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Artes cênicas

- Publicada em 31 de Janeiro de 2023 às 18:16

Confronto entre corpo apático e mente inquieta está no coração do espetáculo 'Inércia'

Monólogo do ator, diretor e pesquisador Ricardo Zigomático, Inércia leva ao público uma série de experimentos sobre viver com depressão e TDAH adulto

Monólogo do ator, diretor e pesquisador Ricardo Zigomático, Inércia leva ao público uma série de experimentos sobre viver com depressão e TDAH adulto


Débora Curti/Divulgação/JC
Adriana Lampert
Talvez um dos maiores desafios na hora de se tratar um quadro de depressão seja o estado apático - quando a pessoa não tem vontade de fazer quase nada. Mas e se, ao contrário do corpo que se entrega, a mente funcionar de forma inquieta como acontece com adultos com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)? Esse contraste é um dos motes do espetáculo performático Inércia, encenado pelo ator, diretor e pesquisador Ricardo Zigomático. Ele estreia seu primeiro monólogo às 20h30min desta quarta-feira, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mário Quintana (Rua dos Andradas, 736). A peça integra a programação do 24º Porto Verão Alegre e terá outra sessão no mesmo local e no mesmo horário, na quinta-feira.
Talvez um dos maiores desafios na hora de se tratar um quadro de depressão seja o estado apático - quando a pessoa não tem vontade de fazer quase nada. Mas e se, ao contrário do corpo que se entrega, a mente funcionar de forma inquieta como acontece com adultos com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH)? Esse contraste é um dos motes do espetáculo performático Inércia, encenado pelo ator, diretor e pesquisador Ricardo Zigomático. Ele estreia seu primeiro monólogo às 20h30min desta quarta-feira, na Sala Carlos Carvalho da Casa de Cultura Mário Quintana (Rua dos Andradas, 736). A peça integra a programação do 24º Porto Verão Alegre e terá outra sessão no mesmo local e no mesmo horário, na quinta-feira.
"O texto não toca neste assunto, mas passa a experiência do que é ter uma crise de depressão, de uma pessoa que não consegue levantar, que só consegue existir pensando", resume o artista. "Uma vez que o TDHA provoca uma agitação dentro da cabeça, então esta pessoa que está depressiva também convive com um monte de coisas acontecendo na mente: verborragia, diversas imagens. Na peça, é como se o público pudesse acessar este cérebro".
Zigomático se utilizou de escritas próprias (reunidas desde 2015) e de outras pessoas, como seu avô, Ênnio Mércio, e o poeta Guilherme Mayer, amigo seu de longa data. "Fazia tempo que eu queria realizar este trabalho, e vi no Porto Verão Alegre a oportunidade de apresentar no festival - que está integrando várias linguagens - a minha pesquisa atual, de mídias e tecnologias dentro do teatro, que estou desenvolvendo com o grupo G.R.I.P.E, do Departamento de Artes Dramáticas da Ufrgs, sob a orientação do professor Chico Machado", comenta.
Antes deste primeiro monólogo presencial, ele já havia realizado um trabalho solo, para o meio virtual. Denominada Manual Definitivo do Web Teatro (2020), a peça em formato de aula abordava com humor e ironia as estratégias e técnicas sobre a criação de uma obra para a internet. Em Inércia, além de mostrar ao público como é viver com depressão e TDAH adulto, Zigomático também expõe, no palco, todo o cansaço da sociedade de consumo e a prostração "que nos mantém em movimento mesmo estando parados". Deitado dentro de um alçapão de um carrinho que serve como um mini palco, o ator trabalha também com a questão da contenção corporal. 
De dentro do alçapão em que permanece, Zigomático utiliza um celular, um teclado compacto (para criar e tocar a voz e a trilha sonora) e um mini projetor. "Além de projetar imagens no meu rosto, também projeto a imagem do meu rosto na parte de cima do carrinho", explica. Através de um aplicativo de acessibilidade para deficientes visuais, ele regula o tom de voz para dar o texto pelo celular. A iluminação também fica por conta dele, que aparece primeiro de costas para o público, e, aos poucos, vai se voltando para a plateia. "Esse carrinho que serve como mini palco vai girando. Na parte de cima, fica uma televisão de tubo e outra de led projetando outras partes do corpo, além do meu rosto", explica o artista.
A brincadeira em relação à inércia e ao movimento contínuo, típico de uma rotina imposta por diversas situações atreladas ao capitalismo, explicita o desgaste de "sermos obrigados a estar sempre produzindo" algo. Somando 15 anos de carreira, Zigomático assina a concepção, a performance, a direção, a dramaturgia, a iluminação, o figurino e o cenário deste seu primeiro espetáculo solo. Também a produção é dele, em parceria com Ursula Collischonn e Chico Machado.
A realização desta montagem é do Teatro Sarcáustico (grupo que o artista integra desde 2008) e do G.R.I.P.E. Este último é um núcleo que pesquisa processos de criação em artes cênicas, a partir de questões técnicas dos espetáculos, e também a insubordinação entre os textos cênicos. "Entendemos que a dramaturgia também está na luz, na atuação e no cenário, elementos que se relacionam de forma não hierárquica, com o mesmo peso dentro da obra", explica.
Zigomático conta que sempre se interessou pelas questões técnicas do espetáculo como gatilho para processos de criação. Antes da atual pesquisa, que mistura arte sonora e artes cênicas, com a utilização de objetos que possam criar dramaturgia, ele já havia realizado algumas experiências em espetáculos anteriores - atuando em A Última Peça (dirigida por Gabriela Poester) e dirigindo o espetáculo Milhões Contra Um, ambas montagens também encenadas nesta edição do Porto Verão Alegre. "Eu entendo teatro como um espaço de criação junto com o público. No entanto, em Inércia a interação é mais com as sombras que são criadas; neste caso, a plateia acabou ficando bem mais passiva. O que eu queria neste trabalho era realmente proporcionar uma experiência mais visual sobre o que é este corpo com depressão, o que é uma crise, este peso."
 
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