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Cultura

artes cênicas

- Publicada em 12 de Março de 2023 às 18:10

Denise Fraga interpreta histórias da vida real no espetáculo Eu de você

Denise Fraga interpreta histórias da vida real no 
seu espetáculo Eu de você, um dos destaques da segunda etapa do 
Porto Alegre em Cena

Denise Fraga interpreta histórias da vida real no seu espetáculo Eu de você, um dos destaques da segunda etapa do Porto Alegre em Cena


CACA BERNARDES/DIVULGAÇÃO/JC
"Livre." Foi o que respondeu Felipe, quando perguntado como se sentia após ver um ensaio da peça Eu de você, da atriz Denise Fraga. A história de Felipe é uma das que são levadas para cima do palco pela artista, que mistura a vida real, a poesia, a música e a literatura em um monólogo que está de volta à Capital, integrando a programação da nova etapa do Porto Alegre em Cena.
"Livre." Foi o que respondeu Felipe, quando perguntado como se sentia após ver um ensaio da peça Eu de você, da atriz Denise Fraga. A história de Felipe é uma das que são levadas para cima do palco pela artista, que mistura a vida real, a poesia, a música e a literatura em um monólogo que está de volta à Capital, integrando a programação da nova etapa do Porto Alegre em Cena.
Eu de você foi idealizada e criada por Denise Fraga, pelo produtor José Maria e pelo diretor Luiz Villaça e chega ao palco do Salão de Atos da Pucrs (avenida Ipiranga, 6.681) nesta quinta e sexta-feira. A obra estreou em Porto Alegre em 2019 e volta à cidade na turnê que celebra os 35 anos da atriz.
A peça nasceu da vontade de Denise de contar histórias da vida real, de costurar o cotidiano à arte, de "olhar com os olhos do outro, trilhar o que o outro trilhou, vestir os seus sapatos", como explica a própria atriz. Eu de você permite ao público ser atravessado pela vida do outro. É um exercício de se enxergar em outras pessoas, outras dores, outras alegrias - porque, afinal, somos as pontes que construímos entre cada um de nós.
Mais de 300 cartas enviadas à artista foram a matéria-prima da peça. Nelas, as pessoas contam suas histórias, que, nas mãos de Denise, se tornaram arte. Se debruçando sobre as palavras dos remetentes e grifando as partes que mais a tocavam, Denise e uma dezena de criadores foram tecendo aquela colcha de retalhos. "Eu pego histórias simples de algumas pessoas e embrulho num papel de presente da poesia, da música, então devolvo ao público essas histórias sob o holofote da arte", reflete a artista.
Apesar de ser um monólogo, a atriz nunca fica sozinha no palco: traz consigo todas aquelas centenas de histórias, ao mesmo tempo em que faz o público se sentir na cena também, ao se identificar com aquelas vidas. "É como se ninguém passasse impune, todo mundo é tocado. Essas histórias trazem o que nos une", comenta.
Quando a arte nos expõe dores e sentimentos que achamos afetava só a nós mesmos, nos sentimos menos sozinhos. No monólogo da nossa subjetividade, é bom que sintamos que há algo maior que nos conecta. Quando ouvimos aquela música do Chico ou lemos aquele poema do Drummond, nós temos o conforto de saber que outra pessoa já sentiu o mesmo que nós. "Quem lê Dostoievski e Fernando Pessoa, sofre mais bonito. Porque sofre com a cumplicidade dos poetas, sofre acompanhado da arte", diz a atriz. "Uma das pulsões da arte é superar as solidões que são comuns a todos nós".
Livre é a forma como Denise Fraga quer que todo mundo se sinta ao assistir à peça. Livres do exílio da dor, livres da solidão conjunta, livres do ordinário do dia a dia. "A vida não pode ser isso aqui — uma parede, copo, caneta. A vida é maior que isso. A arte existe para livrar a gente da mediocridade dos dias, a vida cotidiana é uma prisão", reflete. Ao nos enxergarmos no palco e no outro, percebemos que a vida nos tece com a mesma linha e que ela é maior do que nossos olhos alcançam.
A emoção de se perceber como parte do todo tem, também, o tamanho do todo. "Eu não sabia se eu ria ou se eu chorava" é o que a atriz, segundo ela, mais escuta quando a peça termina. E é o que a faz se sentir satisfeita: levar o público ao extremo das emoções em questão de segundos.
Quando Denise diz que ninguém sai impune, ela se refere também a ela mesma. Voltando à cidade de estreia depois de quatro anos da primeira apresentação, a artista diz que a obra, assim como a vida, foi fortificada pelas experiências. "A peça foi muito potencializada pelo que a gente viveu", pondera. "Essa peça é um marco na minha trajetória. Talvez seja a mais importante da minha vida". E, num jogo de palavras que diz muito, Denise Fraga finaliza: "daqui pra frente toda peça que eu fizer vai ganhar de mim o Eu de você."