). Dividida em dois atos, a peça que estreia no dia 31 de março e segue em cartaz de sextas a domingos, sempre às 19h, até o dia 30 de abril, já está com ingressos a venda pelo site do TSP, de R$ 20,00 (meia-entrada) a R$ 40,00 (inteira). 
Esperando Godot, como não poderia deixar de ser, acaba sendo a obra mais conhecida de Beckett. Sua estreia aconteceu em Paris, em 1953, mesmo ano do nascimento de Alabarse. "É um prazer trabalhar com um autor que não é fácil, que tem uma carga grande de informação. A gente estudou muito para chegar em um resultado que não seja uma mera repetição de rubricas já dadas", pontua o diretor. "Peguei a liberdade que o próprio autor se deu, quando passou a dirigir suas peças, para fazer inserções cênicas na nossa montagem - que, por sinal, é muito artesanal", revela.
Imersos em uma região desértica, cortada por uma estrada abandonada, os personagens revelam suas necessidades e agonias. Sem acontecimentos relevantes ou perspectivas de mudança, dedicam-se a passar o tempo esperando Godot, que ninguém sabe exatamente quem é, e que adia sucessivamente o encontro. Além da atuação do elenco, que é a principal aposta da direção, a ambientação do espetáculo deve chamar a atenção para um tema cada vez mais atual, que é o estado do planeta após anos de descaso e poluição.
"O cenário é desértico, mas não asséptico. Considerando as águas dos rios e dos mares poluídas, toneladas de lixo tóxico empesteando a natureza, desertos transformados em depósitos de resíduos e detritos, a sujeira que nos cerca está ali presente", resume Alabarse, que assina também a cenografia e pesquisa de trilha sonora do espetáculo. A peça ainda conta com figurinos de Zé Adão Barbosa, assistência de direção e preparação corporal de Ângela Spiazzi, iluminação de Maurício Moura e João Fraga e produção de Jaques Machado.
Rodeados de lixo e vivendo neste deserto, os personagens de Esperando Godot se comunicam com frases curtas, promovem inúmeros momentos de silêncio, e "brincam" com o tempo enquanto esperam uma salvação para suas vidas "infernais". Além deles, a plateia ainda perceberá a "presença" de vozes (analógicas), que, segundo Alabarse, são uma referência às vítimas de genocídios e guerras presentes na história da humanidade. "Tudo neste espetáculo é muito sofisticado, nada é óbvio. É como uma cebola, com muitas camadas, sempre com significados. Mas quando se chega no meio, não há nada. Isso é Becket."